Estanho, um metal nobre "injustiçado" que brilha à mesa
Assim que Fábio Reis se formou como torneiro mecânico, deparou-se com a realidade: não havia vagas na região de São João Del Rey, onde morava. O ano era 1989 e ele bateu à porta da indústria John Sommers, fundada por um inglês que se apaixonou pelo lugar e tornou a marca a maior referência do Brasil em beneficiamento de estanho.
Estanho até hoje é um material "estranho" aos brasileiros: pouco falado, pouco explorado pelo design, mas um metal nobre com peso e personalidade à mesa. Basta ter os olhos certos para lapidá-lo.
E Fábio aprendeu isso: "Nós artesãos mineiros somos frutos da arte que John trouxe. Ele era rígido com a qualidade e com o fazer, mas acreditava muito em nossa capacidade artesanal", conta.
Fábio ganhou experiência e abriu as portas de sua Imperial Estanhos (@imperial_estanhos) no ano 2000. Batalhou por treinar artesãos — "leva geralmente um ano para a pessoa aprender a técnica bem", diz ele — e há quatro anos viu os designers se interessarem por seu fazer manual.
"Com a chegada da Semana Criativa de Tiradentes nossa mente se abriu ao design. Os profissionais trouxeram o olhar deles e no começo achávamos que não daria certo. Agora, a cada ano chega uma ideia inovadora", conta.
A empresa afirma que por se tratar de uma peça estável, ela não solta partículas do metal nos alimentos quando está em temperatura ambiente. Entretanto, o material não pode ser levado ao fogo pois derrete".
Muitas mãos
A produção é completamente manual. Começa pela fundição, onde o estanho é derretido e colocado nos moldes. Depois, é torneado, polido e está pronto: em meio dia de trabalho tem-se uma taça, por exemplo. Por mês são produzidas 100 peças, entre xícaras, bules, taças e outros objetos.
"O jogo de xadrez que fazíamos levava dois dias. Mas não temos mais tantos funcionários para isso e tiramos de linha. O estanho dobrou de preço desde dezembro, o que é outro entrave, além de o turismo ter diminuído bastante, o que impacta nas vendas." Ainda assim, no torno, Fábio cria com prazer e diz se orgulhar do material que tem em mãos.
O estanho é muito maleável, um metal nobre e fácil de dar formas. O processo é todo artesanal"
E o orgulho de ver suas peças desenhadas em parceria com nomes badalados como o de Mauricio Arruda, Fernando Jaeger e Alfio Lisi, serem vendidas em lojas de design como a Breton e a Dpot? "É um orgulho enorme", diz Fábio.
* A jornalista viajou a convite da Semana Criativa de Tiradentes (@semanacriativadetiradentes), que será realizada de 21 a 24 de outubro em Tiradentes, MG.
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