África além dos safáris: britânico percorreu rios selvagens do continente
Para o inglês Chaz Powell (@thewildestjourney), uma jornada pela natureza da África não tem nada a ver com os tradicionais safáris do continente, nos quais turistas entram na mata e chegam perto de leões, rinocerontes e outros animais a bordo de seguros veículos 4x4.
Ele gosta mesmo é de realizar viagens bem mais imersivas (e arriscadas) no mundo selvagem africano.
Nos últimos anos, ele viveu verdadeiras epopeias ao percorrer, a pé, a extensão de três dos principais rios locais: o Zambezi (que começa na Zâmbia e vai até Moçambique, passando também por Angola, Namíbia, Botswana e Zimbábue), o Gâmbia (que nasce na Guiné, cruza o Senegal e desemboca no oceano Atlântico através da Gâmbia) e o Mangoky (que fica em Madagascar).
Após viajar pelo mundo por muitos anos, quis sair cada vez mais da minha zona de conforto. E comecei a me sentir atraído por aventuras cada vez mais ousadas."
"Desenvolvi, assim, o projeto de caminhar ao longo de alguns dos rios mais selvagens da África", conta o inglês.
A viagem pelo rio Zambezi, por exemplo, foi feita sem nenhuma companhia. "Foi uma jornada que realizei sozinho, que durou 137 dias e cruzou 3.000 quilômetros", lembra Chaz.
"Já a expedição pelo rio Gâmbia teve duração de 47 dias e percorreu cerca de 1.200 quilômetros. E no Mangoky cruzei, junto com duas pessoas, parte do território de Madagascar, caminhando aproximadamente 800 quilômetros em 29 dias".
Rotina do explorador
Carregando barraca para acampar no caminho, equipamentos para preparar sua própria comida em fogueiras, poucas trocas de roupas, um celular e kit de primeiros socorros, ele tinha que encarar, quase que diariamente, trechos de selva onde poucos estrangeiros já pisaram.
Ele dormia com frequência no meio da floresta, se guiava por mapas e, logicamente, precisava ter todo cuidado para evitar contato com animais perigosos.
Mas isso nem sempre era possível.
No Parque Nacional Niokolo-Koba, por exemplo, que fica no Senegal e é banhado pelo rio Gâmbia, ele teve que andar acompanhado durante quatro dias por guardas florestais armados.
"É um lugar perigoso, onde há muitos leões. Dentro desta área, andávamos sempre em fila, com um guarda florestal em cada ponta. E, em um dos dias em que estive lá, nos deparamos com um leão no meio do mato. Por sorte, não fomos atacados. Mas foi um momento assustador".
Este mundo repleto de natureza, porém, o presenteava constantemente com lindas paisagens.
Ao caminhar ao longo do rio Zambezi, por exemplo, o inglês passou pela área das cataratas Victoria Falls. Também pôde admirar, de ângulos privilegiados, os vales que existem na área do lago Cahora Bassa, em Moçambique, além de curtir o horizonte do lago Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbábue.
Um dia, ele estava em uma área totalmente selvagem à beira do rio, se sentou na margem e viu, do outro lado da água, um grupo de elefantes se refrescando.
Os animais sabiam que eu estava lá, mas nem ligaram para mim. Continuaram fazendo suas coisas, parecendo estar bem felizes. Éramos só eu e estas lindas criaturas. Foi um momento poderoso".
Em outros momentos, Chaz se deparou com vilarejos no meio dos trajetos onde era muito bem acolhido. "Ao chegar a estas vilas, fui convidado para dormir dentro de escolas, alojamentos e até bases missionárias. E era onde conseguia muitos alimentos", lembra.
"Certo dia, me deparei com um homem que havia acabado de pescar dois peixes no rio. Ele me viu e resolveu compartilhar sua comida comigo. Me deu um dos peixes e assamos juntos o alimento na beira da água. Foi um momento simples, mas que significou muito para mim".
Modo sobrevivência
Na região das cataratas Victoria Falls, Chaz viu a morte de perto. Após andar muito ao longo do rio Zambezi, viu que, ao chegar na área que fica no topo das cataratas, precisava descer por uma série de desfiladeiros para continuar caminhando pelo rio.
"Mas o problema é que era um local muito íngreme, em um terreno extremamente difícil. Além disso, era uma época seca do ano e não havia água onde eu estava. Fazia quase 50 graus Celsius e a minha própria água acabou", lembra.
O inglês conta que estava completamente sozinho, em uma zona muito acidentada e, de repente, se viu preso, sem conseguir descer pelos desfiladeiros para chegar ao rio lá embaixo e sem forças para voltar para algum lugar onde pudesse encontrar ajuda.
Sob um calor escorchante, ele sentiu que poderia desfalecer e morrer ali mesmo.
E, extremamente desidratado, resolveu descer pelos paredões de qualquer maneira, caindo de uma altura de mais de 4 metros em uma das partes do trajeto. Machucado, ele conseguiu chegar ao rio, beber muita água e se recuperar em uma sombra para seguir caminho.
Já em Moçambique, o inglês passou por dentro de um remoto vilarejo e, ao contrário de suas outras experiências com as populações locais, não foi bem recebido.
"Os moradores daquele lugar foram hostis quando me viram. Eles não estavam felizes por me ver lá. Fui chamado para conversar com o líder da comunidade. Ele falava em português comigo, mas eu não entendia quase nada.
Aquelas pessoas claramente me viram como algum tipo de ameaça. E, de repente, fui pego e trancado em um quarto".
Chaz conta que ficou dois dias preso. Mas conseguiu fugir: "eles abriram a porta para que eu pudesse ir ao banheiro. E consegui correr para a mata e escapar. Por sorte, eles tinham deixado a minha mochila comigo".
Da África para casa
Tais perrengues, entretanto, não tiraram o ímpeto que o inglês tem para realizar viagens desafiadoras.
Ele conta que, entre o ano passado e este ano, planejava fazer uma caminhada através de todo o continente africano — um projeto que foi postergado por causa da pandemia.
"Mas, em 2021, tenho usado meu tempo para realizar viagens a pé por parques nacionais do Reino Unido, incluindo percursos ao longo de alguns dos maiores rios britânicos".
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