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Três jardins para conhecer o paisagismo de Burle Marx no Rio

Fachada e jardim da Casa Roberto Marinho - Roberto Teixeira
Fachada e jardim da Casa Roberto Marinho
Imagem: Roberto Teixeira

Tereza Novaes

Colaboração para Nossa

07/09/2021 04h00

Quando o tempo está firme e ensolarado no Rio de Janeiro, a primeira opção de passeio costuma ser a praia, mas a cidade tem lugares bastante especiais que conjugam natureza e arte, história e gastronomia. Entre essas opções, destacam-se três jardins projetados por Roberto Burle Marx (1909-1994), que passou a maior parte da vida na cidade.

O artista plástico e paisagista é um dos cânones do modernismo brasileiro e sua obra continua festejada até hoje. Em 2019, por exemplo, o Jardim Botânico de Nova York realizou uma grande exposição sobre Burle Marx, contemplando a carreira nas artes e na botânica.

O artista plástico e paisagista Burle Marx foi um dos cânones do modernismo brasileiro  - Sygma via Getty Images - Sygma via Getty Images
O artista plástico e paisagista Burle Marx foi um dos cânones do modernismo brasileiro
Imagem: Sygma via Getty Images

Mais recentemente, o Sítio Burle Marx foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade. Misto de ateliê, laboratório de criação e viveiro de plantas, o local fica em Barra de Guaratiba, a 50 km da zona sul do Rio, cerca de 1h30 de carro, e pode ser visitado mediante agendamento.

Sítio Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba, no Rio, recebeu título de patrimônio da humanidade da Unesco - Ricardo Borges/UOL - Ricardo Borges/UOL
Sítio Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba, no Rio, recebeu título de patrimônio da humanidade da Unesco
Imagem: Ricardo Borges/UOL

Para quem quer apreciar o jardim moderno tropical, conceito criado por Burle Marx, destacamos esses três lugares imperdíveis, de fácil acesso e com entrada gratuita —na Casa Roberto Marinho há cobrança somente para visitar as exposições.

Vale lembrar que as três instituições seguem regras rígidas para evitar a contaminação pelo coronavírus, além do consenso das autoridades sanitárias sobre a maior segurança de locais abertos nesse sentido.

Casa Roberto Marinho

Casa Roberto Marinho - Jaime Acioli - Jaime Acioli
Imagem: Jaime Acioli

Localizado no Cosme Velho, bem perto da estação de trem do Corcovado, que leva ao Cristo Redentor, o casarão cor de rosa foi a residência do jornalista que fundou a TV Globo. Convertido em museu em 2018, o local abriga a coleção de arte de Roberto Marinho, na qual se destacam obras do modernismo brasileiro, com obras de Anita Malfatti, Djanira, Pancetti e Guignard, entre outros.

O projeto original do jardim é de Burle Marx e passou por modernizações enquanto o antigo morador ainda residia no local. "Isabel Duprat fez uma obra que elevou o curso da água, porque o Roberto Marinho queria ver melhor as carpas. Ela fez a intervenção, mas consultou o projeto original", conta o diretor do espaço, Lauro Cavalcanti, que participou da conversão do espaço em centro cultural.

Casa Roberto Marinho - Jaime Acioli - Jaime Acioli
Imagem: Jaime Acioli

Uma das características mais fortes é que a casa se situa numa franja da Floresta da Tijuca, o jardim faz justamente essa transição da mata para uma natureza mais disciplinada até o gramado"

Entre as espécies, ele destaca o pau mulato que nesta época do ano fica com o tronco alaranjado. A árvore gigantesca fica na entrada da casa.

Além de visitar as exposições, é interessante assistir ao vídeo sobre a casa, projetado na sala de cinema que já existia e que mostra como o imóvel era quando servia de residência e era frequentado por políticos e artistas.

Escultura na Casa Roberto Marinho - Ricardo Borges / UOL - Ricardo Borges / UOL
Imagem: Ricardo Borges / UOL

Como Cavalcanti destaca, o jardim é convidativo para a contemplação, e tem bancos para que o visitante desfrute a vista. Em um cantinho, funciona o café Metiers, que serve brunch aos finais de semana, e não precisa de reserva.

