Não é só deixar na gaiola: como ter uma ave como bichinho de estimação
As 40,4 milhões de aves criadas como pets nos lares brasileiros mostram que cães e gatos já perderam o reinado exclusivo como animais de estimação. Os números fazem parte do último levantamento da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para animais de estimação), de 2020, e enchem os olhos de quem sempre quis ter em casa um "Piu-Piu" para chamar de seu.
É por isso que não basta simplesmente decidir ter uma ave em casa. Estudar com antecedência as características e requisitos da espécie a ser adotada é fundamental para não se arrepender no pós-adoção nem colocar em risco a saúde e bem-estar do bichinho por cuidar do novo integrante da família de forma equivocada.
Espaço, custos iniciais e de manutenção, idade e longevidade da ave (algumas, como os papagaios do Congo, pode chegar aos 60 anos), além de tempo disponível para dedicar ao pet são os itens a serem levados em consideração pelos futuros tutores.
Via de regra, aves podem ser pets indicados para um tutor de ave ter de ser alguém paciente.
"Aves fazem bagunça e sujeira: é comum ver alimentos espalhados pelo cômodo, no chão e em toda parte. Aves são, no geral, bagunceiras, e isso é natural nelas até em vida livre", afirma a bióloga especialista em comportamento e bem-estar animal, Helena Truksa, fundadora da Ethos Animal e Espaço das Aves.
Quanto ao custo para se ter uma ave em casa, o biólogo da Cobasi, Tiago Calil, afirma que, na comparação com outros pets, as aves não geram muitos gastos.
"O custo maior é ao adquirir o animal, quando é necessário comprar gaiola, comedouro, bebedouro e acessórios no geral. Mas, quanto aos gastos na manutenção, basta a alimentação adequada e complementação", diz.
Qual é a "sua" ave?
A espécie deve ser escolhida com base no estilo de vida da família. Pássaros como canários e outras aves canoras (aquelas que cantam) pequenas costumam exigir menos interação com o tutor, normalmente não criando uma ligação emocional tão intensa quanto a que ocorre com papagaios, cacatuas, araras e calopsitas.
"Alguém que tem uma vida muito corrida precisa ter em mente que aves são sociais e precisam de companhia", ensina a bióloga.
Papagaios, araras, cacatuas e calopsitas, aliás, como explica Helena, podem formar uma ligação forte com o tutor como se fossem parceiros reprodutivos.
"Isso precisa ser levado em conta no momento da escolha do pet, pois esta predisposição pode levar a problemas de comportamento e saúde no futuro, comprometendo o bem-estar do animal e danificando a relação com o tutor e a família humana por conta do estresse gerado", diz.
Tiago ressalta que as aves no geral são muito inteligentes e algumas outras aves não aceitam o contato direto com os humanos — estas precisarão viver 100% do dia dentro da gaiola. "Por isso exigem um bom espaço para que possam se locomover e bater suas asas livremente."
Eu diria que o tutor ideal de ave possui algumas características dos tutores de gatos no que diz respeito a não querer controlar o animal o tempo todo e respeitam o tempo do outro sem forçar o contato", afirma Helena.
Ao lado de outros bichos
Segundo Helena, famílias com outros pets, especialmente gatos, deveriam evitar aves pelo motivo óbvio de serem predador e presa. Mesmo que a ave fique em outro cômodo, sempre haverá o risco de deixar uma porta aberta e o acidente acontecer.
Ela afirma que até mesmo o cheiro que atravessa de um ambiente para outro, estimulando o predador, pode ser um problema, já que o gato pode se estressar por não caçar a presa.
"Casas com cachorros são uma situação a se avaliar caso a caso, pois é muito mais fácil criar um convívio harmônico entre cães e aves do que entre gatos e aves. De qualquer modo, não recomendo deixar o cachorro sem supervisão de humanos adultos com acesso à ave."
Saúde das aves
Muito mais sensíveis do que cães e gatos, as aves podem sofrer com casos de intoxicação e o tutor deve ficar atento.
"O sistema respiratório das aves é muito diferente dos mamíferos e é muito mais eficiente na absorção de oxigênio por conta da demanda energética do voo.
Por conta disso, eles são notadamente sujeitos a intoxicação por fumaças, aerossóis (inseticidas, perfumes, solventes e tintas), poeira e ambientes como mofo. Dependendo da gravidade da intoxicação, pode levar ao óbito em minutos", diz Helena.
Outras intoxicações por via oral também podem ocorrer e, por isso, é necessário verificar se os itens que a ave costuma bicar são atóxicos.
Como qualquer outro pet, também é preciso levar em consideração os gastos com visitas periódicas ao veterinário, de preferência especializado em animais silvestres.
"Checkups periódicos de rotina, pelo menos uma vez ao ano, são indicados para aves, pois elas demoram muito a apresentar sintomas visíveis de doenças. Quando o fazem, pode ser tarde demais para tratar e acabam morrendo. Um ambiente limpo com água e comida nova todos os dias, além de legumes e frutas adequadas à espécie são indispensáveis", ensina Helena.
Com cuidado para não superaquecer o animal, banhos de sol são importantes. A recomendação da bióloga é a de manter uma parte da gaiola com cobertura e outra exposta.
Tudo legal
Decidido a ter uma ave como pet, o tutor deve atentar-se às leis do país quanto a criação. O Ibama (Instituto brasileiro do meio ambiente e dos recursos naturais renováveis) é o órgão regulamentador e fiscalizador da criação, guarda e venda de animais silvestres e exóticos no Brasil.
A legislação atual determina que as espécies consideradas domésticas não necessitam de autorização especial. Estão neste grupo as aves manom, mandarim, diamante de gould, canário, periquito australiano, calopsita e rolinha diamante, além de galinhas e codornas.
As demais aves como papagaios, araras, cacatuas, sabiás, corujas e outras estão sujeitas à autorização com certificado de origem e criação regulamentada. Caso a ave não possua documentação legítima do órgão oficial, pode ser apreendida por fiscalização da Polícia Ambiental ou do próprio Ibama.
Outro ponto de atenção deve ser o local da aquisição ou adoção do animal. Comprar animais em feiras ou de pessoas que não são devidamente autorizadas pode contribuir com o tráfico de animais.
Sabemos que, em média, de cada 10 animais traficados, apenas um sobrevive. Além disso, pessoas que retiram ovos ou filhotes de ninhos selvagens para venda não se preocupam com o animal, apenas com o dinheiro", afirma Helena.
Ela também explica que lojas onde as aves permanecem expostas ao público, sem intervalos para repouso, não são boas opções porque não garantem o bem-estar dos animais desde a origem. O futuro tutor também deve observar a limpeza do local e o aspecto geral dos animais.
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