Nunca correr nem encarar: as regras de sobrevivência no território de ursos
Ao fazer trilhas na natureza, muita gente busca ter encontros próximos com animais selvagens.
Mas o que acontece quando, durante uma caminhada entre rios e bosques, você se depara com um bichão peludo que pesa centenas de quilos, chega a ter mais de 2 metros de altura quando fica em pé e tem força para destroçar um ser humano em poucos segundos?
Este tipo de experiência é vivida por trilheiros no noroeste da América do Norte, em regiões como British Columbia (no Canadá) e Alasca (Estados Unidos).
Lá, pessoas que realizam viagens frequentes em ambientes selvagens costumam deparar-se com gigantescos e assustadores ursos, como os "grizzly bears".
O cientista ambiental canadense Jamie Albino, por exemplo, tem um longo currículo de tours por áreas selvagens de regiões de seu país como British Columbia e Northwest Territories, onde é possível admirar horizontes marcados por montanhas, rios e bosques.
Mas, nestas incursões na natureza, ele já se viu frente a frente com enormes ursos em diversas ocasiões.
"Certa vez, estava com um amigo e seu cachorro em uma área remota de British Columbia e, de repente, vimos, a alguns metros de distância, um urso grizzly em pé nos olhando através da mata. Fiquei impressionado, pois o cachorro começou a tremer com a presença daquele animal", conta ele.
Pegamos o carro, fomos embora, mas, na estrada logo adiante, nos deparamos novamente com um grizzly. É bem possível que fosse o mesmo urso. Acho que ele estava nos stalkeando"
Para Jamie, é muito difícil saber como alguns destes bichões irão reagir na presença de humanos. Ele já conseguiu fotografar famílias de ursos caminhando tranquilamente pela mata a não muitos metros de distância e, também, já se deparou com o poder de destruição das feras.
"Fiz uma trilha na região dos Northwest Territories e, ao chegar a um ponto de acampamento da área onde não havia ninguém. Notei que estava tudo devastado, provavelmente por um grizzly", lembra.
A porta da cabana havia sido destruída e os alimentos que estavam lá dentro foram devorados. Havia vômito e cocô de urso por todas as partes"
Em outra ocasião, ele estava viajando com sua esposa e dois cachorros por uma zona selvagem de British Columbia e, ao parar perto de um bosque para colher cogumelos, o canadense viu um grizzly olhando para ele, do meio das árvores.
"Meu cachorro começou a latir de maneira agressiva e fiquei com medo de que ele atacasse o urso. E o grizzly começou a vir em nossa direção, até ficar a uns 10 metros de distância. Cheguei a pegar um rifle, mas ele virou e foi embora".
Técnicas de sobrevivência
Para sobreviver a estes encontros com ursos, viajantes adotam curiosas técnicas que permitem que as trilhas sejam cruzadas com bastante segurança.
Jamie, por exemplo, sempre presta atenção na direção do vento ao atravessar, a pé, territórios onde há a presença de ursos potencialmente agressivos.
É sempre importante caminhar a favor do vento, para que seu cheiro chegue até os ursos. É fundamental que eles saibam que você está na área e que sintam, de antemão, que você não representa perigo"
"Nestes casos, eles geralmente não perturbam os humanos e você acaba nem sabendo que eles estavam por perto. Mas, se forem pegos de surpresa com a sua presença, eles podem ficar muito agressivos", complementa.
A canadense Tera Dabner é outra trilheira com muita experiência no noroeste da América do Norte.
Ela já teve encontros com "grizzlies", por exemplo, em regiões como o Wrangell-St.Elias National Park and Preserve, uma área recheada de rios, montanhas e bosques no Alasca.
"Eu estava com um grupo de 10 pessoas no Wrangell-St.Elias National Park and Preserve. Após cruzarmos um rio, exaustos e molhados, nos deparamos com um grizzly gigantesco. Nesta hora, é fundamental não se desesperar e não correr. Começamos a andar para trás bem devagar e saímos do campo de visão do animal", relata ela.
Acampamos na região naquela noite e, quando estava tudo escuro, ouvimos barulhos de ursos perto das barracas. Eles acabaram indo embora, mas ninguém dormiu naquela noite"
Tera conta que, quando se vê frente a frente com um urso, jamais olha nos olhos do animal, pois isso pode despertar reações perigosas no bicho. Além disso, não considera um bom presságio encontrar fofos filhotinhos de urso no meio das trilhas.
"Se a mãe dos filhotes estiver por perto, ela pode sentir que humanos são uma ameaça para suas crias. A situação pode ficar bem perigosa".
Já quando monta acampamento em regiões em que há presença destes animais, ela projeta mentalmente um amplo triângulo sobre o terreno do camping e adota uma técnica que promete trazer mais segurança para as pessoas ali presentes.
"Em uma ponta deste triângulo imaginário, levanto as barracas. Na outra ponta, monto os equipamentos de preparação de comida. E, na terceira ponta, a uma distância segura, deixo os alimentos, de preferência pendurados em lugares altos. Você não vai querer largar comida perto das barracas, pois isso pode atrair ursos famintos para muito perto do grupo".
Famintos por tudo
Jamie, por sua vez, diz que ursos como os grizzlies podem ser atraídos por qualquer tipo de cheiro e conseguem comer basicamente qualquer coisa.
"Eu nunca deixo, por exemplo, desodorantes dentro da minha da barraca. Ursos sentem cheiros à longa distância e podem achar que aquilo é comida. E são animais que mastigam tudo", conta.
Há casos de grizzlies que comeram tanques de lanchas paradas em margens de rios, pois sentiram o odor do combustível e quiseram engolir aquilo"
E viajantes que exploram determinadas áreas selvagens do noroeste da América do Norte também caminham equipados com um spray que traz uma fórmula que atua como repelente de ursos.
Tera e Jamie, porém, afirmam que nunca precisaram usar este recurso.
"Ursos não são maus. Eles não ficam caçando humanos para matá-los. Mas é preciso saber se adaptar ao seu território", diz o canadense.
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