Com carona e estadias grátis, ela viajou 2 anos pela América Latina
A brasileira Kami Queiroz (@sosmochileiras) viu na estrada um refúgio depois de uma demissão inesperada em 2017. Foi aí que os planos de viajar por muito tempo entraram em prática e ela começou uma jornada que duraria quase dois anos pela América Latina.
Por praticar montanhismo há muitos anos, os planos iniciais eram ir para Nova Zelândia, estudar e ainda explorar as belezas naturais do país. Mas além de ser caro, Kami começou a analisar que era possível conhecer lugares tão lindos quanto os das terras neozelandesas e mudou de ideia. Ela decidiu iniciar seu roteiro na patagônia austral, no "extremo sul do mundo".
Para chegar até o destino, ela saiu de Bonito, no Mato Grosso do Sul, seguiu para Curitiba, Foz Iguaçu e de lá pegou um ônibus para Buenos Aires, na Argentina.
Foram 24 horas na estrada. Eu não sou uma viajante de avião, gosto de pegar carona e andar de ônibus", afirma.
Idas e voltas
O início de todo o trajeto começou na Argentina e depois seguiu para a Patagônia Austral, onde ficou quase seis meses. Depois de rápido retorno ao Brasil, seguiu para Santiago, capital chilena. E, para sua surpresa, ela foi presenteada por pessoas do montanhismo com uma passagem para o México, onde começaria uma viagem no modo econômico e com muitas histórias.
Eu dei uma invertida no mapa. Subi pelo lado direito e desci pelo esquerdo. E foi assim a viagem", afirma.
Para baratear ainda mais os custos, Kami conta que investia em caronas, couchsurfing e trabalhos voluntários. Segundo ela, todas essas economias permitiram que ela gastasse apenas 32 mil reais em quase dois anos de viagem pelos lugares.
Montanhas são o foco
Kami pratica montanhismo profissional há sete anos e por isso escolhe viagens que permitam ter uma experiência na natureza e com práticas de imersão.
E ela escolheu justamente a Patagônia devido à conexão com o esporte ao ar livre. "Eu não vou para Bariloche. Eu vou para Ushuaia, El Chaltén. São cidades que dão acesso às montanhas", afirma. Ela também inclui no roteiro lugares com vulcões, trilhas e muita natureza.
E para não passar nenhum tipo de situação inesperada, ela carrega equipamentos próprios, além de barracas, caso precise dormir na estrada.
Eu não vou viajar para um museu apenas ou fotografar em cidades. Eu vou para fotografar no mato e já fiquei até oito dias sem banho acampando na natureza".
Durante o período na estrada, foram nove vulcões para a conta. E uma das maiores surpresas ocorreu no Acatenango Fuego, na Guatemala. A brasileira subiu sozinha e ainda dormiu por três noites no local, o que é muito raro, de acordo com a viajante. "Quase ninguém fica lá em cima", conta.
Um dia depois que deixou o local, um grande susto: o vulcão entrou em erupção e atingiu o povoado próximo.
Carona nas estradas
Desde o Brasil, ela já era adepta a caronas para viajar pelo país. Porém, isso era feito com o aplicativo BlaBLaCar, muito usado por viajantes pelo mundo. Mas como em alguns lugares o app não funcionava, ela recorria ao modo tradicional: acenando com o polegar.
Embora estivesse sozinha, ela conta que nunca presenciou uma situação de perigo e que, geralmente, ia muito do "feeling" para entrar nos veículos das pessoas. Isso incluía caminhão, carro e tudo que era possível ir de um lugar a outro.
Nas cidades pequenas é mais comum e como eu ia para as montanhas já pegava uma caroninha. E depois não queria saber de pagar mais ônibus e viciei na carona. Queria ouvir histórias e conversando", relembra.
Uma vez, ao pegar carona com um senhor que ia visitar a filha em Buenos Aires, ela chegou a dividir o quarto com ele, já que o motorista iria dormir em uma cidade antes de seguir viagem. Kami não encarou como algo arriscado, e sim, como uma ajuda por parte do homem.
"Ele me convidou para dormir no hotel que ele ia ficar e pediu para trocar a cama de casal por duas de solteiro. Ele queria me ajudar e eu aceitei. Então posso falar que já dormi com um estranho", lembra rindo.
Ela não romantiza os perigos da estrada, porque, de fato, eles existem. Mas ressalta que cada viajante sente o que pode ou não colocá-lo em perigo em determinadas situações. "Você não vai pegar carona no Rio de Janeiro ou em São Paulo, por exemplo. Como falei, é muito do sentir. Se você vai com medo, atrai medo".
"Não falo mais espanhol"
Como não falava inglês, a viajante disse que Belize foi um dos maiores sufocos durante a viagem. Ela conta que eles tinham um sotaque bem difícil de entender e a comunicação era extremamente complicada. "Eu cheguei à noite ali e não entendia muita coisa. Eu não sabia nada mesmo", conta.
Por sorte, ela teve ajuda de uma viajante alemã, que auxiliava algumas vezes na comunicação enquanto esteve nas belas praias do país. Aos poucos, ela tentava pegar informações de como ir ao mercado, sair e passear.
O mesmo ocorreu em Cuba. Ela conta que sabia falar espanhol (ou achava que sabia) até chegar à ilha caribenha.
Eu pensava: pronto, não falo mais espanhol não", brinca.
Próximos passos serão dentro do Brasil
Como boa entusiasta dos esportes de aventura, a viajante pretende investir em um turismo "regenerativo" e visitar os lugares que permitem ver as montanhas na Serra da Mantiqueira e ainda com conscientização.
Para isso, ela viajará sozinha de moto pelo Vale do Paraíba. "Vou mostrar a cidades que dão acesso às montanhas e fazer um 'montanhismo' mais consciente", diz.
Segundo a viajante, as pessoas estão procurando cada vez mais lugares afastados e inóspitos para viajar, mas ao mesmo tempo ocorre o aumento da sujeira e degradação dessas áreas. A ideia é percorrer alguns lugares, gravar vídeos e ter uma imersão com os locais.
Em conjunto com o seu projeto, outras engenheiras ambientais mostrarão para a comunidade como trabalhar e aproveitar o espaço das montanhas. "Vamos trazer a consciência para as pessoas que estão destruindo a natureza", conclui.
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