Casal brasileiro e seus dois filhos pequenos atravessam os EUA de trailer
Trabalho remoto, crianças tendo aulas em casa, a maior pandemia dos últimos 100 anos e um desejo antigo de cruzar os Estados Unidos de carro. A blogueira de viagem Marina Vidigal (@ideiasnamala), e o engenheiro Gustavo Brandileone resolveram colocar essa equação à prova e levaram a família para viajar da Califórnia (onde vivem) à Flórida, ida e volta, a bordo de um trailer.
Marina e Gustavo sempre viajaram com os filhos (Tom, 5 anos, e Caio, 3), mas eram geralmente escapadas curtas de final de semana, ou viagens que coubessem nas duas ou três semanas de férias regulares do casal por ano.
Para a fórmula funcionar em uma viagem tão longa, de costa a costa dos EUA, e garantindo o isolamento e a segurança da família toda, eles adaptaram o roteiro dos sonhos e eliminaram, por exemplo, todas as visitas a lugares que não seguissem um protocolo legal contra a covid-19.
Destinos mais propensos a eventuais nevascas foram limados também.
O mais legal é que muitos dos lugares que visitamos e não estavam na nossa lista dos sonhos original acabaram virando 'queridinhos'", garante o casal.
Isolamento na estrada
O trailer da família, comprado no final de 2019, foi a casa dos quatro durante toda a aventura que, curiosamente, só foi possível graças ao isolamento social necessário durante a pandemia. "Além da falta de flexibilidade do trabalho do Gustavo em situações normais, sempre tínhamos também a questão escolar dos meninos dentre os empecilhos para viagens desse tipo", conta Marina.
Foram 10 semanas atravessando os EUA de costa a costa, passando por destinos em dez estados diferentes. Para garantir a eficiência do trabalho remoto durante todo esse tempo, escolheram áreas urbanas como destinos principais de segunda a sexta-feira (para terem mais facilidade de conexão à internet), deixando os deslocamentos, parques nacionais e destinos mais remotos para os finais de semana.
"Fiz muitos passeios ao ar livre com os meninos durante a semana, mas sempre perto da cidade", conta a blogueira.
Compraram uma antena, dois planos de conexão remota e dois modems de duas operadoras diferentes. Assim garantiram autossuficiência em conexão à internet de boa qualidade durante os dias úteis e o trabalho remoto seguiu funcionando sem percalços durante toda a viagem.
O ensino à distância das crianças também foi preparado com antecedência e seguido à risca, principalmente para que o filho mais velho, Tom, não ficasse para trás no cronograma de alfabetização em sua escola. Marina mudou seu jeito de trabalhar também: das 5h30 da manhã até os meninos acordarem.
De costa a costa
A viagem da família Vidigal Brandileone atravessou os estados da Califórnia, Arizona, Novo México, Texas, Oklahoma, Mississipi, Arkansas, Tennessee, Louisiana e Flórida. Uma das premissas principais na hora de definir o roteiro ida e volta da Califórnia à Flórida, feito no inverno americano, era evitar neve para que a viagem transcorresse de maneira segura.
Destinos como Nashville, Huntsville, Destin e New Orleans eram prioritários. Huntsville, no Alabama, foi escolhida pela paixão do filho mais velho por foguetes. Mas o casal conta que não abriu mão de nenhum passeio ou visita por causa dos pequenos:
Aqui nos EUA é tudo muito adaptável para as famílias. Como quase ninguém conta com ajuda externa na criação dos pequenos, tudo é mais flexível nesse sentido", explica Marina.
Foram mais de 8 mil quilômetros rodados ao longo da viagem, incluindo trechos da lendária Rota 66, o icônico "triângulo da música" (Memphis, Nashville e New Orleans) e belas praias da Flórida.
Marina e Gustavo optaram por não definir com antecedência a maioria das atrações turísticas a serem visitadas, para que pudessem acompanhar a situação da pandemia em cada destino, conforme se aproximassem deles, e fazer escolhas mais seguras para a família.