Instituto Moreira Salles

Instituto Moreira Salles - Rio de Janeiro - Ailton Silva - Ailton Silva
Imagem: Ailton Silva

O casarão projetado, em 1948, pelo arquiteto Olavo Redig de Campos para a família Moreira Salles, na Gávea, abriga um centro cultural há mais de 20 anos. O jardim da entrada passou por um grande restauro após estragos causados por uma forte chuva, em fevereiro de 2019. Segundo conta Elizabeth Pessoa, diretora do local desde sua inauguração:

O temporal causou uma devastação, principalmente na parte frontal que perdeu centenas de espécies, 17 delas centenárias. Durante oito meses trabalhamos na reconstrução"

Instituto Moreira Salles - Rio de Janeiro - Ailton Silva - Ailton Silva
Imagem: Ailton Silva

Depois da tempestade, veio a bonança. Os jardins são vivos e, com o crescimento das plantas, muito do que Burle Marx tinha pensado para o espaço já não podia mais ser visto. "Havia um sombreamento porque as árvores estavam enormes. Algumas espécies não sobreviviam por falta de luz e, agora, as curvas, os desenhos, os diferentes tons de verde estão de volta. Foi algo que esse trabalho proporcionou."

Instituto Moreira Salles - Rio de Janeiro - Ailton Silva - Ailton Silva
Imagem: Ailton Silva

A reinauguração ocorreu poucos meses antes do início da pandemia. Passados quase dois anos, o jardim está em um ótimo momento. "Ele está crescendo com muito vigor, depois do que sofreu", afirma Pessoa. Além da programação cultural com exposições, o IMS tem um café, o Empório Jardim, com mesas ao ar livre que contemplam um mural em azulejos e uma fonte com carpas, também projetadas pelo paisagista. Por conta da pandemia, é necessário reservar.

Museu de Arte Moderna

Vista aérea do MAM, no Aterro do Flamengo - Getty Images - Getty Images
Vista aérea do MAM, no Aterro do Flamengo
Imagem: Getty Images

Junto com a orla de Copacabana, o Aterro do Flamengo compõe a mais notável obra de Burle Marx no Rio. "O MAM foi o primeiro equipamento construído no Aterro, um parque único, que corta vários bairros. O prédio foi construído para que o jardim pudesse estar dentro do museu, há uma permeabilidade enorme entre os dois", explica Fabio Szwarcwald, diretor executivo da instituição.

MAM - rio de Janeiro - Tereza Novaes - Tereza Novaes
Imagem: Tereza Novaes

Inaugurado em 1958, o edifício foi projetado pelo arquiteto franco-brasileiro Affonso Eduardo Reidy é um marco da arquitetura moderna, com sua estrutura de concreto sustentada por pilotis e paredes de vidro.

Outro jóia do modernismo brasileiro, o Palácio Capanema, também repetiu a dobradinha entre Burle Marx e Reidy, que assina o projeto arquitetônico com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Os dois prédios ficam próximos, mas o Capanema está fechado, em restauro, há mais de sete anos, e virou notícia recentemente ao ser incluído em uma lista de imóveis que o governo federal pretende vender.

Apesar de o MAM ter inclusive uma equipe própria para a limpeza da área ajardinada, há algumas partes menos conservadas, como a fonte que fica na praça de entrada. Não é algo que estrague o passeio, o local inclusive é bastante movimentado nos finais de semana, com famílias fazendo piquenique, grupos de dança e patinadores, além de ser um cenário disputado para ensaios fotográficos.

MAM - Rio de Janeiro - Tereza Novaes - Tereza Novaes
Imagem: Tereza Novaes
MAM - Rio de Janeiro - Tereza Novaes - Tereza Novaes
Imagem: Tereza Novaes

Há uma diferença perceptível entre o paisagismo do Aterro e o que circunda o museu. O jardim de pedra, canteiros com grandes seixos, além dos espelhos d'água com plantas aquáticas. Entre os planos de Szwarcwald, estão o religamento da fonte e mais atividades que aproveitem o espaço ao ar livre.

"A área externa é fundamental para acolher as pessoas, sob os pilotis sempre há o pessoal da dança, do patins e do skate. É um lugar extremamente rico. Agora, a gente quer promover cada vez mais atividades e torná-la um hub cultural."