Vittor Fernando "realzão": fenômeno do TikTok revela sua paixão por moda

Aos 27 anos, Vittor Fernando viu sua vida se transformar graças ao TikTok. Nascido em Poá — cidade para a qual retornou durante a pandemia por estar desempregado —, o ator e bailarino fez de um filtro nas redes sociais sua marca registrada e conquistou mais de 4,6 milhões de seguidores no Instagram. Na rede social vizinha, são mais de 8,5 milhões de pessoas que acompanham os seus esquetes de humor cotidiano.

"Comecei a fazer os vídeos brincando", relembra ele em entrevista para Nossa. "Foi tomando uma proporção que eu não imaginava nunca. Aí entendi que poderia ser uma profissão e comecei a investir mais nisso".

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Quem incentivou esse novo rumo para a sua vida foi a mãe e as irmãs. Rodeado por mulheres desde que se conhece por gente, depois que o pai saiu cedo de casa — "como muitos", como salienta em seu discurso: "Acho que isso tem uma grande influencia na minha personalidade, na minha forma de pensar, enxergar o mundo".

Na conversa, feita por ligação de vídeo, Vittor começa o papo de forma já descontraída, mostrando o gorro e as camadas de casacos na parte de cima, enquanto, na parte debaixo, está com a calça de pijama. Um típico comportamento da Era Zoom.

"Eu sempre gostei de moda", diz ele ao relembrar o sonho, ainda na infância, de se tornar um estilista no futuro. "Eu sempre desenhei e achei que fosse seguir esse caminho, mas acabei indo para outro caminho. Sempre fui muito ligado a arte, dançando e interpretando".

Eu achava por um bom tempo que essa seria minha profissão, desenhando roupa. Mas eu era bom, tá? (risos). Na época, eu achava que era bom".

Embora a moda não tenha se desenhado fora dos croquis na vida de Vittor, de alguma forma ela sempre esteve presente. As roupas e a performance delas eram fundamentais, segundo ele, para a carreira no balé — que o fez viajar o Brasil com as companhias de dança — e na atuação.

"De alguma forma eu gosto sempre de incluir a moda no que eu faço", reflete o influenciador. "Eu digo a moda, como arte. No sentido de criar looks e como isso conta uma história e passa uma imagem. É importante você usar desses artifícios, falar sobre você".

Nem sempre a gente tá estiloso, mas as roupas dizem muito sobre como a gente está se sentindo".

O ator, quando questionado como define seu próprio estilo, reforça que, em consequência do sucesso nas redes sociais, aproveita para se vestir "mais chique": "Agora tenho mais condições", brinca. "Mas sou mais despojado, é o que fala sobre mim".

"Quem nunca foi patinho feio?"
As lições do tempo com a aparência

Os cuidados com a beleza fazem parte da rotina de Vittor Fernando, assim como os conteúdos em vídeo compartilhados nas redes sociais. O trabalho com a imagem, muito anterior aos conteúdos, sempre o levou a essa manutenção do autocuidado — que até hoje conta com o milagroso ritual do protetor solar diário.

"Eu acho lindo os meninos pintando a unha e tudo mais", comenta. "Isso não tem nada a ver com sexualidade, gênero, sabe? Tem a ver com expressão, da forma que você acredita. Arte é isso, ver a beleza nas coisas".

Ainda é um tabu, mas eu vejo mais meninos da nova geração hoje se arriscando com isso e quebrando esses estigmas".

Na adolescência, o trabalho com a dança era quem o motivava a cuidar do corpo. A fase, que costuma ser cheias de altos e baixos para muitos, para ele foi um pouco mais tranquila.

"Até hoje sou um pouco patinho feio", brinca ele sobre a época em questão. "Quem nunca, né? Eu sempre fui muito baixinho, mas quando era criança, era muito mais. Como precisava me dedicar ao balé, eu não sofri muito [com a questão da aparência]. Minha vida nesse tempo não era tão comum, estava sempre pensando: 'meu Deus, eu preciso treinar'".

