Artesanato com fibras da Amazônia resgata força e riqueza da floresta
Carol Scolforo
Colaboração para Nossa
15/06/2021 04h00
A maior riqueza da Amazônia é a biodiversidade — mas isso é o que se vê. Silenciosamente há algo valioso que anda em paralelo, quando falamos de quem vive ali: a persistência, apesar de todas as dificuldades e a invisibilidade de estar a 180 quilômetros de Manaus (Amazonas).
Há 27 anos surgia a Associação de Artesãos de Novo Airão, hoje um grupo de 22 artesãos representado nesta reportagem por Johainy Belém de Souza.
"Quando os fundadores da associação chegaram à cidade em meados de 1980 trouxeram a técnica do trançado da fibra", conta. Entre eles estava a avó de seu marido, Dona Percília, 79, que, se ficar sem tecer, adoece. Um belo exemplo de dedicação e talento para o grupo.
A ideia inicial era estimular o artesanato com fibras vegetais para gerar renda à população da bacia do Rio Negro. Logo, mulheres que teciam fibras como o arumã, cipó, ambé e palha de tucumã se organizaram em 1996 para formalizar a associação. Conseguiram atrair mais gente, mas havia uma questão.
"Algumas tinham vergonha de vender as peças por conta de comentários em tom pejorativo de que a atividade seria 'coisa de índio'", conta Johainy, que acredita que o fortalecimento da associação passou a valorizar os trabalhos diante das novas gerações. Atualmente eles fazem parte da Artesol, ONG que valoriza o artesanato brasileiro.
Tudo vem da natureza
O trabalho leva muitas etapas e precisa mesmo de muitas mãos para ganhar agilidade. Começa com a preparação das fibras da arumã — planta que cresce em locais alagados, na beira dos rios e igarapés e possui talos que podem alcançar muitos metros de altura.
Depois de colhidas, lavadas e raspadas, elas recebem o tingimento avermelhado e preto, com tintas extraídas da natureza, como da goiaba-de-anta, do urucum e do ingá xixica. As talas são cortadas em fibras menores e trançadas pelas artesãs — há cerca de 50 tramas diferentes, na técnica da etnia indígena Baré, do Alto Rio Negro, fundadora da associação.
Esteiras (chamadas de tupés), cestos, balaios, bolsas, chapéus, luminárias e cadeiras revestidas de fibra diariamente resultam desse processo totalmente manual em desenhos únicos. Leva tempo para que isso chegue às casas das pessoas: uma esteira de 2,50 metros pode exigir duas semanas. "Uma esteira de 5 metros ficou pronta em 15 dias, um tempo recorde", conta Johainy.
Força da floresta
"Os artesãos se inspiram nos animais das matas, com criações sempre muito ligadas a suas próprias experiências e realidades", conta. E se a persistência é uma riqueza, os sonhos é que movem a rotina.
"Todos têm o desejo de ter sua arte elogiada, reconhecida e valorizada dentro e fora da comunidade. Mas sonhamos com uma grande reforma da nossa sede, que precisa de melhorias para que os processos de nossa arte sejam melhorados", conta.
“Gosto muito do trabalho deles, que é parecido com o nosso, mas com manejo da fibra da piaçava. As peças deles sempre foram muito desejadas pelos turistas.” “A associação Nov’arte também é aqui de Novo Airão e tem um trabalho muito bonito e importante para a natureza, pois faz peças maravilhosas com pequenos restos de madeira.”
@s que me inspiram
@nacib_am
@novartenovoairao