Fernanda Takai, 49 anos, é sansei: neta de japoneses, que migraram para o Brasil no século passado. Nascida na Serra do Navio, no noroeste do Amapá, a cantora e compositora tinha 35 anos quando pisou no Japão pela primeira vez. Foi uma viagem de férias que lhe despertou um desejo de explorar o arquipélago que, a partir desta sexta-feira (23), abriga as Olimpíadas de Tóquio-2020.
De volta ao Brasil, ela se dedicou a estudar a língua japonesa com afinco. Desde então, já viajou diversas vezes ao Japão, tanto de férias quanto a trabalho, subindo nos palcos de rock junto à banda Pato Fu ou embalando a brasileiríssima bossa nova, a menina dos olhos de sua carreira solo — e um hit nas casas de shows nipônicas.
O Japão é um lugar para onde quero voltar, voltar e voltar. É uma vontade que se renova e que me atrai. Talvez por um desejo de descoberta, de reconhecer minhas próprias origens"
Curadora convidada por Nossa para a série de conteúdos especiais sobre o Japão, Takai reconheceu traços de sua família nas cidades japonesas, nos altares budistas, na voz mais baixa dos passageiros nos trens, nos trejeitos dos corpos, nos movimentos de cozinheiros habilidosos que a fizeram lembrar de sua avó japonesa que cozinhava utilizando apenas hashis, os palitinhos japoneses.
Entre o novo e o familiar, ela busca explorar bairros, cidades e províncias diferentes a cada viagem.
O que sempre me impressiona é o 'omotenashi' [a cultura da hospitalidade japonesa], o que faz com que a gente se sinta bem e bem-vindo no lugar"
O Japão de Fernanda Takai é colorido, diverso e estranhamente familiar. Nesta temporada, Nossa traz uma viagem ao redor da "Terra do Sol Nascente" com esse norte, destacando a culinária japonesa além do sushi, os contrastes entre a penumbra de templos budistas no monte Koya e as luzes neon de Tóquio.
As reportagens especiais também passeiam pelo aroma das casas centenárias de chá nos arredores de Quioto e o ar high tech de hotéis 100% atendidos por robôs, as antigas tradições do quimono e a onipresença das máscaras em tempos de pandemia de covid-19.
Dividido em 47 províncias, o arquipélago japonês é composto por quatro ilhas principais (Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu) e milhares de ilhas menores, muitas delas desabitadas.
Nem de longe é um país perfeito, marcado por contradições, conflitos bélicos e invasões imperialistas — e, se olhar de perto, dá para ver como a história se faz presente até hoje, seja na singularidade de Okinawa (reino independente que foi anexado pelos japoneses no século 19 e ocupado por norte-americanos no século 20), seja nas lembranças do monjayaki, um tipo de panqueca japonesa que remete aos tempos de escassez da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O monjayaki foi uma das últimas descobertas de Takai. "Você se senta em uma mesa e mistura vários legumes em uma chapa com um caldo com ovo. Diz-se que, extrema dificuldade, utilizava-se até papel para engrossar o caldo", conta.
Descobrir algo novo, algo diferente é que impulsiona essas minhas idas e vindas"
Idas e vindas, aliás, também marcam a história do país. Dois fluxos migratórios cruzaram o mundo: um do Japão ao Brasil a partir de 1908 (como fizeram os avós de Takai) e outro, na direção inversa, do Brasil ao Japão a partir da década de 1990.
Foi quando milhares de nipo-brasileiros foram trabalhar temporariamente no arquipélago, os "dekasseguis". Hoje, há cerca de 200 mil brasileiros vivendo no Japão. Entre eles, muitos fãs de Takai.
"Não vejo a hora de voltar", diz ela. Quando a pandemia terminar, a cantora pretende visitar o país pela oitava vez, preferencialmente na primavera, para contemplar as cerejeiras em flor como fazem os japoneses.
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