Para Claude, grosseria não entra na cozinha: "exigente, mas com sorriso"
Ele é filho e neto de renomados chefs franceses, é sócio de seis restaurantes, já publicou livro e está há 17 anos na TV. Por muito menos, cozinheiros vestem a dólmã da arrogância. Mas isso não faz o tipo de Claude Troisgros.
Do "Menu Confiança", que estreou no GNT em 2005, passando pelas 23 edições de "Que Marravilha", até o "Mestres do Sabor", cuja terceira temporada foi ar este ano Globo, ele conquistou os brasileiros falando sobre técnicas e ingredientes com o sotaque carregado de leveza e de carisma.
Obviamente tenho o meu lado profissional e exigente, mas demonstro isso com um sorriso. É a minha personalidade e eu faço questão de guardá-la. Comigo, não funcionaria de outra maneira".
Em entrevista exclusiva a Nossa, o cozinheiro, empreendedor e apresentador fala sobre a pandemia, a produção de conteúdo na internet e na TV e o curso on-line recém-lançado ao público.
Encontro com a cozinha
O otimismo que transparece com frequência sofreu um baque em março do ano passado, mas logo impulsionou Claude para um novo projeto. Receoso com o futuro dos seus estabelecimentos e trancado em casa pela pandemia, ele decidiu começar a produzir conteúdos para o Instagram.
Entrou na onda das lives com o "Sal e Som". Em transmissão ao vivo, ele cozinhava enquanto artistas convidados, igualmente afetados pelas restrições, tocavam e cantavam. O quadro "Dicas do Claude", no qual ensina truques rápidos de cozinha, também foi para o feed.
Ambas as ideias aproximaram — ainda mais — o cozinheiro francês do público. "A comida caseira, do dia a dia, faz sucesso. Como profissional, a gente esquece um pouco disso às vezes."
Mesmo com a correria dos restaurantes já reabertos, Claude pretende continuar a produzir conteúdos. "Foi um divertimento e virou uma coisa que faz parte do meu dia a dia."
Ele não foi o único, no entanto, a se dedicar ao ofício. O tempo a mais dentro de casa transformou leigos em amadores e amadores em "professores". Apesar disso, ele considera que o saldo dessa conexão é positivo.
A pandemia reforçou o que está acontecendo há alguns anos: o interesse por fazer a sua própria refeição e comer melhor. Cozinhar é um divertimento, um hobby que pode ser compartilhado com a família ou os amigos".
Além das redes sociais, programas de TV, como realities shows, tiveram contribuição ímpar para a aproximação do público da gastronomia. "No Mestres do Sabor, a gente valoriza muito o produto, o produtor e o Brasil. É emocionante quando as pessoas me agradecem a oportunidade de entender melhor a minha profissão".
De volta ao serviço
No giro que faz pelo salão das suas seis casas, Claude tem observado clientes animados. A percepção é de que a ida a um restaurante agora é algo mais especial do que corriqueiro. "A sensação é como a de ir ao teatro".
Para ele, a tendência é que em 2022 o setor viva um momento positivo. O profissional compara o momento do fim das restrições e das preocupações ao período pós-guerra.
"As pessoas querem se libertar e a criatividade vem com força. Cozinhar é arte e ela só evolui. De vez em quando ainda aparecem gênios, como Paul Bocuse e Ferran Adrià, que apontam caminhos diferentes. Tem muita coisa por vir".
Aulas com o mestre
Em parceria com a plataforma Curseria, Claude acabou de lançar o curso Cozinha Franco-Brasileira. Em 11 aulas de 30 minutos, ele ensina técnicas da culinária francesa por meio de receitas com toques tropicais.
São três módulos, divididos entre os pré-preparo (conserva, caldos e molhos), os métodos de cozimento e o menu franco-brasileiro, que une as duas culinárias queridinhas do chef.
As videoaulas contam com material de apoio por escrito e são voltadas para aqueles que se interessam não só pela gastronomia, como também pela trajetória do chef — as experiências do mestre servem de pano de fundo para os ensinamentos descomplicados e acessíveis.
Mais sobre o chef
Nascido Roanne, na França, Claude carrega o legado da gastronomia. O avô, Jean Baptiste, fez história por quebrar paradigmas da culinária clássica na década de 30.
O pai, Pierre Troisgros, e o tio, Jean Troisgros, assumiram o restaurante Troisgros e foram além: tornaram-se os percursores da chamada "Nouvelle Cuisine Française", mais delicada e de apresentação refinada. O endereço, estrelado desde 1968, ainda pertence à família.
Embora tenha sido criado entre panelas europeias e se formado em hotelaria pela Thonon Les Bains, Claude se considera brasileiro hoje. Também, pudera: são mais de 40 anos em solo nacional, misturando a base aprendida do outro lado do Atlântico com os ingredientes locais.
Muitos deles, aliás, foram apresentados pelo fiel escudeiro Batista, com quem divide a sociedade do novo Do Batista. O estabelecimento tem ponto físico carioca e delivery em São Paulo.
Atualmente, o grupo Troisgros Brasil conta com cinco casas no Rio de Janeiro (Le Blond, Chez Claude, CT Brasserie, CT Boucherie e CT Boucherie Leblon) e uma em São Paulo (Chez Claude). Thomas Troisgros, filho de Claude, segue a tradição da família e está à frente da cozinha da maioria dos endereços.
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