Margareth Menezes: "As lives é que me resgataram da depressão na pandemia"
Para Margareth Menezes, todos os caminhos levam a Gilberto Gil. Bairrismo? Não estivéssemos falando de uma das grandes vozes da música brasileira (e não é só de axé que estamos falando), a resposta até poderia ser sim. Aliás, é dela o conceito mais pop do afro, sua grande marca.
"Para mim, o axé é um movimento, não se estabelece como estilo, mas várias coisas", explica a cantora, que foi a convidada especial do programa Brasil com Zeca.
O afropop é o estilo que eu me identifico, no qual consigo me entender, sou uma artista negra mas com um comportamento pop, minha música é afro urbana. Tenho esta independência"
Ainda sobre o afropop, ela ressalta, ele sempre existiu, "toda vez que tem um negro na cena pop ele traz sua raiz, a referência de natividade".
Em seguida, lembra do ano de 1992, quando retornou de uma turnê com o norte-americano David Byrne. "Recebi uma crítica, 'lá vem margara como seu brazil africa pop'". Ao ouvir sua voz, Byrne a convidou para abrir seus shows mundo afora.
Autêntica e muito autoral, Margareth Menezes, uma das pioneiras da axé music, sempre compôs, mas a timidez de expor suas músicas, além da intimidade com o lado intérprete, fez com que os admiradores conheçam pouco da sua obra. Embora, ela reconheça: "Ultimamente, o pessoal está muito interessado em saber o pensamento do artista".
Queridinha da nova geração
Sempre citada como referência em canções e discos de cantoras mais jovens, Margareth Menezes enxerga isso como algo ligado à estética.
As meninas da nova geração sempre me citam como referência, então decidi trazê-las, estas mulheres negras lindas, para meu trabalho também"
A frase se refere ao trabalho no qual colabora com jovens nomes da música brasileira, como Majur, Luedji Luna e outras. "A primeira vez que encontrei a Iza eu disse: 'que maravilha ver isso'".
Margareth também é uma entusiasta da tecnologia na indústria da música. Há 17 anos, ela fundou a Fábrica Cultural junto com a sócia Jaqueline Azevedo, uma organização social que nasceu do desejo de contribuir com o desenvolvimento de seu local de origem, a Península de Itapagipe, periferia de Salvador.
"São ações do coração, pelo privilégio que eu tive", diz.
Não tem nada a ver com assistencialismo, mas uma visão de fé na possibilidade do ser humano, do que as pessoas são capazes O despertar de uma visão mais positiva"
Pandemia
Às vésperas do isolamento, ela estava saindo em turnê para divulgar seu disco mais recente — e 100% de autorais inéditas —, o "Autêntica", de 2019, com agenda cheia até o meio do ano.
"O que me resgatou da depressão na pandemia foram as lives", diz. "A gente achou que ia passar logo, que tristeza ver toda a Bahia, com toda sua pulsação, fechada."
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