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Onde você estava em 11/9? Moradores de NY relembram dia do ataque às torres

O jornalista e escritor Seth Kugel com o skyline de Nova York ao fundo - Alcir N. da Silva
O jornalista e escritor Seth Kugel com o skyline de Nova York ao fundo
Imagem: Alcir N. da Silva

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

10/09/2021 04h00

Os ataques terroristas que derrubaram as Torres Gêmeas completam 20 anos neste dia 11 de setembro.

Nestas duas décadas, a área onde ficava o antigo World Trade Center passou por um amplo processo de reconstrução, com a inauguração de obras como o arranha-céu One World Trade Center, com mais de 540 metros de altura; o 9/11 Memorial & Museum, que exibe os nomes das vítimas do atentado gravados em painéis de bronze ao redor de espelhos d'água; e o chamativo monumento arquitetônico Oculus, assinado por Santiago Calatrava e que, visto de fora, lembra uma ave com as asas abertas, prestes a alçar voo.

O edifício do One World Trade Center e, na parte inferior, o 9/11 Memorial & Museum - Brittany Petronella - Brittany Petronella
O edifício do One World Trade Center e, na parte inferior, o 9/11 Memorial & Museum
Imagem: Brittany Petronella

Mas o que nova-iorquinos pensam da nova paisagem criada na zona que abrigava as Torres Gêmeas — e que acabou se transformando em um destino turístico na Big Apple? E quais são suas lembranças mais marcantes do antigo World Trade Center?

Para saber isso, Nossa conversou com quatro pessoas (dois estadunidenses e dois brasileiros) que vivem em Nova York há mais de 20 anos. Veja o que eles falaram:

Evan Giniger, estadunidense
Nascido em Nova York e com a vida construída na cidade

Evan Giniger - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Qual era sua relação com o antigo WTC: "O World Trade Center era um símbolo da nossa paisagem. Chegando a Manhattan de carro ou pousando em Nova York de avião, eu me sentia em casa ao ver as torres. Para um nova-iorquino, o World Trade Center era como a Estátua da Liberdade, o Empire State Building e o Central Park. Era parte de tudo o que amamos aqui. E visitei as torres pelo menos 12 vezes na minha vida. Meus pais me levaram lá quando eu era criança e, depois de adulto, sempre levava amigos que estavam em Nova York para ver os prédios e subir até o topo".

Onde estava no dia 11/9: "Na manhã dos ataques, eu já estava no meu escritório, que ficava a apenas dois quilômetros das Torres Gêmeas. De repente, alguém chegou da rua e disse que o World Trade Center estava pegando fogo. Fomos até a janela, que oferecia uma vista clara para as torres e vimos fumaça saindo de um dos edifícios. A TV já informava que um avião tinha atingido o WTC, mas, inicialmente, pensamos que era uma aeronave pequena que havia batido por um erro do piloto. Porém, logo vimos o segundo avião aparecendo no céu e se chocando com a segunda torre. Fiz estas imagens:

Fotos feitas por Evan Giniger, de seu escritório, no dia do ataque - Evan Giniger - Evan Giniger
Fotos feitas por Evan Giniger, desde a janela de seu escritório, no dia do ataque
Imagem: Evan Giniger

Naquele momento, percebemos que não se travava de um acidente. As notícias diziam que Nova York estava sob ataque e as pessoas no escritório começaram a chorar. Por segurança, saímos do prédio, mas, quando chegamos à rua, vimos uma das torres desmorando. Logo depois, a cidade fechou: não havia mais trens, ônibus ou metrô circulando."

Naquele dia, voltei para a casa andando, em uma caminhada que durou três horas. A sensação era de choque e desamparo"

O que acha da área reconstruída: "Fico sem palavras quando visito o memorial às vítimas dos ataques e lembro daquela tragédia. Sempre penso que poderia ser eu em uma das torres no dia do atentado. Ou minha família. Ou algum dos meus amigos."

Como Nova York mudou com os ataques: "Sinto orgulho ao ver a linda arquitetura que hoje marca a área do antigo World Trade Center. E, mais ainda, ao ver como Nova York se recuperou e não se deixou quebrar pelos ataques."

O atentado não mudou o espírito da nossa cidade"

O 9/11 Memorial & Museum exibe os nomes das vítimas do atentado gravados em painéis de bronze ao redor de espelhos d'água - Brittany Petronella/NYC Company - Brittany Petronella/NYC Company
O 9/11 Memorial & Museum exibe os nomes das vítimas em painéis de bronze
Imagem: Brittany Petronella/NYC Company

José Nivaldo Santana, brasileiro
Mudou-se para a cidade há mais de 30 anos. Vive na Big Apple desde então

José Nivaldo Santana - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Qual era sua relação com o antigo WTC: "Depois de mudar para cá, visitei as Torres Gêmeas diversas vezes como turista. Era possível subir no topo do World Trade Center. Inclusive, estive lá em março de 2001, com familiares. Eu achava muito interessante a arquitetura dos prédios."

Onde estava no dia 11/9: "Na época, eu trabalhava em uma joalheria a dois quarteirões do Empire State Building, a cerca de 5 quilômetros do WTC. Mas, no dia 11 de setembro, fiquei em casa por causa de uma licença médica e vi os ataques pela televisão.

Saí para a rua e, de onde eu morava, no Queens, dava para ver bastante fumaça no céu e ouvir as sirenes. Havia muita gente chorando por todos os lados"

O que acha da área reconstruída: "Acho feiosa aquela torre, o One World Trade Center. E nunca mais voltei para passear naquele lugar depois dos ataques. Não acho certo fazer turismo em um local onde morreram tantas pessoas.

