Fotógrafo "caça" locais abandonados e registra marcas do tempo; veja fotos
O português André Ramalho, de 31 anos, costuma descrever o termo Urbex (exploradores urbanos) com uma frase: "É o ato de visitar locais que se encontram ao abandono e registrá-los em fotografia documental. Essa prática consiste em manter o mais intacto possível o local que se visita".
Apaixonado por lugares abandonados e fotografia, ele resolveu unir os dois fascínios e criou um site no qual partilha suas aventuras aos locais mais ermos do país. O hobby foi além de suas expectativas e chegou a ser eleito Blog do Ano em Portugal, em 2018.
Natural de Caldas da Rainha, distrito de Leiria, Ramalho já visitou casas, fábricas, usinas, lojas, hotéis, clubes, shopping centers, barcos, restaurantes, hospitais, boates e palácios, todos eles abandonados, revelando o interior desses ambientes ignorados pelos seus responsáveis.
Alguns dos lugares foram desabitados com toda a mobília e objetos pessoais, um verdadeiro tesouro para qualquer colecionador de antiguidades.
Em suas andanças por casarões de famílias de posses, o explorador urbano já se deparou com itens possivelmente valiosos como: violinos, rádios, louça, joias e até pianos, além de móveis de madeira em bom estado.
"O site começou com o intuito de partilhar algumas fotos e histórias sobre os vários locais abandonados que fui visitando em Portugal".
Os perigos da aventura
Entrar nesses ambientes não é uma tarefa simples, envolve uma série de riscos, desde estruturas instáveis, buracos no chão e animais peçonhentos, a pessoas que usam as casas para atividades ilícitas e até mesmo o dono do local que não abandonou o que parecia estar abandonado.
Indagado como descobre tantos lugarejos perdidos ao longo do tempo e dos mais variados em um país tão pequeno como Portugal, Ramalho responde que tudo começa com uma pesquisa que conta com a ajuda do Google Maps.
Ele também segue a indicação de leitores do site. Em seguida, vem o deslocamento até o imóvel, que muitas vezes pode estar inacessível pela vegetação — mas o aventureiro sempre dá um jeito.
Endereços secretos
Designer gráfico por profissão e fotógrafo por vocação, ele percorre o país em busca desses espaços por vezes sombrios e em ruínas, ressaltando que nunca revela a localização para evitar a ação de vândalos e de saqueadores — embora, infelizmente, não raro eles chegaram antes dele deixando um rastro de bagunça e pichações.
No caso de fábricas e de clubes conhecidos, às vezes os nomes são revelados. Em outras ocasiões, ele dá apelidos — como "Casa de Bonecas" —, para distinguir os recintos sem expor o endereço.
Segundo o blogueiro, o abandono pode ter várias motivações: falecimento, fracasso econômico, mudança de cidade/país e desinteresse dos herdeiros.
Ramalho não apenas registra, ele também se esforça para descobrir a história do lugar. Algumas vezes consegue informações conversando com vizinhos ou mesmo lendo diários e cartas.
Em uma das residências desabitadas com toda a mobília, por exemplo, correspondências indicavam que a família emigrou para os Estados Unidos e a casa de férias foi deixada de lado no decorrer dos anos.
Baseado nessas mensagens, ele calcula que grande parte do abandono data dos anos 1990 e início dos 2000. O fotógrafo acredita que seu trabalho pode sensibilizar as pessoas para o valor histórico dos locais esquecidos.
"Sinto que mostrar esses lugares de alguma forma posso ajudá-los a não morrerem. É como guardá-los para sempre, mesmo que apenas em fotografias".
E para aqueles que desejam seguir os seus passos, Ramalho dá um conselho essencial: nunca vá sozinho, pois acidentes podem acontecer. E diz isso por experiência própria.
Em 2018, ele estava em um desses lares quando caiu ferindo gravemente a mão. Felizmente, conseguiu pedir ajuda para algumas pessoas que estavam passando próximo à área e foi encaminhado para um hospital.
Enquanto as casas abandonadas no Brasil costumam estar completamente vazias, em Portugal a situação é diferente. As imagens de Ramalho, com habitações com móveis, quadros, fotos, livros e outros pertences, permitem viajar no tempo e aguçam a curiosidade. Quem viveu ali? Como era a sua vida?
De certa forma, o jovem português acaba transformando propriedades negligenciadas em uma espécie de tour virtual em sua página online. Construções que ainda resistem, resta saber até quando.
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