De Rayssa a Avril Lavigne: moda do skate resgata tendência de 20 anos atrás
Gustavo Frank
De Nossa
05/08/2021 04h00
Rayssa Leal é o nome que estampou as manchetes brasileiras nas últimas semanas. A jovem, de 13 anos, representou o país ao vencer a medalha de prata na competição de skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, na modalidade street feminino.
A vitória da Fadinha repercutiu em um aumento inesperado nas buscas pelo esporte, agora olímpico. Na moda, não foi diferente, o modelo do tênis usado pela skatista maranhense, da Nike, instantaneamente virou a peça "it" do momento.
Nesta semana, o esporte volta a ser pauta com as competições voltadas ao Skate Park com as equipes femininas e masculinas brasileiras. Nas redes sociais, a ansiedade dos usuários já teve início desde a chegada dos atletas ao Japão.
O skate, por sua vez, vai muito além do esporte e tem forte presença na moda. Antes de ser considerado um esporte olímpico, as manobras em cima da prancha com rodinhas já representava um lifestyle para muitos adolescentes, marco por peças significativas do vestuário, tais como as calças cargos, bonés e camisetas largas — que se tornam esvoaçantes ao longo das artimanhas nas pistas e corrimãos.
Há cerca de vinte anos, um ícone, principalmente para as mulheres desse universo, moldava a forma com que os adolescentes se vestiam: Avril Lavigne.
Na música pop, as "divas", à época, tinham o estilo marcado por peças até então ditas como "mais femininas" e que exploravam viés mais sensuais — aqui, podemos citar estrelas como Britney Spears e Christina Aguilera. No entanto, o surgimento e sucesso da cantora canadense subverteu esse estilo.
A voz de "Sk8er Boi" reforçou que o skate também pertencia às mulheres. O cabelo repartido ao meio, marcado pela prancha, os lápis de olhos escuros e as gravatas em cima de regatas brancas, presas embaixo da calça cargo em estampa militar, criavam uma moda diferente do que estávamos a ver.
Avril Lavigne, inclusive, posteriormente imprimiu a identidade do seu estilo em sua própria marca de roupas, a Abbey Dawn.
Assim, no início dos anos 2000, não era raro que os adolescentes reafirmassem suas personalidades por meio das roupas que mimetizavam a artista. Com o All Star, da Converse, de cano alto nos pés e as munhequeiras no pulso.
Com o sucesso do skate das Olimpíadas, não é um erro dizer que essa moda deve voltar, de forma triunfante, a vestir parte dos jovens brasileiros.
A moda em cima das rodinhas
Em território internacional e nacional
As grandes marcas voltadas ao universo esportivo não ignoram esse momento. A Nike é provavelmente a principal delas, sendo a responsável por vestir as federações do Japão, França, Estados Unidos e Brasil nos jogos no Japão.
"Cada atleta pôde acessar ao catálogo e criar o seu próprio visual, misturando os produtos desenvolvidos por nós", explicou o designer Donavan Harris, da Nike, em comunicado divulgado à imprensa sobre a personalização dos uniformes, que contou com a participação dos atletas.
Em 2001, a empresa criou a Nike SB, linha de peças voltadas ao skateboarding, que contou com a parceria do skatista norte-americano Paul Rodriguez. No Brasil, Rodrigo Petersen Gerdal, Cezar Gordo e Fabio Cristiano foram os nomes que alavancaram o sucesso das roupas — que, hoje em dia, conta com nomes como Letícia Bufoni e a própria Rayssa Leal.
Anunciado com chegada para "breve" nas vendas, o sneaker Nike SB Shane T "Tokyo 2020" conta com o solado na cor marrom-claro e detalhe pink na parte de trás e foi usado pela Fadinha, promete ser uma das maiores vendas da marca. O modelo unissex será comercializado por R$ 599.
A Nike não é a única a se aventurar na moda skateboarding. Marcas como a Adidas, Converse e a Vans são os principais grandes nomes internacionais a criarem coleções voltadas para esse universo, desde tênis até camisetas e calças.
No Brasil, a BAW Clothing é um dos grandes destaques. Comprada recentemente pela Arezzo&Co por R$ 105 milhões, após faturar R$ 40 milhões em 2020, a etiqueta voltada para o público jovem e sucesso entre a Geração Z, fundada pelos irmãos Bruno e Lucas Karra, se torna pouco a pouco uma referência para o estilo skatista — você provavelmente já deve ter cruzado com algum influenciador usando as peças peludas e coloridas da label no Instagram.
"Acredito que o skate é o pilar mais forte das marcas de streetwear, sendo levado também como uma forma de expressão de uma cultura que deve ser respeitada", diz Lucas Karra, um dos fundadores em entrevista para Nossa. "O Brasil sempre teve inúmeras marcas que servem como referência tanto para o mercado nacional quanto internacional. Mesmo não sendo uma marca segmentada apenas para o público do skate, a gente fica muito feliz quando vê uma galera andando de skate com os produtos da Baw".
Lucas, que trabalha também como diretor criativo da marca brasileira e no desenvolvimento das peças, acredita também que o recente favoritismo do skate nas Olimpíadas possa impulsionar o mercado das roupas voltadas ao esporte.
"O skate é um esporte de prática extremamente urbana e com a expansão dos centros urbanos, se tornando um dos esportes mais praticados no Brasil e no mundo", opina. "A cena já vinha numa crescente e agora com essa grande exposição na mídia, a tendência é dar uma alavancada extra no mercado, sim".
Esse mercado já era bem consolidado com marcas como a Supreme, que tem sua raiz no skate de NY dos anos 90, imagina agora com a Louis Vuitton aderindo esse nicho de mercado? Patrocinando atletas de alta performance".
O diretor criativo Lucas Karra
Resumindo — e parafraseando Avril Lavigne: "Eu preferiria ser qualquer coisa, menos comum. Por favor".