Como é feita a boina francesa? Grife de 190 anos revela seus bastidores

Oloron-Sainte-Marie, uma cidadezinha na região dos Pirenéus, na França, se mantém como a casa do beret — ou a clássica boina francesa, como é conhecida por aqui.

É lá que são fabricados os produtos da Maison Laulhère, ateliê que mantém a tradição de criar suas peças com técnica e conhecimento, o know how, ou savoir-faire, como dizem os franceses, preservados ao longo dos tempos e transmitidos através de gerações desde 1840, ano de criação de suas primeiras boinas.

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Símbolo da França

Muito mais que apenas um acessório para a cabeça, a boina de lã virou um ícone da moda francesa. No entanto, apesar de ter se tornado um símbolo associado ao estilo de vida do país, especialmente dos parisienses, não há uma data precisa e nem um crédito exato para sua invenção.

Sua produção comercial começou no século 17, exatamente na área de Oloron-Sainte-Marie, e os modelos eram todos tricotados à mão. O cabillou, ou aquele rabinho que encontramos no topo das boinas era formado pela ponta das fibras. No século 19, quando máquinas foram introduzidas a esse processo, ele se tornou dispensável, porém continuaram sendo acrescentados, pois sem eles, a boina não seria uma verdadeira boina.

O acessório marcou o french style de diversas épocas. Na Paris dos anos 20, ele conquistou artistas e escritores, sendo visto em Edith Piaf e Ernest Hemingway.

Nos anos 1930, foi introduzido às coleções de Coco Chanel. Pablo Picasso também costumava ser visto usando boinas e até pintou um quadro intitulado "Femme au Béret et à la Robbe Quadrillée" (Mulher com boina e vestido xadrez), em 1937, retratando uma mulher com boina vermelha.

Estrelas do cinema como Brigitte Bardot e Catherine Deneuve renovaram a peça como item de moda nos anos 60 e ela aparecia inclusive em looks no tapete vermelho do Festival de Cinema de Cannes.

Trazendo para datas mais recentes, o mundo fashion viu o uso das boinas explodir no street style com a coleção de Outono/Inverno 2017 da Dior.

Em 2020, a peça foi a estrela do figurino da série "Emily em Paris", da Netflix, e viu suas buscas aumentarem 41%, segundo a Lyst, plataforma de pesquisa de mercado na moda.

Savoir- Faire x Fast Fashion

Das primeiras boinas produzidas pela Laulhère, lá em 1840, para os dias atuais, muita coisa mudou. Assim como outras peças na moda, o acessório passou a ser produzido em larga escala e a ser comercializado em redes de fast fashion, com preços e qualidade muito mais baixos que os modelos produzidos por ateliês.

"A Laulhère mistura materiais nobres com habilidade e conhecimento que foram transmitidos por gerações há mais de 180 anos", destaca Rosabelle Forzy, CEO da marca. Além dos materiais nobres, cada peça da Laulhère requer dois dias de trabalho e passa pela mão de doze pessoas.

É claro que essa qualidade tem um preço, mas a maison se mantém firme em suas raízes e seus processos. Rosabelle Forzy diz que a Laulhère nunca vai falar sobre realocação, afirmando que a boina e Oloron são uma dupla inseparável:

Nós protegemos nossos processos artesanais, modernizando e industrializando-os em sua região de origem".

Chique, funcional e unissex, a boina tradicional da Laulhère, conhecida como Le Veritable (A verdadeira, em português) custa 75 Euros (em torno de R$ 487) e pode ser encontrada em 15 cores diferentes no e-commerce ou na boutique da Maison, que fica na rue Faubourg Saint-Honoré, endereço que abriga diversas lojas de luxo, como a Hermès e a Givenchy, e também a residência oficial do presidente da República Francesa, o Palácio do Eliseu.

Savoir-Faire: o passo a passo da confecção da boina

Materiais de alta qualidade selecionados à mão por uma equipe especializada fazem parte do processo específico da produção de uma boina da Maison Laulhère.

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A base da boina é feita de lã extraída de ovelhas Merino, tida como uma das mais nobres. Essa malha passa por uma etapa que consiste em fechar suas bordas para criar o formato circular do acessório.

Laulhère/Divulgação

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Logo após, a base vai para a feltragem, onde ela é passada em água morna com sabão, um processo que cria um feltro a partir de suas fibras, esticando suas costuras e tornando a boina macia.

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Graças às propriedades únicas da lã merino, cujas fibras são cobertas por escamas microscópicas, a boina fica mais densa enquanto seu diâmetro se torna menor. O tecido engrossa e ganha resistência à água. Esta etapa consiste em obter o alongamento e a resistência corretas para a peça.

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A boina de lã natural e de coloração off-white vai para o tingimento. A empresa faz seus próprios corantes, obtidos por meio de pigmentos misturados por seus tintureiros, o que lhe permite oferecer uma ampla cartela de cores para o consumidor.

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Além da composição do corante (que, segundo a Laulhère é uma fórmula ultrassecreta), o resultado depende de outras variáveis que devem ser ajustadas, como a qualidade do fio e da água, a temperatura e a duração da imersão.

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Após sair do banho de tintura, a boina segue para a etapa de modelagem. Lá, dois semicírculos de madeira são colocados dentro do acessório, lhe conferindo sua forma definitiva depois de seca.

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Feita a modelagem, a boina passa por uma operação semelhante a uma raspagem em uma máquina, onde a fibra é levantada para lhe dar volume, mas com cuidado para não cortá-la.

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Saindo das máquinas, as boinas voltam para o acabamento manual, onde passam uma a uma por uma espécie de tosquia para garantir uma superfície perfeitamente homogênea, aspecto aveludado e um toque sedoso à lã. Na sequência, o acessório passa por um tratamento a vapor que dá o aspecto volumoso à lã.

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Boinas prontinhas para seguir para a etapa de acabamento.

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O acessório recebe o forro, que no caso da Laulhère é geralmente feito de cetim.

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Uma faixa de couro é costurada na parte interna da peça. É ela que vai determinar o tamanho da circunferência da cabeça, ou o tamanho daquela boina.

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Mais um detalhe dos acabamentos das boinas tradicionais: a bouffette, um laço colorido costurado na parte de trás do acessório.

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Antes de ir para a embalagem e receber o selo de aprovação para sua venda, a boina passa por verificações finais, pois mesmo sendo revisada a cada etapa de sua produção, ainda pode haver pequenas partículas presas nas fibras da lã, que são removidas com uma pinça.

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O toque final do acabamento é feito com uma escova de fibra vegetal para garantir que ela esteja impecável tanto na aparência quanto no toque.

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Agora sim, a boina está pronta para ser embalada e seguir seu caminho para a loja ou e-commerce da Laulhère.

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Toda essa técnica e conhecimento fez a marca se tornar Entreprise du Patrimoine Vivant em 2013, um reconhecimento que o governo francês oferece para premiar empresas do país pela excelência de suas habilidades tradicionais e industriais. Confira abaixo os bastidores da confecção de uma boina. Deslize os card desse conteúdo especial de Nossa produzido para a temporada "Eu amo inverno", em parceria com o Pinterest. E veja mais na página do UOL no Pinterest.