Como o maior nome da moda praia brasileira "abriu os olhos" para a pandemia
É quase impossível pensar na moda praia brasileira e não relacionar a Amir Slama. O estilista agora decidiu expandir seus horizontes e lançou uma coleção-cápsula autodenominada sem gênero: a Slamb. A ideia é mostrar um outro (e novo) lado de suas criações com peças que serão lançadas ao longo dos próximos meses, os então chamados "drops".
O primeiro deles traz camisetas com estampas que protagonizam os olhos humanos, como um manifesto sobre o tempo da pandemia, em que eles se tornaram as únicas partes visíveis dos nossos rostos.
"Com toda essa questão do tempo que a gente ficou recluso, me deu vontade de fazer um 'lado B'. Criar pequenas coleções cápsulas, sendo essa primeira de camisetas, depois de calças e mais", conta Amir Slama em entrevista para Nossa. "Chamou muita minha atenção como, nesse período em que estamos usando máscaras, os olhos se tornaram intensos. A gente acabou criando a coleção a partir desse conceito, a partir de uma visão mais artística, explorando o olho como o elemento mais importante".
A sustentabilidade e o gênero
As roupas são feitas com matéria-prima reciclada e com elementos bordados à mão. Além disso, as novas criações trazem também a sensibilidade à diversidade de corpos e vivências, podendo fazer parte do guarda-roupa de qualquer pessoa, sem distinções do que é voltado ao público masculino ou feminino.
"Uma sensação minha, em particular, é a força das roupas mais amplas", opina o estilista. "Tanto o feminino como o masculino estão abertos a isso, usar roupas menos justas".
Eu acho que gradualmente a gente vai indo para formas e estruturas que possam ser agênero. Isso vai acontecer naturalmente. Eu já fiz alguns exercícios com coleções, de ter calcinhas femininas como sungas, por exemplo".
A expansão dos negócios do criador da icônica Rosa Chá, com lojas espalhadas por todo o mundo, é definitivamente uma consequência da pandemia do coronavírus e os assuntos que permearam a moda durante esse período. Sendo um deles o upcycling, prática voltada para um estilo de vida que visa o consumo menos acelerado.
"Acabei utilizando malhas que eu já tinha no meu atelier para criar as roupas dessa primeira coleção", conta ele. "Usamos o que já tínhamos, a partir de coleções antigas. Além disso, vão ser utilizados fios menos agressivos, feitos de forma mais orgânica. É uma questão voltada ao meio ambiente, não só pensando comercialmente, mas também como uma preocupação com nós mesmos".
Para Amir, não só ele, particularmente dizendo, como também toda a indústria da moda e os seus consumidores desenvolveram nos últimos anos uma visão mais atenta a essas necessidades sustentáveis.
"A minha sensação é que hoje as pessoas estão mais conscientes", opina. "Estamos mais abertos a utilizar o patchwork, misturar peças antigas com peças novas. Isso é uma tendência que já vinha crescendo e ganhou força".
Os próximos passos
Sobre a próxima edição do São Paulo Fashion Week, que será realizada em novembro deste ano, Amir conta que, apesar do lançamento de uma nova coleção de sua linha regular, não participará dos desfiles.
"Eu decidi não participar. Foi um ano muito complicado, perdi minha mãe pela covid-19. Mas estamos trabalhando", diz ele ao citar sua loja na Bela Cintra, em São Paulo. "Desde novembro do ano passado, montei um espaço novo em que a gente agrega as costureiras dentro da loja. A ideia é criar uma experiencia dentro do espaço. Esse momento novo está pedindo situações diferenciadas".
Por fim, o estilista reforça os seus aprendizados para as próximas etapas do seu trabalho: "A indústria da moda já vinha em um momento complicado, politicamente e economicamente. A pandemia veio acelerar processos, para gente revisar as matérias primas que usamos. Falar sobre isso"
Acho que meu aprendizado foi reciclar. Repensar formas e materiais, coisas que eu tenho e poderia aproveitar".
Confira todas as peças da coleção-cápsula Slamb
As 12 primeiras criações estão disponíveis para compra no e-commerce Farfetch.
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