Alívio para viajantes no isolamento, tours virtuais sobrevivem à reabertura
Em algum momento antes da pandemia, talvez você tenha viajado e ido atrás de um tour no local em que estava. Atrás de conhecer mais detalhes sobre a cidade, estado ou país, buscou um guia de turismo mais próximo que apresentava tudo sobre a história e cultura desse ambiente. Além disso, deve ter feito perguntas em busca de tirar o máximo para aproveitar a viagem.
Essa pequena história pode já ter acontecido com você, mas a partir do momento que as medidas de isolamento social chegaram (em março de 2020), o turismo passou do contato olho no olho para o digital. Dessa forma, foi possível conhecer até bem mais lugares, só que apenas pela tela do computador.
E isso fez até gente que nem costumava realizar muito esse tipo de passeio, como Lucy de Souza Barros, de 61 anos, procurar sobre. Na companhia da mãe Alva, de 89, que encontrou um tour pela internet, ela passou a ser uma assídua frequentadora para descobrir várias localidades que nem imaginava.
"Nós frequentamos tour pelo Brasil e fora dele", conta. "A sensação é diferente de um tour presencial, é algo meio complementar. Os guias nos tours virtuais conseguem encher a apresentação com mais detalhes, que talvez acabem não ficando destacados nos presenciais".
E depois que tudo passar?
Mas se Lucy, entre outros, passou a gostar disso depois do início da pandemia, o que será que pode acontecer depois dela? Com a liberação e normalização das cidades, ainda será possível ter demanda de assistir tudo pela internet?
O presidente da Presidente Federação Nacional dos Guias de Turismo, Henrique Dantas, acredita que "os guias de turismo estão preparando e isso deve continuar por algum tempo com impacto". Para Dantas, um receio ainda por parte do público pode fazer esse fenômeno perdurar um pouco mais, mesmo com a vacinação avançada. Porém, ele destaca que ainda não sabe "se com a mesma força que está".
O modelo de negócios antigo deve voltar com força total em algum momento, mas os tours virtuais devem continuar.
Até porque os próprios profissionais encontraram isso como uma forma de canalizar negócios e trazer coisas novas, ir de agentes de viagens e até turistas, para mostrar o que pode ser encontrado no destino", completa o presidente da FENAGTUR.
Inovação para guias e viajantes
Do jeito que estamos hoje, o que não faltaram foram ideias novas para explorar a necessidade do público consumidor nesse momento de restrição.
Lilian Sierich foi uma dessas que quis buscar novidade. Trabalhando como guia de turismo desde 2004 nas famosas Cataratas do Iguaçu (entre o estado do Paraná e a Argentina), ela resolveu apresentar os tours totalmente ao vivo. Assim, entra uma plataforma de transmissão e começa a mostrar o lugar para pessoas do mundo inteiro.
A rentabilidade dessa forma de fazer os passeios já é proporcional ao que ganhava com o presencial.
Quantas pessoas, por exemplo, sem condições financeiras, que não podiam viajar e hoje conseguem através do virtual. Quantas pessoas com problemas de mobilidade que adorariam viajar, mas não podiam por sua situação? Hoje podem no virtual.
Tantas pessoas idosas que tinham sonho de conhecer muitos outros lugares e muitas histórias. De repente, não puderam mais. Hoje elas podem através do virtual", diz.
A guia relata que deve continuar investindo nessa maneira de fazer os tours. Segundo ela, "as pessoas viajam uma ou duas vezes por ano. Conhecer o mundo virtualmente abre a possibilidade de se programar para a próxima viagem, além de poder sair de casa toda semana".
Quem começou quase junto com a pandemia a realizar tours foi Bernardo Chavez (iniciou na profissão em 2019). Só que a ideia dele é um pouco diferente, com filmagens realizadas anteriormente para serem apresentadas no momento do passeio. E isso tudo é feito por um estabilizador de imagem, que traz quase a sensação de um drone gravando.
Ele destaca como principal diferença nos dois tipos de tours o contato com as pessoas. "Tento fazer algumas perguntas simples para que todas se sintam parte da experiência".
Mas não é todo guia que tem o mesmo otimismo. Sergio Dourado faz passeios desde 2013 na região de Recife e Olinda. Ele conta que ganhou "algum dinheiro com o virtual, mas não se compara com o que conseguia com o turismo tradicional antes da pandemia".
Sergio ainda diz que acredita que o turismo digital vai "perder bastante público no pós-pandemia". Mas, como os outros, também acha que "não vai desaparecer".
Empresas também ainda apostam nas telas
Na pandemia, a plataforma de hospedagem Airbnb deu espaço para investimento nas chamadas "experiências online". Não são apenas tours, mas sim diversas formas para apresentação de algo. Desse jeito, com a chegada do isolamento social pelo mundo todo, foi possível encontrar passeios diferentes, indo desde a procura de uma aurora boreal na Islândia até a história do chocolate.
Quem tem passou a investir no espaço da internet também foi a empresa "Sou+Carioca", que tem como uma das suas fundadoras Gabriela Palma. Iniciando como um projeto de curso em 2015, a "Sou+" se transformou em uma empresa mesmo no ano de 2018.
No início das medidas de isolamento, o impacto financeiro foi bem grande, conta Gabriela, mas também serviu como virada de chave. "A gente precisou cancelar vários grupos, inclusive internacionais, que já tinham até fechado com a gente. Por outro lado, também teve impacto positivo por conseguirmos desenvolver os tours virtuais e mudamos por completo".
Inicialmente, era tudo feito através do Facebook, com lives gratuitas e abertas para colaboração. Porém, agora se transformou em algo mais profissionalizado, realizando os tours por videochamada pelo Zoom — o que proporcionou um maior ganho financeiro.
Os tours virtuais que mantiveram a 'Sou+Carioca' viva. Através deles, a gente não precisou pegar empréstimo e nem ir atrás de nenhuma ajuda por parte do governo", relata.
Gabriela também tem uma visão diferente do futuro. Ela acredita que "os tours virtuais vão continuar mais voltados para o público estrangeiro do que o brasileiro em si, especialmente pela 'preparação' do que vai encontrar no país".
Pelo menos algum resquício de tour online ainda teremos após a pandemia. De acordo com a previsão dos guias e especialistas ouvidos pela reportagem, Lucy parece seguir bem o roteiro:
Vamos continuar acompanhando porque eles deram vontade de ir em muitos dos lugares".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.