Para mim, seria a mesma coisa que passear em um cemitério"

José Nivaldo Santana, em foto de 1998, com as Torres Gêmeas ao fundo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
José Nivaldo Santana, em foto de 1998, com as Torres Gêmeas ao fundo
Imagem: Arquivo pessoal

Como Nova York mudou com os ataques: "A vida em Nova York não voltou totalmente ao normal nestes 20 anos. Hoje, convivemos com muito mais policiamento do que antes de 2001. Há um maior controle, por exemplo, para que as pessoas possam participar de grandes eventos, como a festa de Réveillon na Times Square. Nestas ocasiões, nossas mochilas ainda são revistadas e não é possível carregar objetos como guarda-chuvas. Mas Nova York ficou mais segura."

Seth Kugel, estadunidense
Morador de Nova York há décadas, é autor do canal Amigo Gringo, com vídeos que apresentam aspectos culturais nova-iorquinos para os brasileiros

Seth Gurgel, jornalista, nova york - Alcir N da Silva - Alcir N da Silva
Imagem: Alcir N da Silva

Qual era sua relação com o antigo WTC: "Por alguns anos, tive um emprego bem perto das Torres Gêmeas. E, por isso, sempre vi aquela região como um lugar de trabalho. E o World Trade Center era principalmente isso: um centro financeiro aonde as pessoas iam trabalhar. Nunca tive uma relação muito próxima com esta área de Nova York. Eu achava as Torres Gêmeas um pouco feias, mas sei que elas eram um símbolo da cidade".

Onde estava no dia 11/9: "Naquela época, eu já não trabalhava mais na área do WTC. Morava na rua 181, a 17 quilômetros das Torres Gêmeas, e, ao ligar a TV, a primeira torre já havia caído e a segunda estava pegando fogo. Mas, como ainda não sabia dos ataques, não percebi imediatamente que eram as Torres Gêmeas. Como só aparecia um prédio nas imagens, não caiu a ficha.

Foi difícil compreender que eu estava vendo a morte de centenas ou milhares de pessoas pela televisão"

O que acha da área reconstruída: "Estive lá há menos de um ano, e ainda há obras sendo levantadas. Vale a pena visitar o memorial. E o Oculus é uma obra bonita. Lá dentro, há um shopping com lojas elegantes. É um shopping center com uma arquitetura legal. Mas, pessoalmente, não me sinto muito interessado em visitar esta área de Nova York. Mas para quem quiser visitar, há muitas coisas para fazer lá atualmente."

O monumento arquitetônico Oculus, assinado pelo espanhol Santiago Calatrava - Brittany Petronella/NYC Company - Brittany Petronella/NYC Company
O monumento arquitetônico Oculus, assinado pelo espanhol Santiago Calatrava
Imagem: Brittany Petronella/NYC Company
Interior do Oculus, centro comercial levantado na região das Torres Gêmeas - Brittany Petronella/NYC Company - Brittany Petronella/NYC Company
Interios do Oculus, centro comercial levantado na região das Torres Gêmeas
Imagem: Brittany Petronella/NYC Company

Como Nova York mudou com os ataques: "A forma de policiamento na cidade mudou desde o atentado. Há maior presença da polícia em eventos públicos e em locais como o metrô. Mas, em diversos aspectos, a vida voltou ao normal. Além disso, muitos moradores atuais de Nova York não tinham nascido ou eram crianças em 2001 e não têm consciência do que aconteceu em 11 de setembro."

Elie Lima, brasileira
Mudou-se para a cidade em 1996. Vive na Big Apple desde então.

Elie Lima, Nova York - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Elie Lima, Nova York
Imagem: Arquivo pessoal

Qual era sua relação com o antigo WTC: "Trabalhei por muito tempo perto do World Trade Center. E as Torres Gêmeas sempre me marcaram muito com sua estrutura gigantesca. Era uma arquitetura linda. Eu me perguntava: 'como conseguiram fazer estes prédios enormes?'. Gostava muito da área. Para mim, era um lugar turístico".

Onde estava no dia 11/9: "No momento dos ataques, eu estava no metrô. E, no meio do caminho, os vagões pararam em uma estação, a polícia entrou e pediu para todo mundo sair. Eu subi para a rua e me deparei com a cidade parada. Voltei para a casa andando e, quando cheguei lá, vi os ataques na televisão. Parecia um filme de terror."

De onde eu morava, dava para ver a fumaça dos prédios. E, no começo, pensei que havia sido um acidente, que o piloto tinha batido o avião sem querer. Mas depois veio o segundo avião, o que me fez ver que era um ataque"

"E aí vieram as imagens das pessoas se jogando das janelas das Torres Gêmeas. Minha família começou a ligar desesperada do Brasil. Senti tristeza e agonia. Parecia que o mundo estava acabando."

O que acha da área reconstruída: "Hoje, não gosto nem de passar lá perto. Para mim, aquele lugar é um cemitério. É um cemitério onde construíram coisas bonitas, como o memorial para as pessoas que morreram.

É uma parte triste da cidade. Não faz sentido ver turistas tirando fotos lá"

O conjunto de novos monumento: o memorial, o Oculus e, ao fundo, a base do novo edifício - Brittany Petronella/NYC Company  - Brittany Petronella/NYC Company
O conjunto de novos monumento: o memorial, o Oculus e, ao fundo, a base do novo edifício
Imagem: Brittany Petronella/NYC Company

Como Nova York mudou com os ataques: "Depois dos ataques, fiquei com medo de entrar em locais como o metrô da cidade. E tenho um pouco deste medo até hoje. Medo de bomba ou de um ataque suicida. E, hoje dia, em certas ruas de Nova York, há câmeras por todos os lados. E, também, há mais policiais nas ruas".