Pelados no Brasil: turismo naturista tem tours de barco e pacotes de viagem
Em meados de outubro, um grupo animado de 22 pessoas percorreu 258 quilômetros rumo a Paraty, no litoral sul do estado do Rio de Janeiro, para curtir um final de semana em um hostel com passeio de barco incluído. Até aí um programa normal como qualquer outro, se não fosse um detalhe: todos estavam nus.
Tanto na acomodação (fechada exclusivamente para o pacote) como no tour marítimo, era dispensável o uso de roupas, colocando em prática a filosofia naturista, popularizada no país pela dançarina, atriz e escritora Luz del Fuego [1917-1967].
Organizado pela técnica de enfermagem Márcia Assumpção, de 51 anos, que adotou o sobrenome Mística, este foi apenas mais um dentre vários eventos já promovidos por ela. Adepta do naturismo há mais de 20 anos, ela não restringe os passeios apenas à Costa Verde, onde reside, e os realiza também no Rio, em casas espaçosas cercadas pela natureza em bairros nobres como Cosme Velho, por exemplo.
Para Mística, estas atividades representam romper padrões:
O naturismo é uma quebra de paradigmas em relação a tudo, a quebra do preconceito, do machismo, dos vícios que a gente tem aí na sociedade vestida"
Apesar de não haver restrições a pessoas solteiras (principalmente homens, considerando que alguns lugares proíbem indivíduos do sexo masculino desacompanhados), é necessário seguir o Código de Ética Naturista (veja nosso guia da praia de nudismo).
Mística explica que filtrar as pessoas é muito importante e que sempre conversa antes com os interessados sobre o tema para saber suas reais intenções, se aprecia de fato a filosofia ou está em busca de, digamos, outra coisa.
Naturismo não tem nada a ver com sexualidade, ninguém perde a sexualidade por ser naturista, mas a roupa para os naturistas não é um empecilho para o respeito, o respeito está na mente", filosofa.
No âmbito naturista, a mais séria das infrações consiste em "ter comportamento sexualmente ostensivo e/ou praticar atos de caráter sexual, ou obscenos em áreas públicas", dentre outras regras.
A carioca ressalta que, felizmente, nunca passou por alguma situação envolvendo essa quebra de conduta, mas relata que já viu acontecer em outros encontros pessoas que estavam mal-intencionadas.
Outro ponto levantado por ela diz respeito a manter um equilíbrio entre homens e mulheres, para que não vire um Clube da Luluzinha ou do Bolinha — nudista.
Uma vez 'filtrado' o pessoal, a privacidade nos locais que sediam os eventos é essencial para evitar a presença de curiosos, assim como natureza abundante, já que os naturistas prezam por esse contato.
O lazer também é importante. Mística explica que isso depende da dinâmica do local. Em lugares de praia, ela sugere trilhas e passeios de barco. Quando o destino é uma casa, a programação inclui almoços coletivos, apresentações artísticas, confraternização na piscina e outras atividades para promover a dinâmica do grupo.
Uma das participantes do passeio em Ilha Grande era a servidora pública aposentada Terezinha Aguiar, de 60 anos,
"Foi um final de semana espetacular. Pudemos observar a natureza a nossa volta durante o passeio de barco; vi peixe-agulha, tartaruga e a flora das ilhas próximas. Reencontrei amigos e fiz amizades com outros naturistas, inclusive um casal mochileiro que veio da Argentina com sua cachorrinha" conta animada. Teca, como é conhecida, faz parte também do Conselho de Ética da Federação Brasileira de Naturismo (FBRN).
A ideia de criar encontros naturistas no Cidade Maravilhosa surgiu após Mística notar que havia uma constância em outros estados, principalmente em São Paulo. Na suas viagens com foco no tema, já conheceu todas as praias naturistas do Brasil e destino no exterior.
O primeiro encontro que realizou foi em uma casa de praia em Ilha Grande. Em 7 anos dedicada à organização das atividades, ela também acrescentou nas opções de roteiro um sítio em Guaratiba (bairro da zone oeste do Rio de Janeiro) — em eventos que chegaram a reunir mais de 30 pessoas acampadas — e, por fim, na capital. O próximo encontro será no início de janeiro, em uma casa com piscina no Alto da Boa Vista, bairro da Zona Norte carioca. A expectativa é reunir cerca de 30 pessoas.
Viagens com pouca bagagem
Outro pioneiro na junção turismo e naturismo no Rio de Janeiro, Neucedir Valério é, há 5 anos, dono de uma agência de viagens Ecomar, que organiza passeios e excursões nudistas para diversos destinos brasileiros. Há desde pacote de três noites na região serrana do Rio com atividades de aventura (pousada fechada para os hóspedes naturistas); imersão envolvendo a nudez social em uma comunidade sustentável na Bahia; até uma vivência no Alto Xingu (MT), em que a proposta é se integrar com outras culturas, sendo a nudez opcional nos banhos de rio e danças indígenas.
Valério também está organizando para outubro de 2022 um cruzeiro naturista de oito noites pelo Rio Amazonas, com pensão completa, city tour e outras facilidades, cujo roteiro vai englobar Manaus, Rio Negro, Itacoatiara, Aldeia Mura e Maués, com valores a partir de R$ 7.200 por pessoa, sem aéreo. Esta é considerada uma viagem de luxo, mas o empresário salienta que existem outras opções mais econômicas e próximas, em locais como Ilha Grande e Nova Friburgo (RJ).
Condomínio naturista
Enquanto alguns fazem viagens e passeios sem roupas, em breve será possível também viver desnudo. O empresário paulista Éder Ferreira, 39 anos, naturista há 15, resolveu transformar o seu sítio de 68 mil m² em uma vila naturista — nos moldes de outras comunidades, como o condomínio nudista na República Dominicada.
Localizado em Natividade da Serra, município no estado de São Paulo com quase 7 mil habitantes, o empreendimento terá uma área de lazer completa com salão de festas, churrasqueira, piscinas, sauna, ofurô, academia ao ar livre e playground, além de portaria 24 horas para garantir a privacidade e segurança dos moradores.
O idealizador esclarece que as casas não terão um estilo padrão. "Alguns estão pensando em fazer de eucalipto tratado e outros seguindo o modelo contêiner que já vem pronto, isso vai de cada um, só não vai ser de alvenaria por duas razões: dá trabalho trazer o material e leva tempo para construir". Ferreira comemora o sucesso da iniciativa, revelando que já vendeu 10% dos 55 lotes disponíveis, cujo valor gira em torno de R$ 30 mil cada.
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