Cinegrafista "radical" conta como é viajar por lugares de tirar o fôlego
O cinegrafista e fotógrafo paulista Hugo Valente (@hugovalenteoficial) tem o que é, para muitas pessoas, um dos trabalhos mais legais do mundo: ele é pago para viajar pelo planeta para fazer imagens de praias paradisíacas, ondas perfeitas e esportes radicais.
"Já fiz travessia de kitesurfe entre o Ceará e o Maranhão, filmei a pororoca no Brasil e documentei o mundo do surfe no Havaí, Califórnia e África do Sul", conta Hugo, que trabalha para o Canal OFF há quase 10 anos. "Também já gravei na Indonésia e nas cachoeiras da região de Extrema, em Minas Gerais".
As missões de conseguir imagens são quase sempre extremamente imersivas.
Certa vez, Hugo viajou para a Etiópia e passou nada menos do que 50 dias circulando por lá, para um programa gravado com Milla Monteiro.
Na jornada, registrou a riquíssima cultura e a enorme variedade de paisagens naturais do país africano: ele se embrenhou no Vale do Omo para interagir com tribos que vivem na região, explorou as igrejas ancestrais de Lalibela e visitou Shashamene, cidade que abriga uma comunidade de seguidores do rastafarianismo.
Também passou outros 50 dias na África acompanhando dois campeões mundiais de kitesurfe: nesta missão, pôde registrar as atividades dos dois esportistas no belíssimo mar que banha o arquipélago de Cabo Verde.
E, no Brasil, remamos de caiaque por 150 quilômetros para chegar a uma aldeia indígena do Xingu, no meio do nada. Acampamos durante o trajeto e passamos três dias dormindo nas ocas, convivendo com os indígenas e aprendendo sobre sua cultura. Foi fantástico", conta.
Muita diversão e esforço
Programas que mostram atividades no mar (como surfe e o kitesurfe) estão entre os principais atrativos do OFF. E é na água que Hugo se sente em seu habitat.
Gosto muito de estar em atividades aquáticas e do contato com o mar. São ocasiões em que me sinto muito à vontade", afirma ele.
O paulista, porém, diz que um dos trabalhos mais legais que já realizou foi em terra, mais precisamente no Salar de Uyuni, a surreal planície de sal boliviana localizada a mais de 3.500 metros de altitude.
Lá, ele acompanhou o atleta cadeirante Fernando Fernandes durante um percurso de 200 quilômetros realizado com um triciclo movido com a força dos braços.
"Nesta viagem, pude acampar no meio do Salar e ver uma transição inesquecível entre o pôr do sol e o aparecimento da lua, tudo no meio de um deserto de sal. Foi uma experiência de contato muito forte com a natureza".
E outra experiência especial que Hugo vivenciou ocorreu no Havaí, quando ele foi até um vulcão para filmar uma erupção. "Só sentindo de perto para realmente entender o poder daquela força da natureza", diz.
Estas viagens incríveis, entretanto, também requerem preparo, esforço e paciência.
Para começar, Hugo viaja constantemente com uma enorme quantidade de equipamentos, que pode incluir câmeras fotográficas e de filmagens, diferentes opções de lentes, drone, caixa estanque (para proteger câmeras da água), microfones para eventuais entrevistas e vários HDs, para guardar as imagens feitas no dia a dia.
É uma guerrilha. A gente sai com todo tipo de equipamento para estar pronto para qualquer coisa", afirma.
Os dias de labuta, por sua vez, costumam ser longos para captar muitas e belas imagens.
"A gente sempre tem que buscar as melhores luzes, que ocorrem geralmente de manhã e no fim da tarde. Então, o trabalho começa bem cedo, às vezes antes de o sol nascer, e vai até o final do dia. E, quando volto para o hotel à noite, tenho que limpar os equipamentos, colocar as baterias para carregar, descarregar os cartões de memória e fazer o backup de todo o material.
Chego a trabalhar 16 horas por dia".
E as imagens registradas ao longo do dia, vale ressaltar, são tratadas como ouro.
"Costumo fazer o backup do backup em diferentes HDs, para não haver risco de perder o material", relata ele. "E, quando viajo com equipe, os HDs nunca ficam todos comigo. Cada um deles sempre está com pessoas diferentes, para evitar perdas totais".
E, para Hugo, não existem limites na tentativa de conseguir os melhores ângulos para suas filmagens e fotos: com um equipamento à prova d'água, ele já ficou submerso no mar para registrar os movimentos de uma surfista desde o fundo da água e já pegou um jet ski para se aproximar das ondas formadas pela pororoca e filmar os surfistas que estavam ali praticando seu esporte.
Também já gravou em cima de um snowboard, enquanto descia uma encosta nevada de Aspen, nos Estados Unidos.
E, para fotografar e filmar as paisagens da Depressão de Danakil, na Etiópia, teve que contar com escolta armada: a área, que fica na zona da fronteira do território etíope com a Eritreia, tem fama de ser uma terra sem lei, exibindo um histórico de violência contra turistas. Em 2012, cinco viajantes europeus foram assassinados por lá.
Imagem perdida, mas tudo vale a pena
Perrengues podem surgir entre os lindos momentos que Hugo tem em seu trabalho.
"Durante filmagens no mar de Cabo Verde, tomei uma onda na cabeça. Bati no fundo do mar e acabei perdendo meu equipamento [avaliado em R$ 35 mil]. Foi um perrengue, pois tive que nadar muito para sair da água", lembra.
Já na Depressão de Danakil, ele caminhou por oito horas até chegar a um vulcão que existe nesta região da Etiópia. Seu objetivo era filmar uma erupção que estava ocorrendo naquele momento. Mas as coisas não deram certo.
"Não conseguimos ver nada no vulcão, pois a área estava coberta por uma camada de fumaça muito baixa. Acampamos lá para esperar a visibilidade melhorar. Amanheceu, mas não deu para fazer quase nada.
O pior é que tivemos que encarar outras oito horas de caminhada para ir embora dali, sem as imagens que eu estava buscando".
Porém, mesmo com eventuais dificuldades, Hugo não perde o amor pelo seu trabalho.
"Conseguir uma imagem boa faz tudo valer a pena", diz ele.
E mais objetivos grandiosos etão nos seus planos. "Quero filmar a aurora boreal na Islândia e as ondas do Taiti", afirma.
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