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Estantes antigas enchem a decoração de versatilidade e memórias afetivas

A arquiteta e paisagista Nicolle Maia Gaioka encontrou em sua estante uma história de família - Arquivo pessoal
A arquiteta e paisagista Nicolle Maia Gaioka encontrou em sua estante uma história de família Imagem: Arquivo pessoal

Silvia Montico

Colaboração para Nossa

18/10/2021 04h00

Basta um olhar atento para os feeds de decoração de interiores para perceber que elas estão de volta. Sim, as clássicas estantes dos anos 60, 70, 80 e 90, que são peças repletas de memórias afetivas.

Afinal, se você é um millenial com certeza se lembra de uma estante dessas na sua casa de infância. Ou então, se você nasceu antes dos anos 80, é muito provável que tenha sido você mesmo a ir em uma loja de móveis para comprar um desses modelos.

Amor à primeira vista

A digital marketing Paula Amorim encontrou a sua enquanto "dava uma passada" por um bazar de móveis antigos. "Minha ideia era achar algum móvel para preencher um espaço da sala que estava bem vazio. Pensava em um aparador ou algo do tipo, mas quando me deparei com a estante fiquei apaixonada".

Estante de Paula Amorim foi paixão imediata - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Estante de Paula Amorim foi paixão imediata
Imagem: Arquivo pessoal
Detalhes da estante de Paula Amorim  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Detalhes da estante de Paula Amorim
Imagem: Arquivo pessoal

Em seguida, Paula rodou a loja umas dez vezes "matutando", como ela mesma diz. "Como eu poderia levar para casa, será que valia a pena, será que se desmontasse dava para montar novamente, eu ia saber reformar essa estante?", contou. Segundo ela, o vendedor, notando sua indecisão, disse: "se você pagar à vista, dou um desconto e de R$ 120 eu faço por R$ 90". A partir daí, Paula sabia que a estante não podia ser deixada para trás.

Arrumei um carreto e nem precisei reformar. Acabei passando apenas cera para lustrar a peça. Decorei com lembranças, livros e plantas. Ela já resistiu a duas mudanças e é sem dúvida o meu móvel preferido da casa", conta.

Um achado no meio da rua Sé a estante de Paula já chama atenção pelo baixo preço, a da estagiária Eliane Souza impressiona ainda mais, pois saiu de graça.

Eliane encontrou sua preciosa estante jogada na rua - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Eliane encontrou sua preciosa estante jogada na rua
Imagem: Arquivo pessoal

Em uma caminhada pelas ruas de Jundiaí (SP), onde mora, Eliane e o marido encontraram a estante dando sopa na calçada. "Estava sendo literalmente descartada. Por aqui há um dia de coleta chamado 'cata-treco', em que os moradores podem colocar nas calçadas os móveis e materiais que não utilizam mais para que um caminhão faça a coleta. E ela estava ali".

A estagiária agiu rápido e junto do marido carregou a estante por cerca de 600 metros, até chegar em sua casa.

Ela é uma estante modular, provavelmente da década de 1960 e nunca mais saiu da minha casa", contou.

Estante cheia de histórias

Depois de morar sete anos fora do Brasil, a arquiteta e paisagista Nicolle Maia Gaioka, pôs os pés na casa nova e logo visualizou a configuração dos móveis da sala, que era grande e com pé direito alto. "A minha primeira leitura do espaço foi de ter poucos móveis, mas de porte grande e com presença".

Nicolle Maia Gaioka já tinha a ideia de estante na cabeça - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Nicolle Maia Gaioka já tinha a ideia de estante na cabeça
Imagem: Arquivo pessoal

Apaixonada pela combinação de estantes, prateleiras e plantas, sua intenção era transformar a parede principal da sala numa parede verde. "Com isso em mente, comecei o processo do garimpo da estante, que deveria ocupar a parede toda e ter bastante espaço, nichos e prateleiras de diferentes alturas para acomodar os vasos", detalhou.

No primeiro dia de busca em sites de móveis usados, Nicole já encontrou sua atual estante. "Era uma peça fabricada em janeiro de 1975 e a família Telles, a antiga dona, me contou que era um móvel de luxo. A madeira de cerejeira estava na moda naquela época e era tendência ter essa estante na decoração", detalha.

Nicole foi a fundo para conhecer o passado do seu móvel e soube pela neta da dona original que "sua avó gostava muito da peça, pois era bastante moderna para a época e sua parte favorita era o espaço do bar".

