Primeira casa de Gaudí em Barcelona vira hospedagem - mas apenas por um dia

Adentrando as casas do arquiteto Antoni Gaudí (1852-1926) em Barcelona, o visitante se sente na pele de Alice do outro lado do espelho. Em meio a esse universo mágico, repleto de ferros retorcidos, mosaicos loucamente coloridos e formas insólitas, fica difícil imaginar que obras como a La Pedrera ou a Casa Batlló foram concebidas como moradias.

Pensando nisso, os proprietários da primeira residência erguida pelo autor da Sagrada Família receberão dois hóspedes durante uma única noite no próximo outono europeu. Através de uma colaboração com o Airbnb, a Casa Vicens estará disponível para aluguel na plataforma em outubro (ainda sem data definida) a um preço simbólico de 1 euro (cerca de R$ 5,99).

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"A ideia é que essas pessoas consigam sentir como era viver ali", diz Emili Masferrer, diretor da Casa Vicens, que funciona como museu. O primeiro a se inscrever, leva. Basta cumprir os requisitos: ser maior de idade e contar com um histórico de comentários positivos em seu perfil no Airbnb.

Pessoas de todo o mundo podem se candidatar, desde que não haja impedimento para viajar a Barcelona devido às restrições impostas pela pandemia. Pelos mesmos motivos, os dois felizardos precisam fazer parte da mesma "bolha" de convivência. Os pedidos de reserva poderão ser feitos a partir de 12 de julho pelo link airbnb.com/gaudi.

"É uma oportunidade única que não vai se repetir em um futuro próximo", diz Emili, que servirá de anfitrião para os hóspedes, não apenas no sentido que a plataforma dá a essa palavra (ou seja, o dono do perfil que aluga o imóvel).

Experiência única

Um dos idealizadores do projeto que converteu a residência em museu em 2017, ele comandará um tour intimista de boas-vindas, revelando os segredos do edifício e os desafios do processo de restauração, que durou mais de três anos. "A casa tem 136 anos e, na maior parte do tempo, esteve fechada ao público, funcionando como residência até 2013. Desde então, ninguém mais passou a noite em seu interior", conta Masferrer. "Os hóspedes dormirão no quarto principal, usando esse cômodo exatamente para aquilo que ele foi desenhado".

Durante a noite que passarão entre as paredes pensadas por Gaudí, os hóspedes terão acesso a todos os ambientes.

O mais particular dessa experiência é que essas pessoas terão a oportunidade de ver a casa nos horários em que ela nunca está aberta ao público, especialmente durante a noite", diz o anfitrião.

"Gaudí desenhou o quarto principal de forma que seus moradores conseguissem ver o amanhecer deitados na cama. Então, o momento mais especial e único que os visitantes poderão presenciar será o nascer do sol".

Tomar um drinque no jardim à noite também será algo muito peculiar. Pontilhado de palmeiras, o paisagismo foi pensado como um oásis no deserto, em referência à clara inspiração árabe da arquitetura do edifício.

Joia arquitetônica

Localizada em uma rua estreita do bairro de Gràcia, a 1,5 quilômetro da famosa La Pedrera, a primeira casa projetada por Gaudí foi construída entre 1883 e 1885 por encomenda do corretor de câmbio e operador da bolsa Manuel Vicens i Montaner (1836-1895). Foi ali, aos 31 anos, que o jovem arquiteto catalão iniciou o movimento que revolucionaria o skyline de Barcelona.

Ao projetar o edifício, criou formas geométricas complexas, com um rico jogo de luzes e sombras e uma combinação inusitada de cores e texturas. Incorporando alguns elementos da arquitetura tradicional catalã, mas já se distanciando dela, a casa é considerada uma das primeiras grandes obras modernistas da cidade.

O que torna o edifício tão especial é sua grande variedade de referências. Nas obras posteriores de Gaudí, encontramos estilos muito definitivos e marcados. Já na Casa Vicens, há elementos das arquiteturas catalã, árabe e japonesa, com um resultado genial conseguido a partir de uma mistura improvável", diz Emili.

Segundo ele, as cores estão entre os componentes mais importantes da Casa Vicens. "Em outras obras de Gaudí, como a Sagrada Família, a pedra natural está muito presente, enquanto aqui temos muitas cores aplicadas, o que é um diferencial".

Depois de servir como residência de veraneio da família Vicens, a casa mudou de proprietários em 1899 e, mais tarde, foi ampliada e dividida em alguns apartamentos, até ser comprada pelo banco MoraBanc, do Principado de Andorra. Passando de mão em mão, o edifício sofreu muitas alterações. "Durante a restauração, tivemos como objetivo devolver a casa ao seu aspecto original", conta Masferrer.

Funcionando como museu, a Casa Vicens não tem móveis. Para receber os dois ilustres hóspedes, no entanto, será parcialmente decorada. "Para essa ocasião, buscamos o mesmo tipo mobiliário que havia nessa época, mas com os confortos de hoje em dia", conta o anfitrião.

Casa Vicens, em Barcelona

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Casa Vicens

Divulgação/Airbnb

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As maravilhas do mundo atual também aparecerão na forma de um jantar concebido pela escola de hotelaria Hofmann de Barcelona, que pilota o restaurante homônimo, premiado com uma estrela Michelin, além da Patisseria Hofmann, que faz um dos croissants mais venerados e premiados da cidade e será a estrela do café da manhã, incluído na diária.