Teste genético em cães promete desvendar personalidade e antecipar doenças
Com olhos e pelos brilhantes, a cachorrinha Layla é uma pretinha SRD que há dois anos — e 5 de idade — respira aliviada e muito bem instalada. Hoje integrante da família do terapeuta Claudio Mariotto, de 56 anos, que a adotou, ela foi resgatada por uma entidade de amparo animal após ser mantida amarrada e sem cuidados na porteira de uma fazenda em Taubaté, no interior de São Paulo.
A vida dura da bichinha, porém, ficou no passado. Os cuidados dos tutores, aliás, vão além de comida boa, brincadeiras, passeios, cama quentinha e muito amor: preocupados em conhecer a personalidade e os antepassados de Layla, a família decidiu submetê-la a um teste genético.
É isso mesmo. Engana-se quem pensa tratar-se de um tema de ficção científica. Apenas esfregando uma escovinha na bochecha da cachorra (material necessário para a realização do teste), Mariotto conseguiu descobrir, por exemplo, que ela é descendente das raças de pastores McNab e Canadense (como também é chamado o pastor branco suíço), além de também possuir parentesco com o Perdigueiro Português.
Todos têm em comum características como serem próximos aos tutores e adorarem ficar dentro de casa, exatamente o mesmo tipo de comportamento demonstrado por Layla.
Segundo Mariotto, o teste genético identificou os traços comportamentais dela e o fez entender que algumas características não estavam ligadas a traumas da época em que ela viveu abandonada, mas à mistura de raças.
Ela é mansa, amiga, muito calma e territorialista. Apesar de ser bem companheira dos humanos, não aceita muito a presença de outros da mesma espécie. Também cava alguns buracos de vez em quando", diz Mariotto.
Além de "teste de personalidade"
O veterinário Lucas Rodrigues, diretor científico da Box4dog, empresa que fabrica e realiza os testes, explica que o conhecimento sobre a personalidade da Layla, fruto da mistura de raças as quais pertencem seus antepassados, é somente uma das aplicações do teste. Também é possível, por exemplo, prever a necessidade do cãozinho relacionada a níveis de atividade física e outros aspectos que poderão contribuir na hora da adoção.
Outra parte do teste está relacionada à prevenção de doenças genéticas que podem ser detectadas após o sequenciamento do DNA dos bichinhos, garante o profissional, que trabalha com oncologia há mais de 15 anos, tem mestrado e doutorado na USP e pós-doutourado nos Estados Unidos voltado para estudo de genes.
O veterinário também explica que o teste é capaz de "ler", através do DNA, a tendência à existência de pouco mais de 200 doenças estritamente genéticas que os cães poderão desenvolver independente das condições do ambiente.
A intenção é minimizar os impactos dessas doenças ao longo da vida dos animais. Muitas vão aparecer em cães com mais de 8 anos de idade e, sabendo disso, os tutores podem tomar algumas providências prévias."
Rodrigues diz que a ideia da testagem genética atende a um anseio legítimo das famílias que têm pets em casa: dar qualidade de vida para seus bichinhos. "Hoje as pessoas estão cada vez mais dependentes das informações, querem saber tudo para que o pet viva bem e por mais tempo", diz.
O veterinário salienta que através da análise do DNA também é possível saber a probabilidade de um cão ter uma reação alérgica a medicamentos — que podem provocar problemas neurológicos no animal.
No caso de Mariotto, o teste de Layla identificou que ela poderia sofrer com uma sensibilidade digestiva, o que fez a família modificar a alimentação da cachorrinha antes mesmo da manifestação do problema. "Resolvemos melhorar a alimentação, já que uma das indicações do teste sugere que ela não consuma muita comida seca", disse.
O que fazer com os resultados
Há três tipos de testes: o que identifica as raças e características dos cãezinhos, o que aponta as prováveis doenças que podem acometer o bichinho e o terceiro, que faz as duas identificações. Eles custam R$ 669, R$ 869 e R$ 999, respectivamente.
Ainda não estão disponíveis os testes para gatos, mas a empresa deve disponibilizá-los no início do próximo ano.
Após o teste, o tutor recebe em casa um relatório completo com mais de 30 páginas e, no caso da análise das doenças, recomendações sobre como prevenir e como cuidar do cãozinho.
Segundo Rodrigues, é sempre recomendado que, com o resultado em mãos, as pessoas procurem um veterinário para decidir pela melhor conduta e minimizar os efeitos das doenças as quais os animais são geneticamente propensos.
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