A estante de Nicolle Maia Gaioka chegou em sua casa já com muitas histórias - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A estante de Nicolle Maia Gaioka chegou em sua casa já com muitas histórias
Imagem: Arquivo pessoal

Após o falecimento da dona original, a estante foi para o quarto do seu marido e tinha um valor sentimental enorme para ele. "Era uma lembrança da esposa, de um móvel que ela amava muito e de um momento de pura felicidade vivido por eles", comentou Nicole.

E foi com esse mesmo carinho que a arquiteta levou o móvel para sua casa. "Minha relação com móveis vintage é muito afetiva e quando descobri a história por trás dessa estante fiquei emocionada. Senti uma conexão com minha antiga casa em Portugal, que também tinha como parte central o bar. Era como se eu tivesse encontrado um pouco dela aqui no Brasil", detalhou.

Essa é a magia do vintage. As histórias, as conexões. Essa estante já tinha tanta importância na vida dos Telles e eu nem mesmo tinha nascido, e agora ela está aqui comigo nesse meu recomeço em terras brasileiras".

Resgate da memória afetiva

Uma das estantes da designer Ana Laura Gomes e da garimpeira Bia Betarello - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Uma das estantes da designer Ana Laura Gomes e da garimpeira Bia Betarello
Imagem: Arquivo pessoal

Para a designer Ana Laura Gomes e a garimpeira Bia Betarello, as estantes antigas têm feito tanto sucesso nas redes sociais (e fora delas) porque resgatam memórias afetivas.

"Acho que não tem ninguém nascido nessas épocas que não tenha se deparado com uma estante assim na casa de alguém da família", diz Ana Laura.

Unidas pela paixão pelos móveis antigos, as amigas abriram uma loja especializada em mobiliário usado, localizada em Amparo, no interior de São Paulo.

"Nossa história com as estantes vintage começou quando encontramos uma feita de caviúna. O dono queria vender para comprar um rack e nós a resgatamos para um futuro melhor. Depois de postar, ela foi vendida em minutos. Então começamos nosso garimpo específico para essas peças", conta Bia.

Paixão pelas estantes vintage motivou as amigas a venderem os objetos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Paixão pelas estantes vintage motivou as amigas a venderem os objetos
Imagem: Arquivo pessoal

Para as sócias, as estantes são ícones de uma transformação da indústria de móveis que, até então, ou eram feitos por marceneiros ou projetados num desenho único, o que não possibilitava a personalização ou o acesso, devido ao alto custo das peças.

"Essas estantes modulares, que surgiram com um material alternativo e eram folheadas em madeiras nobres, tinham a grande vantagem de ter valor mais acessível. Além disso, podiam ser adaptadas ao espaço e formato desejado por cada cliente", conta Ana Laura, explicando um pouco porque esses modelos fizeram tanto sucesso no passado se tornaram uma espécie de vira-lata caramelo das casas brasileiras.

Essas estantes não costumam ter design assinado, mas são amadas incondicionalmente, além de terem se tornado peças clássicas e versáteis", completa Ana.

Como usar estantes antigas na decoração

Diversão, identidade e muitas cores podem fazer da estante a queridinha da casa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Diversão, identidade e muitas cores podem fazer da estante a queridinha da casa
Imagem: Arquivo pessoal

As garimpeiras Ana e Bia contam que as estantes antigas combinam com qualquer estilo de decoração, já que são os objetos que serão colocados em seus nichos é que vão ter o DNA da casa. "Coloque coisas divertidas, plantas, livros e ela faz o seu trabalho", diz Ana Laura.

Já a estagiária Eliane Souza optou por combinar as tonalidades dos móveis, compondo com paredes mais neutras, para poder apostar em objetos e têxteis coloridos sem pesar na decoração.

Mas esse 'combinar' é muito pessoal. O mais importante é eu gostar do móvel (sem modismos)", frisa.

Explore as funcionalidades do espaço e pense com criatividade - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Explore as funcionalidades do espaço e pense com criatividade
Imagem: Arquivo pessoal

A digital marketing Paula Amorim aposta no equilíbrio entre o novo e o antigo na hora de decorar. "Baseie-se no seu gosto e tente visualizar o móvel com o que você já tem em casa. Como minha decoração é mais contemporânea, para os móveis antigos não pesarem, eu uso a estante com objetos leves, coloridos e, claro, muitas plantas".

A dica da arquiteta Nicolle Gaioka é sair do óbvio e explorar diferentes usos e funcionalidades de um móvel antigo, seja ele qual for. "Um banco vintage pode virar suporte para vaso, uma penteadeira pode virar aparador para corredor de entrada, não tem regra", diz.

Para ela, não há nada mais atual do que misturar vintage com contemporâneo, então não precisa ter medo de errar.

Não se esqueça de se divertir no processo, pois esse mundo vintage tem uma magia única e é repleto de muitas histórias e possibilidades infinitas", completa.