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Argentina vai reabrir fronteiras, vale marcar viagem? "Melhor esperar"

Casal dança tango na rua no Caminito, em Buenos Aires - iStock
Casal dança tango na rua no Caminito, em Buenos Aires
Imagem: iStock

Luciana Taddeo

Colaboração para Nossa

24/09/2021 04h00

As autoridades da Argentina anunciaram nesta terça-feira (21) a abertura de fronteiras com países limítrofes (confira as regras), a partir de outubro. Meses após a proibição da entrada de estrangeiros não residentes no país, no final do ano passado, a notícia gerou expectativa entre brasileiros.

Mas quem tentou marcar a viagem nos últimos dias, encontrou preços de passagens nas alturas — se é que encontrou. Isso porque desde março a Argentina suspendeu voos com o Brasil, para evitar a entrada de variantes da covid-19, e as frequências aéreas autorizadas são mínimas. Até novembro, o governo argentino planeja flexibilizar a restrição. Cruzeiros também serão retomados.

Aldo Elías, segundo vice-presidente da Câmara Argentina do Turismo - Divulgação - Divulgação
Aldo Elías, segundo vice-presidente da Câmara Argentina do Turismo
Imagem: Divulgação

Apesar de o anúncio do calendário e das mazelas do setor, o segundo vice-presidente da Câmara Argentina do Turismo, Aldo Elías — com a experiência de quem ocupou a presidência da entidade durante todo o período da pandemia e mudou de cargo há um mês —, sugere que os brasileiros esperem para marcar sua viagem.

Em entrevista exclusiva a Nossa, ele explica por que, e fala das perspectivas para a reabertura, como a possibilidade de incentivos como passagens gratuitas para estimular o turismo no país.

Como recebem a notícia da reabertura de fronteiras?

O impacto da pandemia no setor foi catastrófico. O mundo do turismo parou violentamente e no nosso país mais, porque começamos uma quarentena obrigatória em março de 2020, com a atividade turística proibida até o fim do ano, e depois tivemos que esperar mais 9 meses para começar a falar de abertura de fronteiras. Também foi proibido realizar congressos e exposições.

As cidades com maior quantidade de alojamentos estão com índices gravíssimos de ocupação. Buenos Aires está com 30% da sua hotelaria fechada e os hotéis abertos têm cerca de 8% de ocupação mensal.

Foi um prejuízo enorme. Se Deus quiser, as fronteiras abrirão em novembro, e para países limítrofes em 1º de outubro.

Avenida Corrientes, em Buenos Aires, em foto tirada durante a pandemia: a capital esvaziada - Getty Images - Getty Images
Avenida Corrientes, em Buenos Aires, em foto tirada durante a pandemia: a capital esvaziada
Imagem: Getty Images

Estes 30% de hospedagens em Buenos Aires fecharam definitivamente?

Acho que a partir de novembro, quando a atividade for retomada, estaremos em condições de dizer quantas empresas não voltarão a abrir. Hoje, são 150 mil postos de trabalho perdidos, 20 mil empresas fechadas, mas não tenho certeza de que elas não voltarão a abrir quando houver uma reabertura firme e não dubitativa — porque neste momento não temos certeza de que esta abertura vai se manter. Nenhuma empresa fechada vai abrir as portas enquanto não tiver certeza de que a normalidade chegou para ficar.

Ou seja, nem tudo estará funcionando quando as fronteiras reabrirem?

Os anúncios acabam de ser feitos e sem grandes precisões, então primeiro temos que ver o que vai acontecer. Tinham dito que turistas do Uruguai e do Chile poderiam entrar a partir de 6 de setembro, o que não aconteceu. Não quero transmitir uma situação que não esteja totalmente definida, e também é preciso ver quais serão os requisitos da reabertura.

