Segura no Irã e assediada no Egito: como é viajar sozinha por estas regiões
A francesa Fatma Najar já viajou sozinha em diversas ocasiões pelo Oriente Médio e pelo norte da África, duas regiões que, aos olhos de boa parte do planeta, são extremamente perigosas para mulheres.
Ela esteve no Egito, Líbano, Irã, Argélia e Tunísia — e, nestas jornadas, enfrentou momentos perigosos e, ao mesmo tempo, viveu experiências incríveis que vão na contramão dos preconceitos que muitas pessoas têm sobre esta parte do globo.
"Um dos lugares em que mais me senti segura nesta área do mundo foi o Irã", diz ela, se referindo ao país que, internacionalmente, tem fama de ser um antro de extremistas islâmicos.
A cultura iraniana é muito hospitaleira e acolhedora. Isso faz com que você, como mulher, se sinta perfeitamente confortável ali, desde que aceite as exigências relacionadas às vestimentas, como a obrigatoriedade de cobrir a cabeça."
Ela conta que, nas cidades históricas, as paisagens naturais absurdamente belas, a comida deliciosa, a rica cultura persa e o calor das pessoas, que nada têm a ver com o repressivo governo do país, realmente valem a viagem.
"Conheci muitas mulheres viajando completamente sozinhas no Irã e que estavam adorando a experiência", lembra.
E há outra coisa interessante que Fatma revela: o território iraniano é um ótimo destino para atividades ao ar livre, que encantam as viajantes (e, também, os viajantes) amantes do turismo outdoor. É possível, por exemplo, esquiar na neve em uma zona montanhosa que fica relativamente perto da capital, Teerã.
Perigo no Egito
Por outro lado, a francesa também viveu experiências extremamente negativas em um dos países queridinhos dos turistas nesta região do mundo: o Egito, onde passou por uma assustadora situação de assédio.
Eu não recomendaria a nenhuma mulher visitar o Egito sozinha, pois o risco de ser assediada sexualmente por lá é muito alto", avisa.
Um ou dois anos após a Primavera Árabe, Fatma estava no Cairo e queria ir à Praça Tahrir, o emblemático local onde ocorreram os protestos de 2011. E ainda havia algumas manifestações na praça naquela época.
Mas, quando estava lá, um grupo de homens me cercou e começou a me tocar, inclusive no meu quadril. Comecei a entrar em pânico, mas um amigo que estava por perto me tirou daquela roda", relembra ela.
Algumas semanas depois, a situação se repetiu, quando passou por outra área de aglomeração no Cairo e voltou a ser cercada por homens assediadores.
Fatma diz que a situação para as mulheres no Egito pode ter melhorado um pouco desde a última vez que visitou o país.
Ouvi dizer que houve uma relativa conscientização após o crescimento do movimento 'Me Too', mas ainda não é aconselhável ir sozinha para lá. A mulher deve ir com um grupo com amigos do sexo masculino."
Mesmo assim, vale a pena visitar o território egípcio pelas razões históricas que todo mundo conhece, opina.
Regras de sobrevivência
Fatma tem alguns conselhos para mulheres que planejam visitar sozinhas o Oriente Médio ou o norte da África:
- Abrace os hábitos de vestimenta das mulheres do país que está visitando. "Cobrir grande parte do corpo pode parecer algo que vai contra a liberação das mulheres, mas não se esqueça que isso é parte da cultura local. Felizmente, mulheres não precisam cobrir a cabeça em muitos países da região, mas é algo obrigatório no Irã";
- Pergunte aos nativos se é seguro ir a um determinado lugar ou não. "É melhor se essa pessoa for mulher, mas os homens também podem dar um bom conselho", explica;
- Faça amigos locais de confiança com os quais você possa entrar em contato em caso de emergência;
- Diga sempre a estas pessoas para onde está indo, especialmente quando estiver sozinha;
- Tente, sempre que possível, levar um guia para visitar os lugares de interesse turístico. "Além de ficar acompanhada por alguém que conhece bem o país, você aprenderá mais coisas do que estando sozinha".
Por que vale a pena visitar estes países?
"Esta região do mundo é um dos berços da civilização. Grandes sociedades foram formadas lá e, no Oriente Médio, nasceram as grandes religiões monoteístas, ainda hoje praticadas por boa parte da população mundial", diz Fatma.
"E isso sem falar de todos os impérios que governaram territórios nesta área, todas as cidades emblemáticas de dinastias poderosas e todos os sítios arqueológicos. Vale a pena conhecer mais de perto esta história", continua.
A francesa também conta que, além deste aspecto histórico, a região tem "paisagens deslumbrantes, o mar Mediterrâneo e comida incrível".
E, lá, há outros lugares que a viajante considera seguro para mulheres.
A Tunísia, por exemplo, é um país bem fácil de visitar. É um local amigável e nada hostil contra as mulheres", avalia.
"O povo tunisiano se vangloria de seu progressismo e modernidade. E pode falar por horas sobre a mulher tunisiana 'liberada'. Na Tunísia, nunca me senti diminuída ou desamparada em certas situações apenas por ser mulher".
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