Guia em Noronha faz sucesso clicando turistas com "poses de blogueira"
Sabe aquelas fotos cheias de poses e figurino esvoaçante em cenário paradisíaco que parecem só existir em Instagram de blogueira? Em Fernando de Noronha (PE), um guia de turismo está fazendo sucesso ao replicar esses cliques instagramáveis com os viajantes que visitam o arquipélago.
As dicas bem-humoradas e os movimentos e ângulos inusitados da câmera — que lhe garantiram o apelido de drone humano — foram "estudados" pelo condutor Yuri Ewerton (@noronhacomyuri), de 36 anos, durante o difícil período da pandemia da covid-19.
Impedido de trabalhar por quase oito meses, Yuri trocou o dia pela noite, viu as dívidas acumularem e se preocupou com o futuro do turismo noronhense.
Foi um perrengue. Não recebemos turista nenhum durante o fechamento da ilha e eu nem conseguia dormir de noite", descreve esse potiguar de Natal, há 11 anos em Noronha.
Era preciso se reinventar. Yuri encontrou no mundo virtual inspiração para dar um novo rumo a problemas reais: buscou referências em vídeos postados por outros usuários e esquadrinhou em detalhes o "jeito que as blogueiras deitam" para fazer fotos de viagens.
"O movimento era pouco quando as medidas foram flexibilizadas em Noronha, mas eu precisava fazer algo diferente. Foi quando comecei a me inspirar em outros perfis", lembra.
Olha o passarinho
"Uma perna um pouquinho mais na frente do que a outra. Sua cabeça vai ficar aqui nessa pedrinha. Confortável, não. Se amostra", orienta o guia-fotógrafo em um dos registros que Yuri publicou em seu perfil no Instagram.
Feitas com o próprio celular e com uma segunda câmera do cliente, Yuri foi ficando conhecido pelas fotos e vídeos cheios de efeitos de transição, trilha sonora "ao vivo" acionada pelo próprio telefone e muito bom humor.
Esse profissional autodidata, que já trabalhou em restaurante e vendeu caipiroscas em festas da ilha, começou sua nova carreira usando a esposa como cobaia e aparecendo mais nos próprios vídeos de divulgação que postava nas redes sociais.
"Ninguém viaja mais só para conhecer o lugar, o pessoal quer mostrar também como foi a experiência. E a melhor forma de mostrar isso é com fotos e vídeos", ensina Yuri, que há seis anos trabalha como condutor autônomo em Noronha.
Recentemente, Danielli Caetano da Mata Nascimento, de 31 anos, passou uma semana na ilha com o marido e o filho. Entre as atividades, essa família paranaense de Londrina fez com Yuri uma versão privativa do Ilha Tour, um dos clássicos do destino.
Para ela, o bom humor e o inusitado do serviço foram os motivos para a família contratar o serviço de Yuri.
"O passeio em si é formidável, mas achei o trabalho dele diferente do que os outros proporcionavam. Ele é muito divertido, deixa a gente à vontade e ainda ajuda a pegar o melhor ângulo na melhor paisagem", descreve Danielli.
Para garantir os melhores registros dos clientes, Yuri procura fazer fotos espontâneas. "Daquelas que a pessoa mexe os cabelos de verdade e sorri de verdade, eu faço uma piadinha pra ela rir e daí eu tiro a foto", explica.
E não são só as turistas que entram no casting da timeline do condutor. Casal que viaja junto, vira celebridade também.
"Aqui você fica parada. O resto eu faço", garante Yuri, em um dos seus vídeos.
A gente custa acreditar mas, mesmo com aquela performance desembaraçada na frente da tela, Yuri faz questão de avisar que é... tímido.
"Eu tenho vergonha de ficar me mostrando, tem que ser espontâneo. Se tiver que repetir uma gracinha que eu fiz, dai eu travo", conta o condutor.
Drone humano
São tantas possibilidades de registros (aliadas a uma dose extra de criatividade) que Yuri já é conhecido na ilha como drone humano.
"Uma vez, fazendo um movimento lento para achar o melhor ângulo para uma foto, apertei sem querer o botão de vídeo no celular de uma turista", lembra. A cliente adorou o efeito, e Yuri acabava de inventar o conceito tabajara de fazer registros aéreos, simulando com as próprias mãos o percurso de um drone.
Segundo informou à reportagem, Yuri cobra R$ 1 mil para guiar pequenos grupos durante nove horas de passeio, incluindo paradas nos endereços mais famosos da ilha, como o Morro Dois Irmãos e o mirante da Praia do Sancho, figura fácil nas listas das mais bonitas do mundo.
"Nem incluo o trabalho das fotos e vídeos porque não tenho equipamento profissional de fotografia. Eu não me sinto cômodo para cobrar por isso", confessa o condutor, lembrando que a gasolina em Noronha "está quase R$ 9 o litro" e o aluguel de "um quarto e banheiro sai cerca de R$ 3 mil mensais".
Conforme a reportagem apurou, algumas agências de turismo locais têm investindo também em saídas personalizadas com o acompanhamento de profissionais que conduzem ensaios fotográficos em Noronha.
As sessões de duas horas, aproximadamente, custam a partir de R$ 1.800 (com transfer e arquivo digital com 40 fotos editadas em alta resolução) e podem incluir fotografias subaquáticas que colocam o turista no lugar certo (e na hora exata) para aquelas fotos que a gente achava que só as blogueiras sabiam fazer.
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