Linguiça de carne humana e fantasmas inspiram tour macabro em Porto Alegre
Um passeio a pé pelo Centro Histórico de Porto Alegre focado em histórias macabras e mal-assombradas — muitas delas verdadeiras — é uma opção inusitada para o turista que visita a capital gaúcha.
O músico e pesquisador André Neto, do Porto Alegre Mal Assombrada, é o responsável por conduzir o tour de duas horas que percorre ruas e becos passando por seis pontos no trajeto — entre igrejas, casarões, praças, museu e a antiga Rua do Arvoredo, palco do aterrorizante caso real do açougueiro que fazia linguiça com a carne de membros da alta sociedade assassinados.
"Porto Alegre é uma cidade mística. O centro da cidade está em cima de uma rocha gigantesca e tem muita energia concentrada no local'', explica André referindo-se ao viaduto Otávio Rocha, inaugurado em 1932 — o elevado é o ponto de encontro das pessoas que procuram um turismo alternativo.
1ª parada
Partindo do viaduto Otávio Rocha, em apenas 2 minutos a pé chega-se ao Museu Júlio de Castilhos (rua Duque de Caxias, nº 1205). Próximo à Catedral Metropolitana, ao Palácio Piratini e à Praça da Matriz, o museu é o mais antigo do estado, fundado em 1903, e ocupa o antigo casarão onde viveu e morreu o ex-governador Júlio de Castilhos.
''É considerado mal-assombrado por muito. Castilhos morreu dentro de casa após um procedimento cirúrgico na garganta. Chega a ser irônico, porque ele foi responsável pela Guerra das Degolas, onde morreram centenas de pessoas degoladas. Dois anos depois, sua esposa comete suicídio na mansão e a família inteira mudou-se para o Rio de Janeiro sem levar absolutamente nada'', conta o guia.
Em uma mescla de lendas de urbanas com fatos históricos, André relata que muitas pessoas afirmam ver a imagem de Honorina, esposa de Júlio de Castilhos, através do espelho.
As pessoas a veem chorando no casarão, escutam seus passos e até funcionários da casa já pediram demissão por terem visto coisas"
2ª parada
Na mesma rua do museu, a Catedral Metropolitana é o próximo destino. "A Igreja foi construída em cima do primeiro cemitério de Porto Alegre. Antes disso, havia vestígios que o local era um cemitério indígena — pesquisadores acharam várias covas muito rasas no local, com cerca três palmos", diz André.
Na época, quando chovia muito, era comum as pessoas verem corpos descendo lomba abaixo na rua Espírito Santo''
Entre os detalhes esculpidos na construção da Catedral Metropolitana, merecem destaque as imagens de índios. ''Na lateral da igreja, numa parte não lapidada é possível ver esculturas de índios suportando o peso da igreja, como se fosse uma civilização suprimindo a outra, uma mensagem subliminar", explica.
3ª parada
Um dos pontos mais curiosos e macabros do tour é a antiga rua do Arvoredo, atualmente chamada de Coronel Fernando Machado. Ela foi palco de um dos casos mais famosos do noticiário policial-bizarro brasileiro. Em 1883, o catarinense José Ramos e sua amante, a húngara Catarina Paulsen, iniciaram uma série de crimes em Porto Alegre.
Catarina seduzia os homens mais ricos da capital e os levava para um casarão na rua do Arvoredo. No local, as vítimas eram mortas e mutiladas pelo casal para o açougueiro Carl Claussner entrar em ação. Com os restos mortais ele produzia e vendia linguiça misturada com carne bovina, sal, pimenta entre outras especiarias. A "iguaria" era então vendida a pessoas da alta classe social.
Anos depois, cansado de ser cúmplice dos assassinatos, Carl disse ao casal que não participaria mais dos ''negócios'' e acabou morto por José Ramos e enterrado no quintal do açougue. Encerrava-se assim a fabricação de linguiças humanas.
Anos mais tarde, Catarina confessa à polícia os dez crimes. Após um longo julgamento, Ramos foi condenado à pena de morte e a amante a 13 anos de detenção sob regime de trabalhos forçados. O catarinense negou todos os crimes até morrer, na Santa Casa de Porto Alegre, em 1893.
Hoje, a casa da rua do Arvoredo não existe mais. No local, há um prédio residencial, mas a história sobre o açougueiro e as linguiças recheadas de carne humana continua sendo contada de geração em geração.
4ª parada
Não tão distante dali, na esquina das ruas Fernando Machado e General Vasco Alves, esta o 'Castelinho do Alto da Bronze, como ficou conhecido.
A fortaleza foi palco de uma história que envolve amor, ciúmes e cárcere privado. Na década de 1940, Nilza Linck, uma jovem de 18 anos, foi mantida presa dentro do castelo pelo seu amante, Carlos Eurico Gomes, 22 anos mais velho do que ela.
Carlos mandou construir o castelo prometendo para Nilza uma vida de princesa. Porém, a jovem permaneceu em cárcere privado por quatro anos e foi torturada psicologicamente devido ao ciúme doentio do seu companheiro, até que conseguiu fugir"
Carlos Eurico Gomes era um político muito poderoso e estava casado com Ruth Caldas, irmã do proprietário do jornal Correio do Povo, que existe até hoje. A traição foi considerada um escândalo que abalou o moralismo vigente da época.
5ª parada
O Largo da Forca fica localizado na praça Brigadeiro Antônio Sampaio, próximo à Usina do Gasômetro, e foi reurbanizada em 1965. Como o próprio nome indica, o local foi palco de enforcamentos — entre 1821 a 1857, cerca de 20 pessoas foram mortas no local, entres homens brancos e escravos.
Há relatos de pessoas que, hoje, ao passar pelo largo à noite, veem homens enforcados em árvores, ouvem gritos de vingança, pedidos de clemência e choros. Tem gente que, por medo, nem passa perto''
No século 19, muitas pessoas que residiam nas proximidades da praça acabaram se mudando por conta dos enforcamentos e da energia negativa da região. Posteriormente, a prefeitura de Porto Alegre mudou o nome da praça para Largo da Harmonia, com quadras de esportes e espaços de lazer.
6ª parada
A alguns quarteirões do Largo da Forca, já na tradicional rua da Praia, há uma belíssima igreja chamada Nossa Senhora das Dores, a mais antiga de Porto Alegre. Segundo a lenda, durante a construção do santuário, em 1803, o local foi amaldiçoado por um escravo que trabalhava na obra.
O sujeito se chamava Josino e era acusado por um crime que ele não cometeu. Antes de ser condenado à forca, ele rogou uma praga afirmando que nenhum de seus acusadores, inclusive o patrão, veria a igreja pronta.
Tal ''maldição'' se confirmou: a igreja levou cerca de 100 anos para ser concluída. "Os padres comentam quando estão realizando alguma obra na Igreja e começa a dar problemas, eles dizem: 'Josino está aí, vamos ver o que ele quer''', conta André no tour.
Vai lá: o passeio acontece em noite de lua cheia e pode ser reservado no Descubra Poa.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.