Desfile coloca modelos dentro de floresta "invisível" a olhos nus; assista
Assistir a um desfile a olho nu talvez não seja mais o bastante em um futuro próximo. Será preciso ir além. Imergir. Prova disso foi o desfile da coleção "Erebus", desenvolvida pelo estilista Lucas Leão para a segunda edição do Brazil Immersive Fashion Week — a primeira semana de moda da América Latina dedicada à moda e tecnologia.
A apresentação das peças coloridas e com relevos, realizada no último final de semana em São Paulo e aberta apenas para um número restrito de convidados, marcou a retomada dos desfiles presenciais no Brasil, aproximadamente dois anos após o confinamento em consequência da pandemia. E, assim como propõe o BRIFW, a tecnologia foi a grande protagonista, de modo a invadir o mundo real.
Quem chegava ao STATE Innovation Center, no bairro da Vila Leopoldina (SP), encontrava à primeira vista uma passarela como habitualmente já conhecemos. Uma estrutura centralizada, cercada por bancos, onde os modelos caminhariam em frente ao público presente, a fim de mostrar as ideias tecidas por Lucas Leão.
No entanto, antes disso, fomos convidados a registrar um QR Code no celular, em que uma nova realidade seria apresentada.
Presente antes mesmo do desfile, bastava apontar o celular para qualquer lugar e obras do artista Franco Palioff criavam vida na tela do aparelho. A câmera passaria a funcionar, ao longo de todo o evento, como uma lente de realidade aumentada — repleta de plantas surreais com texturas artificiais e bio-máquinas.
Já no desfile em si, as roupas também criavam um efeito 3D. Como se flutuassem ao redor do corpo dos modelos. Veja no vídeo abaixo:
"Acredito que seja o momento de repensar as apresentações físicas e nossa proposta foi questionar e repensar o modelo antigo vigente de desfiles presenciais, a partir do uso de tecnologia", explicou Lucas Leão em entrevista para Nossa.
No meu desfile, os espectadores puderam imergir à minha coleção com filtro de realidade aumentada, e não apenas assisti-la".
Lucas Leão
O argumento é reforçado por Olivia Merquior, fundadora do BRIFW e organizadora do desfile. Para ela, foi uma aposta arriscada acreditar que, em outubro, não teríamos uma volta de contágio do coronavírus. Mas desde a primeira edição, realizada em 2020, existia o pensamento sobre a importância de se realizar desfiles físicos — desde que com todos os cuidados necessários.
"Eu sabia o que eu queria apresentar como experiência no desfile, mas a parte estética precisava acompanhar a coleção do Lucas", relembrou Olivia para Nossa. "Quando ele me mostrou as inspirações do Erebus, lembrei imediatamente do trabalho do Franco, que já havia participado do BRIFW, em 2020, falando sobre suas obras digitais e escultóricas. Junto com o trabalho de arte do Hugo Teixeira e cenografia do Jean Labanca, foi o match perfeito".
A tecnologia por trás do desfile em 3D, chamada de full CGI, para Olivia Merquior é apenas uma das muitas maneiras de trabalhar as novas ferramentas digitais e a transmissão online.
"Quando liguei para o Lucas, ele já tinha uma coleção linda, pronta e fazia todo o sentido a gente apresentar como retomada", detalha ela. "Mas uma retomada pensando adiante, pensando como uma experiência inédita, não uma volta ao passado".
Posso estar enganada, mas até o momento, essa experiência feita da maneira que fizemos é inédita, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo".
Olivia Merquior
Sobre os aprendizados para a retomada do "novo normal", como comumente os próximos anos estão sendo chamados, a organizadora do BRIFW afirma que estamos no começo de uma virada tecnológica importante.
"Assim como a internet mudou completamente nossa relação com a memória e o celular mudou nossa relação social, o mundo imersivo vai mudar nossa relação com aquilo que definimos como real", opina ela.
O intuito, segundo Olivia, a partir do evento de moda tecnológica da América Latina, é construir um espaço de experimentações, encontros, reflexões e compartilhamentos de ideias.
"Queremos algo que nos ajude a pensar a tecnologia não como algo implacável, mas como uma ferramenta que pode ser moldada de acordo com nossos desejos de futuro", complementa. "No entanto, para moldar precisamos conhecer. E como diria João Cabral de Melo Neto [poeta e diplomata brasileiro]: 'para aprender da pedra, frequentá-la'."
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