Jaqueta com animal print é minha escolha quando quero parecer forte
Na metade do ano passado, mais ou menos na mesma época que a Beyoncé lançou o filme musical "Black is King", ganhei um presente muito especial de um dos meus seguidores: uma bomber de oncinha que, para mim, representa força, ancestralidade e negritude. Considero quase um manto.
Esse seguidor sempre me dá muito apoio. Quando me separei, ele também me deu um presente, uma poltrona. Fui casado por cinco anos e meu ex-marido ficou com a maioria dos móveis. Quando vim morar sozinho em uma quitinete na favela Americanópolis, não tinha nem cama.
Aí, um tempo depois, ele me disse que havia comprado um vale presente para mim em uma marca chamada Iya Iya Tereza. Ela tinha uma loja no centro, mas, por causa da pandemia, a dona estava só com o ateliê em casa, que ficava no extremo da Zona Leste de São Paulo. Peguei ônibus e metrô e fui em busca da minha peça.
Eu ainda não sabia o que queria, só que teria que ser algo com animal print. É que, depois do lançamento da Beyoncé, uma historiadora fez uma crítica dizendo que a cantora precisava parar de achar que só oncinha era representação de África. Eu, como fã da Beyoncé, fiquei irritado.
A comunidade preta do Brasil inteiro também se incomodou. É que, na África, estampas de animais simbolizam força, luxo e fartura. Eles são sagrados. Não é uma ostentação, é uma cultura mesmo.
Então eu sabia que queria algo de animal print por essa representatividade — falo muito sobre negritude e ancestralidade nas minhas redes".
Quando cheguei, vi que se tratava de uma empreendedora negra e de favela. Isso tornou o presente ainda mais especial. Esse seguidor é branco e escolheu uma loja de mulher preta para me dar o vale, uma bandeira que eu levanto muito. O empreendedorismo de quebrada deve ser valorizado, e esse seguidor teve esse carinho.
Em geral, ela faz roupas por encomendas, mas essa blusa estava lá, pronta. Não só era de animal print, como misturava várias estampas. Tem onça, leopardo, zebra, tem tudo. Fiquei apaixonado e falei "mano, é essa!".
Desde então, ela é minha escolha quando quero parecer forte, acho que dá uma certa imponência. Além de me trazer sorte. Em reuniões para fechar um negócio, por exemplo, é ela a escolhida, fico muito mais confiante. Sempre que visto a peça, me sinto um rei, uma sumidade. É uma peça poderosa!
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