50 anos do Playcenter: qual tipo de frequentador do parque era você?
"Geração nutella não sabe o que é excursão de escola"; "o lugar mais feliz de São Paulo"; "esse parque deixou um vazio na cidade".
Nem precisa voltar muito no tempo para encontrar uma lista infinita de mensagens nostálgicas de antigos frequentadores de um dos endereços mais lembrados da capital paulista.
Em uma época em que parques temáticos dos Estados Unidos eram uma realidade para poucos brasileiros, o Playcenter foi, por anos, sinônimo de entretenimento no país.
O parque começou a carreira em um terreno de 5 mil m² em frente ao Ginásio do Ibirapuera, em 1971. Com ingressos a 1 dólar por brinquedo, o Playcenter funcionava 24 horas por dia para atender à alta demanda de público e se orgulhava de abrigar a primeira montanha-russa de metal do Brasil.
Dois anos mais tarde seria reinaugurado "no meio da nada", em uma área de 85 mil m², próxima à ponte do Limão, na Marginal Tietê.
Em quase 40 anos de existência, abrigou atrações de sucesso como o boneco King Kong, inaugurado pela própria protagonista do filme homônimo, Jessica Lange; a boneca EVA, em que o visitante fazia uma "viagem fantástica ao corpo humano"; e shows como o do palhaço Bozo que reuniu 30 mil pessoas.
E desde que as portas do parque foram fechadas pela última vez, em 2012, a pergunta que mais se escuta é "quando vai abrir de novo?", seguido da hashtag #voltaplaycenter.
"O Brasil é um país difícil para empreendimentos que dependam de importação, não há brinquedos similares nacionais", explica o fundador Marcelo Gutglas, em uma rara aparição pública, em live gravada no ano passado.
Para os saudosistas, o grupo inaugurou em 2018 o Playcenter Family em um shopping da Zone Leste, considerado o primeiro parque de diversão indoor em São Paulo.
Ao longo de sua história, o parque estima ter recebido 60 milhões de visitantes, aproximadamente, de todo o Brasil e até de países vizinhos.
E para cada um deles tinha uma atração diferente. Qual frequentador do Playcenter era você?
A saudosista
Alessandra Maia
46 anos
Como toda criança dos anos 80, Alessandra também esperava com ansiedade o dia da excursão da escola para o Playcenter. Mas não só uma, mas duas vezes por ano.
Filha de uma professora, ela tinha o privilégio de ir duas vezes durante a infância, pois acompanhava a mãe que dava aulas em outra escola que também organizava passeios ao parque.
Em 2007, sem saber que estava grávida, foi pela última vez nos brinquedos mais radicais do parque e, quatro anos depois, faria sua última visita já com o filho pequeno.
"Um dia me deu os cinco minutos e decidi voltar. Eu precisava ir para matar saudades e mostrar para ele antes que tudo aquilo acabasse", conta Alessandra, que chegou a se decepcionar na época com o parque já em tamanho reduzido, "do tamanho de um estacionamento".
"Foi uma sensação de saudosismo, passou um flashback na cabeça. Eu já sabia que não ia ter mais aquilo", lembra a ex-frequentadora.
O baladeiro
Ítalo Camargo
38 anos
Para esse frequentador desde os 12 anos, o Playcenter tinha o que ele mais gostava: entretenimento e festas.
Mais do que dos brinquedos, Ítalo tem saudades dos eventos organizados no parque, como as festas patrocinadas por emissoras de rádio da época.
"As festas aconteciam até de madrugada e o parque montava umas tendas eletrônicas. Fui várias vezes com meus irmãos mais velhos. Era divertimento em família", conta Ítalo, que esteve também em uma das primeiras raves realizadas no Playcenter.
Outra lembrança é a participação na primeira edição do "Gay Day", em 1999, quando a sigla LGBTQIA+ se resumia a GLS.
"Tudo era diversão, mas eu estava em um lugar onde me sentia confortável de ser o que eu era, sem ser julgado por ninguém", descreve, em referência à experiência nesse evento temático anual.
Na infância, porém, quando o passeio era cancelado por condições climáticas, por exemplo, ele chegava a ficar com febre.
Morava em um lugar que não dava pra brincar na rua, então eu ficava ansioso para o dia da excursão e contava os dias para ir ao Playcenter", lembra Ítalo.
A medrosa
Shirlei Biscaro
53 anos
"Eu amava o Playcenter, mas só gostava de ir nos brinquedos mais goiabinhas", conta essa terapeuta floral que frequentou o parque desde 1982.
Shirlei só se divertia mesmo nas atrações sem emoção, como o Bicho da Seda, o Teleférico e a Montanha Encantada, um circuito aquático em que o visitante circulava por salões temáticos, em barcos em forma de tronco.
