Aviação age para ser sustentável com combustível verde e "avião reciclado"
Durante a COP26, a Conferência da ONU sobre Mudança Climática realizada na Escócia neste mês, mais de 300 entidades já assinaram a Declaração de Glasgow para Ação Climática no Turismo. O compromisso é tentar zerar emissões de CO2 até 2050, em iniciativa liderada pela Organização Mundial do Turismo (OMT) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) — e que finalmente envolve empresas da aviação.
O documento reconhece a necessidade urgente de um plano de ação climática no turismo e tem como metas principais que a indústria corte pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e zere completamente as emissões até 2050.
Todos os signatários do documento — que segue disponível online, esperando que mais empresas do turismo se envolvam na iniciativa — se comprometeram a medir, descarbonizar, liberar financiamento e apresentar em um ano um novo plano concreto de ação para o fim efetivo das emissões de carbono.
A Declaração de Glasgow é uma ferramenta para ajudar a fechar a lacuna existente entre as boas intenções e ação climática significativa", diz Zurab Pololikashvili, Secretário-Geral da OMT.
Compromissos globais
Em alinhamento com o objetivo do Acordo de Paris, a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) aprovou recentemente uma resolução para que o setor de transporte aéreo global atinja zero emissão de carbono até 2050.
"Sabemos que este será um grande desafio. Afinal, para atender aos dez bilhões de passageiros que devem voar em 2050, precisamos eliminar, pelo menos, 1,8 bilhão de toneladas de carbono nesse mesmo ano", explica Dany Oliveira, diretor-geral da IATA no Brasil.
A resolução exige que todos os grupos envolvidos do setor se comprometam a abordar o impacto ambiental de seus produtos, políticas e atividades com ações concretas e prazos claros — sem mais bla bla bla, como bem definiu recentemente a ativista Greta Thunberg.
"Todas as partes devem trabalhar juntas. Governos têm um papel fundamental no desenvolvimento de incentivos eficazes para esse grande desafio. É importante também que garantam um marco regulatório consistente com os desafios para atender aos compromissos do setor", explica Oliveira.
Segundo ele, a IATA se compromete a analisar continuamente esse processo.
O envolvimento com viajantes, ONGs ambientais e governos com base em relatórios transparentes é o que garantirá que nossa jornada para zero emissão seja totalmente compreendida", diz.
Combustível verde: a solução a curto prazo
O setor aéreo entende que os combustíveis sustentáveis são a chave para reduções de emissões de CO2 em larga escala que outras tecnologias aeronáuticas não conseguem alcançar a curto prazo.
A Boeing, por exemplo, aposta na produção deste tipo de combustível em larga escala em solo brasileiro. Segundo Landon Loomis, Diretor-Geral da Boeing Brasil, um estudo realizado pela empresa em parceria com a RSB e a Agroicone concluiu que o Brasil tem capacidade para produzir anualmente até 9 bilhões de litros de combustível de aviação sustentável (SAF).
Isso representa cerca de 125% do consumo de combustível fóssil atual do país por ano", afirma.
Landon afirma que a empresa, na última década, direcionou US$ 3 milhões a projetos para fortalecer o ecossistema da produção brasileira de biocombustíveis e já realizou mais de 250 mil voos com biocombustíveis no mundo.
"Continuamos buscando novas formas de otimizar os custos para viabilizar a produção em larga escala, investindo na capacitação de pequenos produtores e em tecnologias que se mostram cada dia mais promissoras no longo prazo, como os veículos aéreos elétricos, hidrogênio verde e células de combustível", garante o executivo.
O que as companhias aéreas já estão fazendo
Relatório da OMT publicado pré-pandemia, em dezembro de 2019, mostrou que as emissões de gases dos meios de transportes ligados ao turismo poderão representar 5,3% de todas as emissões até 2030. Em 2016 o setor já emitia 1,5 bilhões de toneladas de emissões de gases poluentes, com expectativa de aumento de 25% desse número até 2030.
