Chapéu de feltro do meu avô foi presente para que ele sempre estivesse vivo
Meu avô sempre foi uma pessoa muito simples, mas se vestia impecavelmente, pois minha avó cuidava de seu guarda-roupa. Ele adorava jogar baralho e contar piada. Por ser caminhoneiro, tinha histórias muito interessantes e divertidas de suas viagens pelo Brasil. Ainda me lembro com carinho dessas histórias que ele contava quando reunia a família.
Nessas ocasiões, em geral fim de semana, ele se arrumava e vestia um acessório inconfundível: um chapéu de feltro preto, da Pralana — antiga Prada, marca brasileira centenária e uma das mais clássicas no ramo de chapéus. Em Uberaba, onde ele morava e onde nasci, é bem comum as pessoas usarem chapéus. Mas o dele era sem dúvidas o mais especial.
Eu sempre admirei muito o acessório, até que, quando eu tinha uns 15 anos, vovô me deu de presente. Ele estava com quase 70 anos.
Quando me deu o chapéu, disse que sempre que eu o usasse iria me lembrar dele e ficar mais próximo mesmo estando longe. Não podia estar mais certo".
Quando fiquei um pouco mais velho, passei a usá-lo com frequência, especialmente para trabalhar. Gosto de apostar nesse estilo clássico ou retrô, mas também de brincar com algo mais despojado. Já usei com terno completo e com calça jeans, camisa, gravata e bota. É um clássico atemporal.
Vovô viveu por mais uns 10 anos anos depois de me dar o chapéu de presente. Quando eu estava com uns 25 anos, estava em uma festa de noite usando o chapéu. Meu avô estava internado. Recebi uma ligação do meu pai me contando que ele havia acabado de falecer. Tirei o chapéu em respeito à dolorosa coincidência. Lá se ia meu querido vovô.
Desde então, tenho o maior cuidado com o chapéu. É como se meu avô estivesse ainda vivo toda vez que eu visto a peça. Não empresto para ninguém, é um xodó, então me vejo usando até meus 70, 80 anos. Quem sabe, então, passe para um neto, para dar continuidade à história de vovô.
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