Frio intenso e exaustão: a dura jornada no Aconcágua, o "teto" das Américas
Nem todos sabem que, não muito longe do Brasil, se encontra a montanha com o pico mais alto das Américas. Trata-se do Aconcágua, que fica na Argentina e cujo topo está a aproximadamente 6.960 metros de altitude.
No meio das lindas paisagens dos Andes, este cume, logicamente, é objeto de desejo de montanhistas do mundo inteiro.
Uma das pessoas que já conseguiram chegar lá em cima é o brasileiro Gabriel Tarso (@gtarso_) — que, para alcançar o "teto das Américas", viveu uma jornada cheia de obstáculos, superações e deslumbramentos.
"Quando mais novo, eu fazia muitas escaladas em montanhas da Serra da Mantiqueira. Mas, antes do Aconcágua, nunca havia me testado em grandes altitudes", com ele.
Não sabia quais eram meus limites neste tipo de ambiente hostil. E acabou sendo uma experiência incrível"
A expedição à montanha argentina durou cerca de duas semanas, com saída da cidade de Mendoza, um trajeto de carro até a região perto do Aconcágua e a longa caminhada para ir e voltar do cume, com paradas em acampamentos para pernoite no meio do caminho.
Os desafios, por sua vez, apareceram logo nos primeiros dias da viagem, quando o brasileiro chegou ao acampamento de Plaza de Mulas, a aproximadamente 4.300 metros de altitude.
"O acampamento estava sofrendo com um problema de escassez de água. E a água que chegava para a gente não estava tão pura", conta Gabriel.
Acabei sendo infectado por uma bactéria e tive diarreia. E isso é muito preocupante em altas montanhas, pois você fica desidratado e a aclimatação se torna muito mais difícil"
Plaza de Mulas é também o lugar onde muitos escaladores começam a sentir sérios desconfortos físicos causados pelo ar rarefeito.
"Lá, muita gente sofre com cansaço extremo, dor de cabeça, ânsia de vômito e diarreia por causa da altitude", relata Gabriel.
Porém, mesmo com a fraqueza gerada pelo problema da água e a preocupação com os efeitos negativos por estar em um ponto muito alto da Terra, o brasileiro foi em frente, enfrentando os terrenos acidentados e íngremes do Aconcágua.
E o peso sobre seus ombros não era pouco: fotógrafo profissional, ela carregava, junto com sua mochila, equipamentos como câmera com enormes lentes e tripé.
Resistência
O trajeto rumo ao cume mais alto das Américas é um verdadeiro exercício de paciência e resistência.
O percurso, por exemplo, envolve diversos procedimentos de aclimatação, nos quais os escaladores têm que sair de seus acampamentos, subir centenas de metros na montanha e, depois, no mesmo dia, voltar para os acampamentos lá embaixo.
Segundo Gabriel, isso ajuda o corpo a se acostumar com os efeitos da altitude e facilita a subida oficial realizada posteriormente para pontos mais avançados na montanha.
Entre estas cansativas idas e vindas, entretanto, o brasileiro teve tempo para admirar todas as paisagens naturais que envolvem o Aconcágua.
No dia a dia, após caminhar por horas em um ambiente frio e extremamente seco, ele conseguiu observar, de ângulo privilegiado, os horizontes andinos no seu entorno.
"O Aconcágua é uma montanha linda. É fantástico estar lá. Me vi rodeado por lindas paisagens. Você olha o horizonte e sente vontade de também escalar as outras montanhas da área".
Já na parte da noite, nos acampamentos onde dormiu durante a escalada (com as barracas montadas entre rochas e neve e, às vezes, com vista incrível sobre enormes encostas), Gabriel se via constantemente sob um céu aberto e estrelado, em imagens que ele captou com maestria com suas câmeras fotográficas (mesmo estando às vezes com os dedos extremamente gelados).
Rumo ao cume
No dia do trajeto final rumo ao cume do Aconcágua, Gabriel deixou seu acampamento a cerca de 6.000 metros de altitude ainda de madrugada e encarou um percurso difícil sob um frio intenso.
É um caminho muito íngreme, com muita altura, e onde você não pode andar em um ritmo mais lento do que o habitual, para não deixar o corpo esfriar muito"
"Nestas condições, as extremidades do corpo, como as pontas dos dedos e a ponta do nariz, podem congelar. Então, é necessário manter o ritmo da caminhada. Foi um dia muito tenso e exaustivo", lembra o brasileiro.
Mas, ao chegar ao pico mais alto das Américas, a quase 7.000 metros de altitude, a sensação foi de recompensa.
O cume foi incrível. Estava um dia perfeito, sem muito vento. Consegui fazer grandes fotos"
"Escalar gera um autoconhecimento enorme. E, na montanha, estou em um lugar que me agrada. É um lugar onde sempre quis estar", diz.
E chegar ao topo das Américas não bastou para Gabriel. No último mês de maio, ele atingiu o cume do Everest, o mais alto do mundo, em uma expedição marcada por um feito histórico realizado pela montanhista brasileira Aretha Duarte, a primeira negra latino-americana a fazer a chegar no topo do planeta.
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