Reservar os campings para estacionar a casa sobre rodas, justamente numa época em que a maioria dos americanos resolveu viajar assim devido às restrições trazidas pela pandemia, foi um desafio. Mas o intenso planejamento prévio funcionou bem e eles respeitaram quase 100% do roteiro inicial. "Saímos para viajar com todas as reservas já feitas, e somente duas vezes mudamos de plano no meio do caminho", garante Marina.
Ainda assim, vez ou outra aconteceram perrengues, é claro. Num dos dias, a família dormiu com um dos modems de Internet ligado por engano e consumiu 100% de um dos planos de dados contratados em um único dia do mês.
Sem nevasca, com internet
Em outro dia, o aquecedor do trailer parou de funcionar de uma hora para a outra, no auge do inverno. Não passaram frio porque felizmente também levaram um aquecedor pequeno portátil; mas perderam um dia inteiro consertando o equipamento quebrado.
Para Gustavo, trabalhar todos os dias dentro de um motorhome de 13 metros quadrados não foi fácil. Dada a diferença de fuso horário em alguns momentos da viagem, em alguns dias terminava reuniões somente às 11 da noite, com os filhos já irritados e querendo dormir.
Mas o casal se concentra nos bons momentos da experiência: "Concluímos a viagem sem nevasca, com internet funcionando o tempo todo, sem pneu furado", brincam. Lamentam apenas não ter podido "fazer amizades na estrada" desta vez, devido ao isolamento necessário durante a pandemia.
E dizem que não fariam nada diferente — exceto buscar mais espaço. Por isso mesmo, trocaram o trailer por um modelo maior e já estão planejando as próximas aventuras da família na estrada.
Melhores destinos para crianças nos EUA
Marina e Gustavo sempre viajaram com os filhos e garantem que os meninos estão bem acostumados a longas horas de estrada. "Mas criamos sempre uma pequena rotina e tentamos segui-la ao máximo. No caso dessa viagem, tentamos encarar como "vida nômade" e não como 'viagem', e deu certo", explica Marina.
Estratégias importantes, segundo eles, são praticar o minimalismo na hora de montar a mala, levando o mínimo possível de roupas e brinquedos, e visitar poucos lugares, passando mais tempo em cada um deles. Para não enfadar as crianças, tentaram passar no máximo 3h por dia na estrada, com bons intervalos de dias sem estrada entre eles.
O casal também recomenda criar sempre dois planos para cada viagem, para que adaptações a mau tempo e eventuais perrengues sejam mais simples. "Com um plano B, se algo der errado, você consegue se virar", garantem.
Marina considera o estado todo da Califórnia, onde a família mora, perfeito para aproveitar em viagens em família, com ou sem motorhome. Mas a blogueira destaca aqui também destinos em outros estados americanos que recomenda para para curtir com crianças:
- Sedona: natureza e sossego por toda parte, além de muita história sobre tribos nativas na vizinha Flagstaff;
- Santa Fe: possui incríveis parques em seus arredores, acesso a tribos nativas e o belo Bandelier National Monument;
- Oklahoma City: na opinião de Marina, possui os melhores playgrounds dos EUA, fartos e espalhados por toda parte. Os parques Scissortail Park e Myriad Bothanical Gardens também são imperdíveis;
- Nashville: a cidade dos cowboys tem um belo jardim botânico e muita música ao vivo com crianças sempre bem-vindas;
- Huntsville: a bela cidade possui também um centro espacial que é perfeito para um passeio em família;
- Destin, Seaside e Panama City: Marina adora o estado da Flórida em geral para viajar com crianças pelos muitos atrativos naturais e belas praias. E dá destaque especial a essas três cidades e às Springs próximas a Orlando. Destin possui também o que o casal considera o melhor camping para motorhomes que já conheceram nos EUA, o Topsail Preserve, com acesso direto à praia. "Existe uma Flórida incrível que vai bem além da Disney", dizem;
- Houston: possui o imperdível museu da NASA e excelentes parques;
- White Sands National Park: belo parque nacional de areias brancas extremamente fotogênicas e muito divertidas para as crianças;
- Tucson: cidade interessante, rodeada por natureza desértica e os icônicos Cactos Saguaro.
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