Madrugada entre túmulos iluminados: como é o Día de los Muertos no México
Entre 1º e 2 de novembro, o México é palco para um dos eventos culturais e religiosos mais impressionantes do mundo: o Día de los Muertos.
Nas datas (e em dias que as antecedem e sucedem), multidões tomam as ruas do país para homenagear e entrar em contato com seus falecidos, em manifestações que vão de desfiles cheios de pessoas com os rostos cobertos por pinturas de caveira a festivas reuniões noturnas nos cemitérios.
Unindo o sincretismo entre tradições pré-hispânicas e crenças católicas, a tradição se baseia na crença indígena de que as almas dos falecidos voltam uma noite por ano ao mundo dos vivos para um encontro com seus entes queridos, que os recebem com altares, flores, incenso e música, além de suas bebidas e comidas favoritas.
Este evento costuma ser buscado por turistas do mundo inteiro — e já foi visitado, em duas ocasiões, pelo fotógrafo brasileiro Érico Hiller (@ericohiller).
Para mim, como viajante e fotógrafo, se trata de algo único no mundo. As pessoas pintam seus rostos, usam fantasias, dançam, cantam ao som dos mariachis e tomam tequila. E tudo em um clima muito amigável com os estrangeiros".
Madrugada no cemitério
Érico participou do Día de los Muertos na cidade de Oaxaca, um dos lugares do México em que a data é celebrada de maneira mais colorida e intensa.
E, entre as experiências que viveu durante a festividade, as mais marcantes foram as surreais reuniões noturnas nos cemitérios locais, que quase nada têm a ver com o que acontece em grande parte do Brasil durante o Dia de Finados.
"Você entra à noite no cemitério e vê que absolutamente todos os cantos do local estão iluminados apenas por velas", relata ele.
E o ambiente é dominado por diversos tipos de sons. Há grupos fazendo música com mariachis ao redor dos túmulos, enquanto outras pessoas conversam em voz baixa com seus mortos."
Neste ambiente cheio de atmosfera, diversos mexicanos colocam junto às tumbas objetos queridos que pertenceram aos falecidos. E também chegam a fazer refeições sobre as sepulturas. Não raro, é possível ver pessoas dançando e cantando.
Segundo o fotógrafo, a festa atravessa a noite, nos cemitérios gigantes, que são verdadeiros labirintos.
Há túmulos cobertos por muitas flores, outros decorados com neon e alguns totalmente cobertos por velas. E quase todos com suas famílias em volta. Em um cemitério que tem 2.000 túmulos, haverá praticamente 2.000 pequenas festas acontecendo simultaneamente".
E o melhor: turistas são bem-vindos. "Os mexicanos se sentem prestigiados quando veem um estrangeiro visitando este evento no cemitério. Eles veem como um sinal de respeito às suas crenças e cultura".
Experiências o dia todo
Além da experiência noturna nos cemitérios, Érico conta que há coisas para fazer o dia inteiro durante o calendário da época do Día de los Muertos, como acompanhar os desfiles com pessoas com fantasias alusivas à morte que, embalados por muita música, tomam as ruas mexicanas.
Em Oaxaca, na parte da manhã, é possível ver desfiles de crianças fantasiadas de Catrina [nome pelo qual é chamada a figura de caveira mais famosa do Día de los Muertos] pelo centro histórico da cidade. E, à tarde, há muitas procissões."
Fiéis também marcam presença nas lindas igrejas coloniais que existem em Oaxaca para rezar pelos seus mortos — e, muitas vezes, entram nestes templos cristãos com os rostos pintados e os corpos cobertos por fantasias, gerando um interessante contraste com o ambiente solene destes locais.
E turistas também podem ter seus rostos pintados por artistas que, mediante pagamento, realizam o serviço em plena rua.
Já nos altares montados em homenagem a pessoas falecidas, quase nada de cores tristes: estes lugares que evocam lembranças de pessoas que já partiram são adornados com as tradicionais flores de cempasúchil, que chamam a atenção com sua cor amarela. E também são cobertos por frutas e bebidas que eram apreciadas por aquela pessoa em vida.
Em Oaxaca, aliás, flores de cempasúchil são quase onipresentes neste período do ano: elas adornam praças, ruas e janelas de edifícios, deixando a cidade belíssima.
E, na hora das refeições, Érico diz que dá para provar receitas típicas do evento, como o "pan de muerto", um pão muito consumido na época de Día de los Muertos e que pode ser ingerido com "pozontle", uma bebida à base de cacau.
Entretanto, o brasileiro diz que, mesmo com tantas cores e músicas, o Día de los Muertos "não é um Carnaval".
Não é de bom-tom, por exemplo, cair de bêbado no meio do cemitério durante os encontros noturnos, mesmo que muitas pessoas ali estejam ingerindo bebidas alcoólicas como tequila e mezcal.
"O Día de los Muertos é, acima de tudo, uma festividade que mostra como o povo mexicano olha de maneira terna para os seus finados. É um acontecimento para se emocionar", diz ele.
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