Algumas companhias aéreas já colocaram em prática algumas ações reais para que o setor tente ser mais sustentável a partir de agora. Neste sentido, as companhias europeias, asiáticas e oceânicas estão dando um banho nas empresas americanas e africanas — incluindo todas as aéreas brasileiras.
Azul, Latam e Gol estão comprometidas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e as emissões líquidas zero de carbono em 2050, mas as ações e iniciativas já implementadas por elas ainda estão aquém de outras grandes companhias.
Na Europa, há diversas iniciativas simples já em curso em diferentes empresas aéreas do continente. O Grupo Lufthansa, por exemplo, já começou a substituir os plásticos de uso único nos voos operados pelas companhias Lufthansa, Eurowings, Swiss International Airlines e Austrian Airlines, e firmou o compromisso de eliminar completamente o uso do material até 2025.
Algumas delas já usam hoje também talheres, copos e canudos recicláveis, e diferentes embalagens feitas de material reciclado.
A Air New Zealand, na Oceania, começou a introduzir em seus voos talheres e outros utensílios fabricados com materiais "eco-friendly", além de eliminar a bordo embalagens plásticas de água, biscoitos e chás, por exemplo. A empresa espera assim evitar o descarte dos 36 milhões de produtos que deposita anualmente em aterros sanitários.
Esforço reconhecido e eficaz
O grupo Air France-KLM, nos últimos 14 anos, ficou entre os 3 primeiros colocados no Índice Dow Jones de Sustentabilidade. A KLM vem renovando a frota e desenvolvendo seu próprio esquema de compensação de carbono, e firmou um compromisso para o desenvolvimento da primeira usina de combustível de aviação sustentável. Em 2018, tais medidas resultaram em uma redução relativa de 17% nas emissões de CO2 por passageiro em relação a 2011.
A Agência Sueca de Energia concederá financiamento especial para a KLM Royal Dutch Airlines continuar suas pesquisas de desenvolvimento e produção de combustível de aviação sustentável usando resíduos florestais.
Outra iniciativa é a Train+Air, que combina serviços da Air France e da SNCF French Railways, ganhou em 2021 sete novas rotas, somando agora 18 itinerários pela França. O programa estimula viajantes a aderirem ao trem em viagens mais curtas, evitando as emissões geradas pelos aviões.
O grupo lançou também um programa de compensação de emissões de carbono, o CO2ZERO. Através dele, o passageiro paga um pequeno valor para compensar o impacto ambiental de seu voo. Desde a criação do programa, 175.000 passageiros viajaram CO2 neutros, com 50% menos emissões em solo e 680 hectares de floresta tropical plantada no Panamá como compensação.
A KLM estabeleceu também como metas para 2030 computar 50% menos emissões de CO2 por passageiro e 15% menos emissões de CO2 na operações de voo (comparados a 2005), 50% menos lixo não reciclável (comparado a 2011) e zero emissões em operações de solo.
Sustentabilidade e assistência social
A premiada asiática Emirates, baseada em Dubai, assinou recentemente um contrato pioneiro com a empresa Falcon Aircraft Recycling para que seus A380 aposentados sejam reciclados e reaproveitados, reduzindo o impacto ambiental do processo de desconstrução da aeronave e a consequente geração de lixo.
Os icônicos bar de bordo e mobília da primeira geração das aeronaves A380 serão transformados em mobília personalizada e outros itens do avião serão vendidos também nos próximos meses, estimulando a onda do "consumo circular". Uma parcela dos lucros obtidos com as vendas irá para a Emirates Airline Foundation, focada em auxiliar crianças desfavorecidas em distintos países e regiões.
A Qatar Airways também tem promovido nos últimos anos investimentos estratégicos em uma frota mais sustentável, incluindo algumas aeronaves bimotoras, com baixo consumo de combustível.
No começo da pandemia, a companhia suspendeu sua frota de Airbus A380 por acreditar que a mesma não seja ambientalmente justificável no restrito mercado atual. Segundo levantamento da própria empresa, as aeronaves A350 economizam no mínimo 16 toneladas de dióxido de carbono por hora de bloco em comparação com o A380, uma diferença que chega a impressionantes 95% em algumas rotas operadas pela companhia.
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