Escolta armada e gases tóxicos: a aventura de visitar o "Portão do Inferno"
A África tem paisagens que poderiam muito bem fazer parte do Éden, como as cataratas Victoria Falls e o monte Kilimanjaro. No norte da Etiópia, porém, há um lugar que contrasta imensamente com estes cenários paradisíacos do continente.
Trata-se de uma região batizada de Depressão de Danakil — e que no mundo do turismo é chamada, de maneira assustadora, de "Portão do Inferno". E o apelido não é exagero.
A Depressão de Danakil está situada a aproximadamente 120 metros abaixo do nível do mar e constitui um dos lugares mais quentes da Terra. É um local com extensas partes desérticas, de intensa atividade vulcânica e onde as temperaturas se encontram constantemente acima dos 45 ºC (e, às vezes, batem nos 50 ºC).
É, portanto, um destino para ser evitado, certo?
Não para o brasileiro Danilo Ortiz Ribeiro, que, ao visitar a Etiópia, fez questão de realizar a longa viagem rumo ao "Portão do Inferno".
Ainda no Brasil, assisti a um documentário que mostrava as paisagens da Depressão de Danakil. E aquilo me impressionou. Eu nunca tinha visto nada igual, parecia algo de outro mundo. Fiquei com muita vontade de visitar"
A jornada, porém, não foi fácil.
Para chegar ao destino, Danilo teve que pegar um avião da capital etíope (Addis Abeba) até a cidade de Mekele, no norte do país, e lá buscar alguém com expertise para realizar este tipo de tour.
Não dá para visitar Danakil sozinho. É um dos lugares mais inóspitos da Terra. Você precisa estar com um guia"
Com um pacote contratado em Mekele, o brasileiro subiu em um veículo 4x4 com um guia e outros três viajantes estrangeiros e rumou para o "Portão do Inferno". E a viagem foi exatamente como ele esperava: única, árdua e incrível.
Vulcão à noite
O pacote que Danilo contratou previa quatro dias de viagem pela Depressão de Danakil e, durante este tempo, longos deslocamentos de carro por toda a região.
"Depois que saímos de Mekele, dirigimos mais de sete horas para chegar ao primeiro ponto de interesse da viagem, o Erta Ale, um vulcão ativo que existe nesta parte da Etiópia. Já era fim de tarde quando chegamos ao vulcão".
O horário, porém, era mais do que propício: com seu guia e companheiros de viagem, o brasileiro subiu pelas encostas do vulcão quando já era noite e, quando chegou lá em cima, depois de quase três horas de caminhada, pôde se aproximar da borda da cratera para ver e, lá embaixo, um lago de lava.
É incrível ver isso à noite, pois a lava se destaca na escuridão. E o barulho da atividade vulcânica, ouvido assim de perto, é impressionante"
Após um par de horas junto à cratera, Danilo e seu grupo desceram alguns metros e tiveram outra experiência única: dormiram, em sacos de dormir ao ar livre, sobre uma área mais plana da própria encosta do vulcão.
O objetivo de todos era acordar ainda de madrugada e voltar a subir rapidamente até o alto do Erta Ale, para mais um espetáculo da natureza: "fomos ver o nascer do sol lá de cima", conta ele, que tirou fotos da enorme bola alaranjada subindo no horizonte.
Deserto de sal e gases tóxicos
Entre os atrativos visitados nos dias seguintes de viagem esteve um deserto de sal localizado na região da Depressão de Danakil.
Seu solo branco e plano lembra paisagens extraterrestres — e foi cruzado pelo veículo 4x4 de Danilo.
"É um lugar que lembra o Salar de Uyuni, na Bolívia", conta.
No caminho, vimos enormes filas de camelos transportando blocos de sal que são extraídos deste local. Foi uma imagem muito única"
Deserto cheio de cores
O grupo, logicamente, também explorou a famosa região conhecida como Dallol, que é marcada por lagoas e terrenos coloridos, onde se concentram depósitos de sal e de enxofre.
"Já viajei muito pelo mundo, mas nunca vi nada parecido na vida. Esta área é cheia de lagoas coloridas, algumas da cor verde. Já parte do solo é das cores laranja e amarelo. Nosso guia nos disse que esta é uma zona onde há emissão de gases tóxicos. E eu realmente senti minha garganta irritada enquanto caminhava por lá".
Outro desafio era lidar com o calor: para fazer todos estes passeios, o grupo acordava ainda de madrugada (depois de passar a primeira noite no vulcão, eles dormiram em uma pousada que existe na área).
"Tínhamos que chegar aos locais a serem visitados ainda no começo da manhã e permanecer ao ar livre até, no máximo, às 11 horas. Depois disso, voltávamos para o ar-condicionado do carro, pois ficava muito calor. Há turistas que passam mal com o sol forte da Depressão de Danakil. Chegamos a pegar cerca de 42 graus Celsius lá".
Pobreza e escolta armada
Nesta área, o brasileiro também se deparou com muita pobreza.
"Na estrada, havia muitas crianças pedindo dinheiro e, também, água. E sempre com um sol muito forte batendo na cabeça delas. Não sei onde estas pessoas conseguem encontrar água neste deserto. É uma situação desesperadora", diz o brasileiro.
E, durante toda a viagem, o grupo teve companhia de escolta armada.
A razão para isso?
Além de ter o apelido de "Portão do Inferno", a Depressão de Danakil (que fica na região da fronteira da Etiópia com a Eritreia) tem fama de ser uma espécie de terra sem lei, onde grupos armados já atacaram turistas. Em 2012, por exemplo, cinco viajantes europeus foram assassinados por lá.
A escolta armada, porém, não passou muita segurança para Danilo. "Em um dos dias, fomos acompanhados por dois caras magrinhos de chinelo, que carregavam, cada um, a sua AK-47. Mas não sei como eles reagiriam se fôssemos atacados".
Mesmo com seu cenário inóspito, a Depressão de Danakil é, para o brasileiro, um dos lugares mais marcantes que ele já visitou na vida.
Infelizmente, porém, o norte da Etiópia se transformou, recentemente, em palco para uma guerra que opõe grupos políticos da região ao governo etíope — e, portanto, não apresenta um cenário seguro para uma visita neste momento.
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