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Engenheiro se "aposenta" para pedalar pelo mundo até 2027

Extremos do Brasil: Nestor Freire durante a viagem que fez do Oiapoque ao Chuí - Arquivo pessoal
Extremos do Brasil: Nestor Freire durante a viagem que fez do Oiapoque ao Chuí
Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Colaboração para Nossa

14/11/2021 04h00

Depois de 25 anos trabalhando no mundo corporativo, o engenheiro Nestor Freire, 54, resolveu fechar sua empresa e ir atrás de um sonho antigo: pedalar pelo mundo e seguir um roteiro por 15 anos.

Desde 2012, ele já tinha desenhado o pré-projeto, mas foi depois de um ano que colocou os planos em prática. A viagem começou pela Estrada Real, que inicia em Minas Gerais, passa por São Paulo e tem como destino final o Rio de Janeiro. "Eu sempre tive esse espírito para pedalar sozinho. Então, o que era hobby virou estilo de vida e um projeto", conta.

Nestor Freire - bike bicicleta - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Para Nestor, pedalar virou um estilo de vida
Imagem: Arquivo pessoal

Em 2014, Nestor seguiu para Espanha, depois retornou ao Brasil e, em 2017, pedalou pela Via Francigena, que passa pela Inglaterra, França, Suíça e Itália. Uma das estratégias do viajante é conhecer os países sempre no verão e conciliar a estação nos hemisférios sul e norte. Com isso, ele aproveita os dias mais longos e não pega temperaturas tão baixas.

A condição climática é um ponto importante, já que o viajante prioriza acampamentos e dorme, na maioria das vezes, em barracas. "Fiz muito isso nos países nórdicos, pois são muito caros. Eu não me hospedo em hotel e nem como em restaurante. Escolho um mercado, faço uma boa compra e me mantenho desta forma."

Nestor Freire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Na montanhas próximas a Frankfurt, na Alemanha
Imagem: Arquivo pessoal

Minimalismo é a chave para percorrer grandes distâncias

Na estrada desde 2013, Nestor não mudou e nem pensa em mudar seu estilo de viagem. Ele conta que leva somente o necessário em sua bike e é desta forma que explora o mundo. "Não precisa levar tudo. Tem que ser minimalista e saber exatamente o que vai precisar", diz o ciclista.

Nestor Freire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Pouca bagagem, muita disposição. Aqui, a bike em estrada na Finlândia
Imagem: Arquivo pessoal

E como passa boa parte dos trajetos sozinho, ele também aprendeu a dosar os medos e hoje encara com mais naturalidade cada lugar que passa.

Segundo o engenheiro, ao longo dos quase oito anos de viagem, um dos pontos chaves de sua jornada foi o autoconhecimento.

O peso que você carrega na bicicleta é proporcional ao seu medo. Isso vale para a vida"

Nestor Freire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Durante o tour na Europa, sobre ponte na França
Imagem: Arquivo pessoal

Ele conta ainda que uma das principais vantagens em viajar sozinho é estar aberto para as pessoas, se despir de preconceitos e interagir ainda mais com os locais. "Uma das coisas mais incríveis que a vida me ensina é como as pessoas são boas", afirma o viajante.

Do Oiapoque ao Chuí

E foi no Brasil que Nestor teve uma das suas melhores experiências de viagem. No ano passado, ele fez a rota dos extremos territoriais do país.

Nestor Freire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Nas ruas de pedras de Paraty, no Rio de Janeiro
Imagem: Arquivo pessoal

Para chegar até o Oiapoque, ele precisou ir para Macapá (AP) e pegar uma caminhonete por um trajeto que durou dez horas.

Coloquei a bike em cima do veículo, preparei todo o equipamento e fui descendo para o sul. Desci o Amapá todinho"

O trajeto ainda exigia algumas horas de barco passando por Belém, no Pará. "São 24 horas de navegação até chegar no ponto e começar a descer o Chuí", conta o viajante.

Em território nacional, ele também teve um dos seus piores perrengues na estrada. Durante a passagem pela rodovia Transamazônica, ele achou que ia ser atropelado ou sofrer algum tipo de violência. "É uma loucura onde eu estava. Lá é uma região de conflito com o garimpo. É um local que precisa de mais atenção."

Nestor Freire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Na Transamazônica, um dos trechos mais difíceis entre as viagens que fez pelo mundo
Imagem: Arquivo pessoal

Profissão agora é a estrada

Desde o começo da viagem, ele apelidou o roteiro de "GiraAventura". Além de conhecer diversas cidades e países pelo mundo, ele ainda colhe relatos de moradores ao longo dos trajetos em que passa.

Em 2019, ele ainda lançou o livro "Extremos do Mundo" (Editora Taygeta) contando um pouco da sua experiência visitando o Chile, Argentina, Holanda, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega.

Nestor Freire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
As aventuras de Nestor viraram um livro contando a experiência
Imagem: Arquivo pessoal

Como agora a maioria das fronteiras está fechada, ele pretende retomar as viagens no final deste ano ou no início do ano que vem. O país escolhido para voltar é a Islândia.

Como a meta é seguir um roteiro que foi programado até 2027, os próximos lugares da lista são Japão, Índia, Turquia, Irã, África do Sul e Butão.

Nestor Freire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Nestor pretende voltar à estrada no exterior para seguir seu projeto até 2027
Imagem: Arquivo pessoal

E para o destino final ele escolheu o Caminho de Santiago de Jerusalém. Segundo ele, há dois motivos especiais para finalizar a rota desta forma. "Faço 60 anos em 2027. E essa data representa um ano Jubilar Compostelano, que é celebrado desde a Idade Média, por disposição papal. O último foi em 2010 e o próximo será em 2021 e só depois em 2027, 2032 e 2038.

Nestor Freire - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
No "fim do mundo", em Ushuaia, extremo-sul da Argentina
Imagem: Arquivo pessoal