Tripulantes brasileiros contam o que esperam da retomada dos cruzeiros
Depois de muitos meses parados por conta da pandemia, os cruzeiros voltam ao litoral brasileiro nos próximos meses. As viagens em alto-mar retornam com várias mudanças e tripulantes brasileiros que estão embarcados em outros continentes contam o que vem por aí.
Com muitos protocolos e novas medidas de segurança e higiene, a retomada das viagens de navio no Brasil está prevista para novembro deste ano. Sete embarcações vão navegar por diversos portos passando por Camboriú, Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Maceió, entre outros destinos.
Após ficar 14 meses sem trabalhar no mar, o mineiro Daniel Dornas (@danieldornas), voltou a embarcar e fazer o que mais gosta.
Foram três meses de preparação intensa. Começamos com um treinamento on-line sobre as novas regras e protocolos. Depois fizemos quarentena, fomos vacinados e testados e só então começou o nosso embarque", conta.
Dornas é gerente de entretenimento e está trabalhando nos Estados Unidos em um dos maiores navios do mundo, onde a temporada já retornou. "Me sinto muito mais seguro aqui do que quando estava em casa. Quando ia ao shopping no Brasil, eu não sabia quem já estava vacinado ou não. Como aqui passageiros e tripulantes já foram imunizados, estar a bordo é como estar em uma bolha super segura", diz, aliviado.
O que mudou
A embarcação onde ele está trabalhando pode receber até 6800 passageiros e 2200 mil trabalhadores. Atualmente, o navio conta com um terço da capacidade e a previsão é chegar a 50% da ocupação nos próximos meses, se tudo correr bem.
As mudanças já começam no pré-embarque, agora o check-in é todo digital. A maioria das empresas de cruzeiros que está operando em outros países só permite o embarque de passageiros que estejam completamente imunizados e que apresentem um PCR negativo. Nas áreas públicas dos navios é obrigatório o uso de máscara e todos os ambientes internos contam com ar condicionado com o sistema de ar HEPA, que filtra 99% de partículas.
Dornas comenta que os restaurantes buffet, um dos maiores pontos de aglomeração em um navio, continuam abertos mas agora o passageiro é servido diretamente por um tripulante. A capacidade dos teatros também foi reduzida e a cada função, esses ambientes passam por uma higienização profunda.
A goiana, Carolina Ninow (@viajacarol), que há 3 anos trabalha em navios como garçonete, também se sente segura com as novas normas.
A gente segue protocolos rígidos. Temos que usar máscara o tempo todo e trocar a cada 4 horas. Checam a nossa temperatura diariamente e fazemos teste PCR cada vez que um novo cruzeiro começa", conta.
Ela voltou a vida em alto-mar há poucos meses e agora mesmo está trabalhando em uma embarcação de luxo pelas ilhas gregas.
A MSC Cruzeiros conta a Nossa que toda a sua tripulação que está em outros continentes já foi vacinada e que os trabalhadores são testados semanalmente. Além disso, as atividades e o entretenimento a bordo foram redesenhados para manter o distanciamento social e os hóspedes devem fazer a reserva antecipadamente.
Nos navios da Costa Cruzeiros que já estão navegando no Mediterrâneo, a limpeza das áreas comuns é feita várias vezes por dia com novos métodos de desinfecção que incluem até mesmo nebulizadores de ar. "Como medida preventiva adicional, os passageiros de um cruzeiro de sete dias também estão fazendo um PCR durante a viagem e os custos desse teste são cobertos pela empresa", explica Dario Rustico, presidente executivo da Costa Cruzeiros para América do Sul e Central.
Outra novidade adotada pela Royal Caribbean nos Estados Unidos são os tracelets (pulseirinhas com GPS). Dornas explica que todos os hóspedes e tripulantes têm que usar uma porque caso alguém pegue covid, esse sistema permite monitorar onde as pessoas circularam e com quem estiveram em contato.
Excursões em terra firme
Tanto a bordo como nos portos, o cuidado para evitar a covid está sendo grande. Na hora de visitar outros destinos, na Royal Caribbean, os passageiros só podem fazer excursões oferecidas pelo próprio navio porque, segundo a companhia, dessa maneira todos os protocolos e cuidados são mantidos dentro e fora das embarcações.
Diferente do que acontece na Norwegian. "Como nossos passageiros estão vacinados, ao descer eles podem fazer as excursões por sua conta. Não há necessidade de sair somente em excursões controladas", explica Estela Farina, diretora geral da Norwegian Cruise Line no Brasil.
Mas enquanto os passageiros podem desembarcar nos portos, os trabalhadores estão vivendo outra realidade. O pernambucano Julio da Silva Costa (@juliojlc) trabalha em uma empresa que faz cruzeiros de expedição na Europa.
As saídas são bem limitadas para nós. Para evitar romper essa bolha de proteção, temos que ficar entre quatro e cinco meses quase sem pisar em terra firme. Mas tudo bem, a gente entra já sabendo que vai ser assim", conta.
No Brasil, os protocolos de segurança que estão em aprovação pelas autoridades sanitárias para serem colocados em prática nos próximos meses, foram criados por médicos, cientistas e especialistas. "A segurança dos hóspedes e das cidades que serão visitadas estão em primeiro lugar", esclarece Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA).
Futuro próximo
A CLIA prevê que a próxima temporada brasileira de cruzeiros gere um impacto de R$ 2,5 bilhões na economia nacional.
"A indústria está voltando aos poucos e se adaptando às novas regras.
Com a colaboração dos tripulantes e dos passageiros, acredito que em alguns meses estaremos próximos do que era antes da pandemia", diz o presidente da CLIA.
Quem também está otimista é o Julio que está navegando na Noruega. "Ainda há muitas restrições em vários países, mas depois de ter ficado parado por mais de um ano, só o fato de os cruzeiros já estarem retornando é um avanço grande.
Aqui no barco todo mundo está super feliz. O clima entre os tripulantes está sendo muito legal e não vemos a hora de receber passageiros de novo", comemora.
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