Atualmente, Vittor também inspira parte dos seguidores que acumula nas redes sociais, seja na beleza ou com sua moda — incluindo mensagens de jovens que compram peças usadas por ele, como uma espécie de referência.

"O engraçado de se tornar uma figura pública na internet, é que as vezes eu estou com uma camiseta de dormir e as pessoas perguntam: 'de onde é essa camiseta?'", relembra. "É só porque eu tô usando, não é possível".

Filtros x realidade
Até onde a aparência é real?

Passar horas scrollando as redes sociais já é do nosso hábito. Normalizou-se. Consequentemente, as comparações parecem ser inevitáveis, quem nunca se pegou com um pouco de dor no cotovelo da vida boa compartilhada por alguém em uma foto ou vídeo?

O uso constante dos filtros pelos usuários, na opinião de Vittor, divide-se em dois pontos contrastantes: o da diversão e o da distorção de imagem.

"É muito legal, é um meio de brincar com possibilidades", reforça ele, adepto de uma dessas máscaras virtuais para o sucesso. "Mas recentemente tem acontecido um lance de distorção de imagem. A gente se vê tanto. O ser humano não foi preparado para ficar se vendo 24 horas por dia. A gente acaba se olhando muito. Antigamente, a gente se olhava no espelho para se arrumar e pronto".

Você acaba sempre se vendo de um jeito na internet e quando se olha pro espelho, acaba não se enxergando dessa forma — e essa é sua forma real. Acabamos nos acostumando a nos vermos de outra forma: filtro que afina o nariz, deixa os dentes brancos e por aí vai".

A exposição nas telas acaba por ser também uma via de mão dupla. De um lado, o sucesso e os milhões de seguidores. Do outro, uma janela para quem quer falar o que quiser, sob o anonimato. Com o influenciador, não é diferente.

"As pessoas falam da minha aparência sempre", diz. "Existe uma pressão na internet, mas eu não me afeto. Eu sou bem realzão, porque sei o que me faz bem. As pessoas querem que se parecer com filtro e ninguém é assim. Cada um é de um jeito".

Saúde mental
E a "vida nova"

Por considerar-se novo nesse meio digital, Vittor Fernando, aparentemente sem muito esforço, preserva sua mente como ela era antes de bombar na internet. Como ele diz, esse "lado negativo" não o afeta, principalmente por ter consciência de que, assim que começasse a gerar conteúdo, teria alguém falando sobre ele. De forma positiva ou negativa.

"A gente precisa ter uma boa relação com a saúde mental. Não só com o que o público fala, mas com a própria autocritica", opina. "Como você se vê, como você se cobra. O meio da internet é tudo muito rápido, é um meio de produção. É preciso estar sempre produzindo, existe uma cobrança".

O ator jura que o contato com o celular é quase estritamente profissional: "Eu tenho meus momentos off". Entre encontros com os amigos, em que o aparelho fica longe das mãos, e séries, é desligado que ele diz encontrar a própria realidade.

"Eu realmente esqueço, gosto de ter meu momento", conta. "Isso põe a cabeça no lugar. Nos faz ter uma visão da realidade diferente do celular. Isso pode prejudicar de alguma forma, embora nunca tenha me prejudicado por ter uma cabeça mais tranquila".

Vivendo uma vida mais luxuosa do que a que vive em Poá, agora em São Paulo, o influenciador, que faz com que a gente se sinta em um dos seus vídeos durante a conversa, diz que a melhora da sua vida financeira resultou em um dos seus principais objetivos: poder ajudar a sua família.

"Minha vida financeira melhorou, eu posso ajudar minha família que é a coisa mais importante para mim", comenta. "Sempre trabalhei cedo para trabalhar com arte para dar o melhor para minha família. Essa é a mudança mais gratificante".

Junto ao dinheiro, veio também a confiança: "Hoje em dia, eu me sinto mais confiante. Por que trabalhar com a internet é um desafio, você se expõe o tempo todo e vão falar o que bem quiserem".

Esse atributo, como ele conclui durante a entrevista, é fundamental para defender as próprias crenças: "Tem que ter muita coragem para falar sobre o que se acredita e sente".