Por que um trecho de voo pode ser mais caro do que a passagem ida e volta?
Quem já tentou comprar uma passagem aérea apenas de ida para algum lugar já deve ter percebido que os valores podem ser um pouco maiores do que se comprada junto com a volta. Esse fenômeno é comum em diversas empresas e em vários países, e nem sempre pode ter a ver com os custos reais da viagem.
São situações nas quais apenas um dos trechos pode custar até 80% do valor da passagem ida e volta. Mas, o que está por trás dessa formação do preço das passagens?
Embora alguns voos entre duas cidades (seja a ida ou a volta) realmente tenham um custo maior para a empresa, isso não reflete a maioria das situações.
"Pode haver escalas em um dos trechos, mas, em outro, o voo é direto, por exemplo. Junto a isso, também existem voos que têm durações diferentes na ida e na volta, como é o caso de São Paulo a Paris, cuja ida dura 11 horas e a volta é de 12 horas, aproximadamente", diz Annibal Hetem, professor do curso de engenharia aeroespacial da UFABC (Universidade Federal do ABC).
Entretanto, na maioria das situações, a diferença reflete mais uma política de formação de preços da empresa do que o custo para a aérea em si, destaca o professor.
Descontos altos
A reportagem de Nossa monitorou os valores de passagens em vários trechos nacionais e internacionais realizados por diversas empresas durante o período de um mês, e observou grandes diferenças nos valores entre os trechos simples ou compostos de ida e volta. Em quase todos os casos, comprar a passagem de ida e volta junto saiu mais barato do que adquirir cada trecho individualmente.
Uma passagem entre São Paulo e Paris (França) para o meio do mês de junho chegava a custar R$ 3.800 apenas a ida. Na mesma data, o bilhete de ida comprado junto com volta marcada para após uma semana custava cerca de R$ 5.000.
Em uma situação mais inusitada, pesquisando o mesmo voo, mas faltando cinco dias para a decolagem, a ida e volta custaria R$ 3.050, menos que o trecho de ida se este fosse comprado separado.
A explicação para essa situação, segundo Hatem, é um conjunto de fatores combinados. "A empresa não quer que você vá para o seu destino com ela e volte com outra companhia. Para tirar o passageiro de uma empresa concorrente na volta, uma estratégia é a aérea te dar um desconto no voo de retorno", diz o professor, destacando que o operador do voo nunca terá prejuízo com essa estratégia.
Junto a isso, a empresa aérea tende a oferecer outras vantagens em conjunto com a compra da passagem. Entre elas, pontos em programas de milhagens, acesso a lounges de embarque exclusivos, premiações etc.
Oscilações constantes
A variação constante dos valores das passagens também reflete nas diferenças dos valores encontrados. "Os preços, hoje, são extremamente voláteis. O tempo inteiro as companhias aéreas estão monitorando como está o comportamento de compra dos consumidores", diz Maria Helena Costa Lima, professora do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS.
Assim, as empresas conseguem definir qual a estratégia mais adequada ao seu plano de negócios. "Em tempos normais, sem pandemia, isso seria muito fácil de prever, por exemplo, qual seria o volume de passageiros que irão viajar nas férias de julhos, por exemplo. Esse ano, sequer férias regulares os colégios vão ter", diz Maria Helena.
Ainda segundo a professora, esse valor mais baixo na passagem da volta costuma ocorrer devido à ociosidade do voo de retorno. Quanto menos assentos vendidos, mais a chance de o bilhete ter mais descontos que em um voo no sentido contrário.
No Brasil, rotas entre capitais cujos bilhetes tinham um grande desconto se comprados ida e volta deixaram de ter uma diferença tão grande durante a pandemia. Os valores das passagens de ida e volta não apresentavam diferenças superiores a 10% em relação ao valor dos bilhetes de cada trecho isolado caso fossem adquiridos isoladamente.
Isso se deve, segundo as fontes ouvidas por Nossa, ao fato de que o mercado não está aquecido. Com isso, a busca é baixa, e um menor valor já vem sendo oferecido em todas as passagens, sejam elas adquiridas em conjunto ou não.
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