Cachorro correr atrás do próprio rabo pode ser sinal de doença. Como evitar
Se você é do time que se diverte na internet com vídeos de cãezinhos correndo atrás do próprio rabo, saiba que pode estar rindo do sofrimento de animais emocionalmente doentes.
Trata-se de um distúrbio de comportamento chamado compulsão e perseguir o rabo, andar de um lado a outro no mesmo trajeto ou em círculos, lamber repetidamente a pata ou latir em excesso são os principais "sintomas".
Mas, muita calma se você já teve uma leve taquicardia ao ler o parágrafo anterior. É que todos os cães podem apresentar esses comportamentos uma vez ou outra e serem psicologicamente saudáveis. O problema está em fazê-los muitas vezes ao dia, a ponto de interferir na rotina do animal, como explica Daniela Ramos, veterinária comportamentalista do Psicovet.
"Às vezes, ele está comendo e no meio da alimentação faz o comportamento repetitivo. Ou está brincando e interrompe para correr atrás do rabo", descreve.
Outra questão a ser observada, de acordo com a veterinária comportamental da Seres/Petz, Katia De Martino, é quando há mutilação. "A partir do momento que começam a morder a cauda, tirar os pelos, aí sim é um problema de compulsão e começa a causar injúria na saúde desse animal. Caso aconteça algumas vezes, já está indicando sinais de falha no bem-estar e é preciso procurar ajuda o quanto antes", diz.
Investigação e até remédio
A recomendação da especialista é que o tutor procure ajuda de um veterinário e que investigue o problema. "Após uma investigação, se comprovado que esse animal não tem nenhum problema físico e se for mesmo uma compulsão, que o tutor deve se comprometer com a terapia e parar de brigar com o cão.
Gritar, jogar água ou qualquer coisa mais agressiva e que envolva o confronto é péssimo para esse tipo de problema. O animal precisa de tranquilidade para que a terapia funcione", afirma.
O tratamento, segundo a comportamentalista, está baseado em três pilares: alterações no ambiente, técnicas de treinamento e medicação, se necessário.
"No caso das compulsões, medicações geralmente são necessárias porque há influências internas, provavelmente alterações no cérebro em nível dos neurotransmissores. Se a gente não acerta isso, não teremos sucesso só com manejo ambiental e modificação comportamental", diz Daniela.
Kátia afirma, no entanto, que se o caso for "mais tranquilo" não há necessidade de tratamento com medicamentos. "Então serão treinos, estímulos mental e físico para que sejam fornecidas as necessidades da espécie e que o cão tenha o que fazer para que esse comportamento vá diminuindo automaticamente."
Bicho quer ser bicho
Katia explica que a partir do momento em que os tutores impedem os comportamentos naturais da espécie canina como farejar, perseguir, caçar, destrinchar, morder e correr, abrem-se as portas para problemas comportamentais. Além disso, a profissional aponta que abrigados em espaços cada vez menores, os pets são impedidos de realizar as atividades mencionadas.
O veterinário Frederico Fontanelli Vaz, coordenador da Faculdade Anhanguera, reforça a ideia de que a principal causa do comportamento de perseguir o próprio rabo é a falta de estímulos e gasto energético, problemas frequentes em cães que ficam muito tempo sozinhos em casa sem distrações ou atividade física.
Além disso, os cães podem correr atrás da cauda para chamar a atenção do tutor, que geralmente nota a ação e reage a gargalhadas ou repreende o animal, fornecendo um reforço positivo ou negativo, respectivamente. Por isso, sempre que o cão quiser brincar ou chamar atenção, repetirá o comportamento", diz.
Nestes casos, como "tratamento" o tutor deve fornecer atividade física diária como jogar bolas e brinquedos, fazer caminhadas e oferecer desafios ao cãozinho como esconder alimentos em caixas com orifícios ou brinquedos recheáveis.
"Assim, o animal gasta energia, se distrai e essas atividades ficam mais interessantes do que correr atrás do próprio rabo. Quando o animal exercer o comportamento, o tutor deve mostrar indiferença e não dar atenção, até mesmo saindo do local. Assim, o animal não fará mais com a intenção de chamar atenção", recomenda o especialista.
Comportamento de todas as idades
Vaz também afirma que cães idosos podem ter uma diminuição da consciência e começarem a perseguir o rabo e até mordê-lo. Isso porque, com uma acuidade mental diminuída, esses cães podem se engajar em comportamentos repetitivos e, nesse caso, manifestarem distúrbios cognitivos.
Já os filhotes, que estão descobrindo o próprio corpo, também podem manifestar essa ação confundindo a própria cauda com um brinquedo. Mas, neste caso, de acordo com o veterinário, não é preciso preocupar-se já que se trata de uma fase temporária.
Mais causas
Não é só comportamento anormal que pode causar essa perseguição ao próprio rabo. Segundo Elidia Zotelli, veterinária com atuação em neurologia rede PetCare e Hospital Veterinário da Universidade Santo Amaro, o problema pode ser mais simples: uma infestação por pulgas e carrapatos.
Para detectar este problema, o tutor deve verificar evidências na pele: pequenas manchas marrom-escuras a pretas na pelagem, lesões causadas por lambedura excessiva.
Ao mesmo tempo, correr atrás do rabo pode ser sinal de quadros bem mais graves, como convulsões, doenças neurológicas hereditárias, fraturas na cauda, lesões na coluna, dores intensas na região da cauda e coluna e infecções.
Por isso é sempre indicada uma avaliação clínica veterinária, recomenda. "Se o seu cão está perseguindo o próprio rabo, é importante agir logo porque se houver um problema médico subjacente, ele pode ser facilmente tratado antes de se tornar uma resposta condicionada."
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