Entre belezas do Caribe e a pobreza da crise: como é passear pela Venezuela
Durante o dia, o sol abundante do Caribe. À noite, falta de luz causada por frequentes apagões. Este contraste é apenas uma das experiências de quem viaja pela Venezuela hoje.
Se de um lado o país, que está aberto aos brasileiros, atrai turistas para suas belas praias, também é inegável o efeito da crise econômica que, entre muitas mazelas, tem gerado colapso em seus serviços essenciais, declínio de sua infraestrutura, degradação social e índices de inflação absurdos.
Morador de Lisboa, em Portugal, o venezuelano Andrés Teixeira Rodrigues, 30 anos, retorna a Caracas anualmente para rever a família e relata a Nossa qual tem sido a experiência de passear pela sua terra-natal.
Entre mar azul e blecaute
Andrés conta que, em julho deste ano, visitou a Isla de Margarita com a família e se hospedou em um hotel com piscina, vista para o mar e acesso a uma praia maravilhosa.
Mas, quando chegamos à ilha e fomos do aeroporto até o hotel, vimos muita pobreza. A estrada estava esburacada e, ao longo do caminho, passamos por diversos hotéis falidos e abandonados. Eram grandes edifícios com as janelas quebradas e com o mato tomando conta de tudo".
Após passar o dia circulando junto ao mar, ele conviveu com um blecaute. "À noite, a luz acabou. E isso é um problema muito comum em meu país nos dias de hoje", afirma.
E as dificuldades para visitar belos lugares da Venezuela não param por aí: do câmbio ao transporte, o território sul-americano desafia o turista com situações complicadas.
Circulação difícil e violência
Para Andrés, ao visitar a Venezuela, é altamente recomendável que o turista tenha pessoas conhecidas no país.
É importante circular com alguém que esteja ligado na atual realidade. Transitar na Venezuela é hoje muito complicado", diz.
Depois de pousar no aeroporto que serve Caracas, por exemplo, você não tem um transporte fácil para a cidade. Não há opção de aplicativos eficientes para achar um motorista e muitos táxis não são de confiança. Há relatos de viajantes que já foram assaltados nestes veículos que ficam esperando passageiros no aeroporto.
"É melhor que a pessoa tenha alguém conhecido para buscá-la no saguão de desembarque e, depois, ajudá-la a se locomover em locais como Caracas", recomenda.
A violência, assim como acontece no Brasil, é um fator de preocupação constante para os poucos visitantes estrangeiros que vão ao país.
"Lamentavelmente, os turistas são vistos como fonte de dinheiro e correm risco de serem assaltados. A violência diminuiu um pouco nos últimos anos, mas há que tomar muito cuidado em centros urbanos como Caracas", afirma.
Por outro lado, ainda é seguro estar locais turísticos mais afastados, como as ilhas do Caribe".
Câmbio é problema
Além disso, usar dinheiro na Venezuela pode confundir a cabeça de qualquer forasteiro.
Em julho, durante a viagem de Andrés pelo país, um dólar valia cerca de 3,6 milhões de bolívares. "Para comprar um simples café, você pode precisar de um saco cheio de bolívares", diz ele, explicando que cartões de crédito internacionais podem ser utilizados em pouquíssimos negócios.
Por isso, não vale a pena, para o estrangeiro, comprar bolívares, mas usar dólares em espécie em seu dia a dia, que são aceitos por muitos estabelecimentos comerciais venezuelanos. Mas isso não simplifica tanto as coisas.
"Muitos lugares que aceitam dólares não têm troco para a moeda americana. Então, se você está com uma nota de 20 dólares e gasta 16 dólares em uma compra de mercado, terá provavelmente duas opções. Comprar mais coisas até atingir os 20 dólares ou não receber o troco".
E isso criou um esquema maluco: "na Venezuela, há lugares onde você pode trocar notas altas de dólares por cédulas menores da moeda americana. Mas isso tem um custo. Para trocar 100 dólares, há locais que cobram 20 dólares. Ou seja, você dá a nota de 100 e só recebe 80 dólares de volta em notas menores".
Para desviar de toda esta situação, Andrés levou, nesta última viagem para a Venezuela, nada menos do que 200 notas de um dólar em sua mochila, com o objetivo de não se preocupar com a questão do câmbio durante todas as suas férias.
Atrativos de Caracas e arredores
Apesar da crise e do cuidado redobrado que os turistas devem ter, Andrés indica muitos lugares imperdíveis de seu país, além das praias. A maior cachoeira do mundo, por exemplo, está na Venezuela — a Salto Angel, com 979 metros de queda.
Na área de Caracas, fica o Parque Nacional El Ávila, que se espalha por uma região montanhosa com mirantes que oferecem linda vista para a capital venezuelana e cercanias. "Os turistas também costumam passear pelas zonas de Altamira e Los Palos Grandes, onde há muitos restaurantes e cafés. São locais que oferecem opções para saídas noturnas", indica Andrés.
Pela capital também é possível explorar o Teatro Teresa Carreño, com arquitetura brutalista. Não muito longe está também o Parque Los Caobos, uma área verde marcada por esculturas ao ar livre.
E, para quem quiser ir fundo na história da Venezuela, é fundamental uma visita ao Panteón Nacional, junto ao qual estão os restos mortais de Simón Bolívar.
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