O Carrossel eu também gostava, mas ficava com vergonha de ir. Então eu acabava indo nos brinquedos com mais velocidade para não sofrer bullying dos amigos", brinca.
Como morava em Sorocaba, no interior de São Paulo, Shirlei conta que o dia era muito esperado, pois o passeio ao parque era combinado com patinação no gelo em um shopping da capital, seguido de lanche na rede de fast food mais famosa da época.
"O que prejudicava depois era ter que ir com a calça molhada para o Playcenter", lembra Shirlei.
O colecionador
Caio Kowaleska
28 anos
"O Playcenter tinha brinquedos únicos no Brasil. Era emocionante ver a cidade lá de cima", conta esse frequentador que chegou até a encabeçar um abaixo-assinado, em 2007, para a volta da atração "La Bamba", disco giratório que chacoalhava os visitantes de um lado para o outro.
Caio era não só fã de carteirinha, literalmente, como também chegou a trabalhar para o parque, aos 16 anos. De tanto aparecer em eventos, foi convidado para cuidar do blog de uma atração terceirizada, o "Castelo dos Horrores" e, mais tarde, entrou para a equipe de marketing do parque.
Seu maior orgulho porém é a coleção que guarda até hoje com produtos relacionados ao parque, como o Play Vip que lhe dava acesso ilimitado, produtos personalizados como canecas e chaveiros, e até um pequeno pedaço do concreto do canal de água do brinquedo Splash, uma espécie de montanha-russa aquática.
"Quanto tinha excursão de escola, eu colocava a autorização dos meus pais na porta da geladeira, um mês antes, e todo dia ficava olhando para ela. Eu nem conseguia dormir na noite anterior e até deixava separada a roupa que eu ia usar".
Bruxa de Patins
Leandro Naiss
33 anos
- "Você patina?", foi a inusitada pergunta que lhe fizeram em uma entrevista de emprego, cuja resposta positiva garantiu a Leandro seu primeiro trabalho profissional.
Frequentador do parque desde criança, esse ator e bailarino do ABC trabalhou em uma das edições do clássico "Noites do Terror", aos 20 anos, quando interpretou a personagem Maryetty Spears Taty N, uma bruxa que se locomovia com patins.
Inaugurado em 1988, o evento Noites do Terror durou mais de duas décadas e recebeu mais de 12 milhões de visitantes.
"Eu recebia muita cantada e sempre pediam meu número de telefone. Quando eu respondia com a voz grossa, gritavam 'é traveco'", lembra rindo.
Mas ele se recorda também com saudades dos fãs que chegavam a acompanhá-lo durante todo o evento ou o esperavam na saída do parque.
"Quando trabalhei lá já não tinha aquele deslumbre da infância, mas eu gostava de estar nos bastidores e conhecer diversos artistas", conta.
"[O Noites do Terror] Tinha todo um glamour porque passava propaganda na TV e eu não via a hora de ir para a 5ª série para poder ir no evento", conta sobre sua experiência ainda na infância.
Feito para casar
Pedro Sidnei Fideles
47 anos
Desde a adolescência, esse gerente de loja sonhava em trabalhar no Playcenter. Não só conseguiu como também conheceu sua futura esposa na fila de uma das atrações.
"Como operador dos brinquedos, a gente se sentia um astro, éramos como um DJ que agitava os visitantes", conta Pedro, funcionário do Playcenter desde 1993 e que já operou atrações como o La Bamba e a barca Viking.
Em 1995, ele e outro operador se interessaram por duas garotas que costumavam frequentar o parque porque tinham um passaporte anual. Seis meses depois daquelas paqueras sem compromisso, os quatro resolveram sair juntos.
Curiosamente, 5 anos depois, Pedro se casaria com uma delas e o colega de trabalho se casou com a prima dela. Ambos casais estão juntos até hoje.
A persistente
Karina Nazzari
40 anos
Essa paulistana fazia de tudo para ir ao Playcenter, e para garantir seu ingresso até dançou lambada a noite toda em um concurso em um acampamento escolar que prometia ao casal vencedor entradas para o parque.
"Na minha infância, era o lugar que eu queria ir, mas meus pais não deixavam", conta.
E desde que conseguiu convencê-los pela primeira vez, não parou mais.
"Aos 7 anos, era para realizar meu sonho de consumo, depois para socializar com os amigos da escola e, na adolescência, ir ao Playcenter virou sinônimo de azaração para conhecer os meninos das outras salas", lembra Karina, que chegava a combinar com as amigas, antecipadamente, até o lugar onde iam se sentar no ônibus da excursão.
"Era aquele momento da gente se divertir sem ter os pais por perto. Eu estava com meu dinheiro, meus amigos e minhas vontades. E tinha a parte da paquera, né?", completa.
Era tanta vontade de voltar que ela chegava a cabular aula para pegar carona na excursão do Playcenter de outra escola.
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