O Chile, por exemplo, anunciou a reabertura das fronteiras a partir de 1º de outubro, com quarentena obrigatória, mas ninguém vai para um destino para ficar dias fechado em um hotel, não tem lógica. Então vamos esperar os anúncios e fazer reuniões com os ministérios para transmitir essas informações para o mundo. Porque se eu não posso dizer em que condições os brasileiros poderão vir, qual é o incentivo para eles viajarem para cá? Só o câmbio favorável não é suficiente.

Aviões no Aeroporque, aeroporto central de Buenos Aires: poucas rotas e preços altos para ir à Argentina - Getty Images - Getty Images
Aviões no Aeroporque, aeroporto central de Buenos Aires: poucas rotas e preços altos para ir à Argentina
Imagem: Getty Images

O que o senhor diria para o brasileiro que precisa remarcar passagem ou quer vir para a Argentina?

Para esperar mais uns dias, para poder saber claramente quais serão as exigências do governo para quem escolher vir passar suas férias na Argentina e qual, finalmente, será a data de abertura. Sei que tem muita gente do Brasil que quer vir há muito tempo, e argentinos que querem receber brasileiros, mas não devemos ter pressa.

É melhor esperar um pouquinho para não complicar as coisas, ficar mudando permanentemente os voos e estadias. Acho que haverá a partir de 1º de novembro a abertura total de fronteiras, mas vamos esperar para saber todos os requisitos. O mais sensato neste momento é esperar.

Como vocês imaginam que será a regularização da frequência aérea com a Argentina? Está complicado encontrar passagem e estão caríssimas.

Houve uma situação muito complicada com as companhias aéreas em geral, e a Argentina, em particular, descuidou muito da conectividade. Esperamos que isso seja resolvido de forma imediata, senão vamos ter um cenário de fronteiras abertas, mas ninguém vai pagar por uma passagem nos preços atuais. Sabemos claramente que somente com ampla oferta de assentos os preços ficam competitivos, senão as pessoas escolherão viajar para destinos com passagens mais baratas.

Em algum momento foi mencionada a possibilidade de incentivos para a vinda de estrangeiros, como descontos em passagens. Vocês estão solicitando isso para o governo? É possível colocar em prática mesmo com esta crise econômica na Argentina?

A Argentina lançou um programa de incentivo para a reativação turística, o Pré-Viagem, que foi a maior contribuição que um governo já deu para a atividade turística na história do país, está sendo um sucesso fenomenal, espetacular para o turismo interno. Falamos com o ministério do Turismo para pensar em um regional, porque acreditamos que só o câmbio favorável não é suficiente, será necessário mais para captar o interesse da região na Argentina.

Como estamos com um problema de conectividade, podemos ter problemas com os preços das passagens aéreas, então uma das possibilidades era justamente que o Instituto Nacional de Promoção Turística, que promove a Argentina no exterior e não conseguiu usar o orçamento em stands em feiras ao redor do mundo no último ano e meio, possa comprar passagens das Aerolíneas Argentinas e incentivar um Pré-viagem regional.

Essa ferramenta pode ser muito interessante, e se você analisar objetivamente, seriam fundos que só podem ser utilizados para a promoção turística pagos à companhia aérea estatal, ou seja, o dinheiro continua no Estado. Isso não está definido, nem acordado, por enquanto são só conjecturas, mas o governo está avaliando seriamente.

Acho que pode chegar a se concretizar e permitiria gerar um movimento mais intenso de turistas da região para a Argentina, em um momento em que estão em jogo muitos postos de trabalho e empresas que não sei se aguentariam mais 30 ou 60 dias sem turismo.

Como disse, ainda não tem nada definido, mas haveria uma contrapartida. Por exemplo, se a média de estadia dos brasileiros na Argentina é de quatro noites, a proposta seria ficarem seis noites e terem a passagem aérea sem custo. Se a média dos brasileiros é visitar duas províncias na viagem, talvez o incentivo seria visitar uma terceira província, e damos a passagem sem custo.

Nunca seria grátis, sempre haveria uma contrapartida, e acho que é isso que faz o programa atraente, porque serviria para as duas partes.