Perrengues e aventuras da viagem de bike de Pedro Nercessian pela Alemanha
Era para ser apenas uma viagem para o lançamento de um curta-metragem no Festival de Cannes, na França. Mas, em plena pandemia e em outro continente, o ator Pedro Nercessian se contaminou com coronavírus, perdeu o casamento do irmão no Brasil e decidiu dar outro rumo à viagem.
Após a quarentena na casa de uma amiga brasileira que mora em Bremen, no norte da Alemanha, Pedro se animou com a ideia de fazer pequenos deslocamentos de bicicleta. Pedalou tanto que foi parar em Colônia, a pouco mais de 300 quilômetros do ponto inicial do pedal.
"Fiz a viagem cheio de medos, mas me surpreendeu como as pessoas são abertas e solícitas. No interior da Alemanha, o povo é muito hospitaleiro", descreve o ator.
Sem roteiro definido e com uma pequena barraca no alforje, ele rodou cerca de 270 quilômetros, alternando com trechos feitos de trem para poupar o pé que começou a doer entre Osnabrück e Münster, cidade universitária conhecida como a capital alemã do ciclismo, onde os cerca de 300 mil habitantes convivem entre 500 mil magrelas.
Foram seis dias pedalando, entre 30 e 80 quilômetros por dia, dormindo em camping ou em casas de desconhecidos", lembra.
Ruim é não viver depois dos 30
O objetivo principal da viagem do ator no último verão europeu foi o lançamento de "Nada de bom acontece depois dos 30", curta-metragem em que interpreta Noah, protagonista de um futuro próximo em que as pessoas devem morrer, obrigatoriamente, aos 30 anos.
Mas contrariando a ideia central do novo filme do diretor Lucas Vasconcelos, esse ator de 36 anos se deu conta de que sempre dá tempo, depois dos 30, para mudanças na própria vida.
Pouco antes da pandemia começar, Pedro já tinha vendido seu carro para ir de bike até o estúdio onde estava gravando seu último trabalho na televisão.
"Pedalar sempre fez parte da minha vida, é sinônimo de liberdade. De carro, eu levava uma hora, de bicicleta eu gastava 1h20", contabiliza o ator que, atualmente, mora na Zona Sul carioca, a 40 quilômetros do local onde gravava uma novela em Vargem Grande, na Zona Oeste.
E quando questionado sobre seu maior medo de pedalar no Rio, Pedro é rápido na resposta.
É o risco de morte. Não é nem medo de assalto, mas de um acidente com algum carro. A cidade não é pensada para a segurança do ciclista", analisa.
Do outro lado do Atlântico, o ator teve experiências emocionantes que o fizeram refletir sobre segurança, como a Ghost Bike (memorial feito com uma bicicleta branca no local de um acidente fatal com um ciclista) encontrada em Osnabrück.
"Aquilo me fez lembrar que não exige lugar 100% seguro na relação entre ciclistas e automóveis", analisa.
Mais do que estradas e ciclovias, sua viagem na Alemanha foi feita por pessoas.
Com cerca de 35 quilos na bagagem, incluindo roupas de frio, barraca e equipamentos básicos para o pedal, Pedro passou por locais como Fahrenhorst, na Baixa Saxônia, onde foi surpreendido ao ser convidado por um local para acampar no seu quintal.
É como viver em um mundo paralelo, onde as casas não têm cerca. Curiosamente, nenhum dos dois ficou preocupado [com assalto], nossa preocupação mesmo era a covid", compara.
Em direção a Osnabrück, "a primeira cidade grande na viagem", Pedro conheceu um professor de xadrez que o convidou para vê-lo tocar órgão de uma igreja em Ostercappeln, também na Baixa Saxônia.
"Quando eu chegava com a bike carregada, muita gente parava para conversar e contar histórias da juventude", descreve o ator sobre a experiência nessa minúscula cidade alemã de menos de dez mil habitantes.
Dicas para pedalar pela Europa
Embora já tivesse pedalado em cidades como Londres, Berlim e Amsterdã, essa foi a primeira cicloviagem de Pedro entre cidades.
Um dos detalhes mais importantes em viagens desse gênero é a escolha da época certa para pedalar.
Embora tenha feito a viagem nos primeiros dias de setembro, já no final do verão europeu, o ator confessa que chegou a passar frio nos acampamentos. "Carioca sente frio em qualquer lugar, mas levantar de manhã era o mais difícil", brinca.
Entre as dicas que Pedro dá para quem quer se aventurar em uma cicloviagem é comprar itens em lojas de departamento na própria Europa, como casacos mais pesados, saco de dormir e equipamento de segurança, como capacete e luz de cabeça.
Para se orientar, o ator usava o GPS do próprio celular ou mapas físicos adquiridos na região onde se encontrava. Mas, antes de começar um novo dia, salvava os mapas da rota seguinte. Assim como o ator explica, as paradas eram onde ele tinha vontade, pois "você não passa 10 quilômetros sem ter uma pequena cidade [para parar]".
O interior da Alemanha é uma outra viagem. Aprendi a relaxar porque eu não tinha que chegar em lugar nenhum, o caminho passou a ser o destino", descreve.
Para o lanche entre as refeições principais, feitas em feiras livres ou próximo aos atrativos que visitava, levava também alimentos que garantissem energia, como amendoins e chocolates.
Baseado em uma experiência que teve anteriormente na Polônia, o ator concluiu que muitas vezes sai mais barato comprar uma bicicleta por ali mesmo e depois vendê-la antes de voltar para o Brasil.
"Talvez eu gastasse menos [do que se alugasse uma bicicleta na Europa]", arrisca o ator que viajou com "uma bike simples do dia a dia", um modelo de 21 marchas.
Atualmente em cartaz com o filme "O Silêncio da Chuva" e gravando a segunda temporada de "Bom dia Verônica" da Netflix, Pedro aprendeu a desacelerar.
"Sou muito ansioso, mas essa viagem me ensinou que eu não preciso me preocupar tanto com tudo. A ansiedade nem sempre é minha, às vezes, é uma condição do próprio país, como o Brasil", analisa.
A pandemia ainda não terminou, mas Pedro já planeja suas próximas cicloviagens, dessa vez no Brasil, como o pedal em um circuito em Volta Redonda, no Sul Fluminense, e outra no Crato, no Cariri cearense, terra da avó do ator.
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