Paraísos da longevidade: os lugares com mais pessoas centenárias no mundo
Michel Poulain tem formação em astrofísica, mas não é a longevidade de estrelas que lhe deu fama. É a dos humanos. Com um doutorado em demografia debaixo do braço, o pesquisador belga foi à Sardenha, em 2000, investigar a quantidade de pessoas que passam dos 100 anos na segunda maior ilha italiana. Ele e o médico local Gianni Pes mapearam e marcaram com círculos os vilarejos com as maiores ocorrências, chamando os locais dentro dessas áreas de zonas azuis.
Poucos anos depois, um aventureiro e empresário americano chamado Dan Buettner, que também pesquisava o tema, conheceu o trabalho da dupla e buscou outros lugares do tipo no mundo para um projeto da National Geographic Society, divulgado em 2005.
Fez tanto sucesso que Blue Zones virou uma empresa, Poulain deu palestras em todos os continentes e Buettner é autor de uma série de livros nas listas dos mais vendidos (todos com a mesma temática).
Paraíso dos velhinhos
A Blue Zones elegeu cinco lugares como os com as maiores taxas de pessoas centenárias. São comunidades que compartilham hábitos de alimentação e estilo de vida que, vistos individualmente, causam pouca ou nenhuma surpresa.
Todos eles são lugares em que há poucos fumantes, os pratos têm muitos vegetais e pouca carne, as pessoas caminham bastante e fazem atividades ao ar livre. Família, vida em comunidade, espiritualidade e religião, pouco álcool, poucas calorias, pouco estresse. Basicamente, eis a receita.
Mas há o fator ambiente. Afinal, há locais que propiciam, estimulam e até impõem um estilo de vida mais saudável. Nesse quesito, também existem muitas semelhanças entre as zonas azuis. São cidades pequenas, próximas à natureza, com clima moderado.
Loma Linda, nos Estados Unidos
É desta cidade no sul da Califórnia, onde as taxas de longevidade são significativamente maiores que no resto dos Estados Unidos.
Loma Linda tem duas características que a diferenciam das outras zonas azuis. Uma é o fato de a Igreja Adventista do Sétimo Dia ser a religião predominante no município. Adventistas evitam carne, álcool, drogas e, às vezes, cafeína, o que explica a longevidade.
Outro ponto é que, por mais que Loma Linda tenha suas vantagens em qualidade de vida, não é um destino turístico propriamente dito. Já as outras zonas azuis têm atrativos de sobra. E o melhor: ficam longe de grandes centros, porém não são inacessíveis. Você não precisa esperar chegar aos 90 anos para ir até lá.
Sardenha, na Itália
Reconhecida pelas vilas bucólicas, praias badaladas, ruínas arqueológicas e clima delicioso, a Sardenha é o lugar onde se vive mais na Itália. A rota da zona azul fica na região de Ogliastra, que concentra um dos litorais mais bem preservados e isolados da Itália, cercado de montanhas e desfiladeiro.
Lá ficam lugares como Ollolai, que faz parte do já famoso programa de casas a 1 euro. Fica no centro da ilha, é cercada de florestas e tem um passado rico. No século 6, era a sede da Barbágia, reino que controlava o centro da ilha e era uma pedra na sandália dos romanos.
Seulo, vila no centro-sul da grande ilha, também integrava a Barbágia. Tem menos de mil habitantes — cerca de 20 deles com mais de 100 anos, o que faz dela o epicentro da zona azul italiana. Não há muito para se ver na cidade em termos arquitetônicos, mas a natureza tem seus atrativos, com bosques, vales, desfiladeiros e cavernas.
Okinawa, no Japão
Okinawa é um Japão muito mais tropical do que o país que temos no imaginário. Esse arquipélago tem praias com mar cristalino e florestas protegidas em parques nacionais, sem abrir mão de templos antigos e de uma cultura rica e própria.
Em Okinawa, os conceitos de ikigai (razão de viver) e moai (círculos de amizade duradouros) são levados a sério, o que seria uma das principais razões para a longevidade da população: as mulheres das ilhas vivem mais do que em qualquer lugar do mundo.
No livro "Ikigai: Os Segredos dos Japoneses para uma Vida Longa e Feliz" (Intrínseca), os autores Hector García e Francesc Miralles explicam que outro fator é a alimentação, baseada em vegetais e ingredientes antioxidantes e com pouco açúcar.
Nicoya, na Costa Rica
A península de Nicoya, no noroeste do país, é reconhecida por sua população centenária. Há gerações essas comunidades estimulam um estilo de vida ativo, com foco na família. Outras características: saber ouvir e rir bastante. Tudo isso compõe o plano de vida dos locais. Outra vantagem é o sistema de saúde público do país, internacionalmente reconhecido.
Nicoya tem um pouco de tudo que faz da Costa Rica um paraíso do ecoturismo. Praias, cachoeiras, trilhas, mergulho com golfinhos, cavernas, refúgios naturais, reservas marinhas. Tudo isso fica mais evidente na ponta sul da península, que concentra parques, praias e ainda bons pontos de surfe e uma infraestrutura hoteleira com direito a campo de golfe.
Icária, na Grécia
Um território indomado, misturando florestas, paisagens lunares e praias secretas. Uma cultura que se desenvolveu isolada, sempre lidando com invasões de piratas e potências estrangeiras. Icária é uma ilha grega bem além do óbvio, muito mais perto da Turquia do que de Atenas.
Segundo o projeto Blue Zones, os menos de 10 mil habitantes da ilha estão praticamente livres de demência. Uma em cada três pessoas chega aos 90 anos. E chegam lá em uma vida regada a vinho, partidas de dominó e um dia a dia com muito ar livre e poucos relógios.
A ilha foi batizada em homenagem a Ícaro, aquele que voou perto demais do Sol e caiu. Ainda na mitologia grega, Dionísio, o deus do vinho, nasceu lá. Icária mantém essa herança com as panigyria, festas cheias de música tradicional, comida e bebida. Por causa delas, no verão a ilha fica concorrida.
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