Corra, Jamie, corra! Viajante faz 17.000 km a pé do Canadá à Argentina
Depois de completar 34 anos de idade, o britânico Jamie Ramsay (@jamieisadventuring) chegou à conclusão definitiva de que não estava feliz com sua vida.
"Por 12 anos, tive um emprego no centro financeiro de Londres pelo qual não nutria paixão nenhuma. E, nas horas vagas, comecei a me enfiar em pubs para passar horas bebendo. Certo dia, cheguei de manhã ao meu trabalho após ficar até de madrugada em um bar e dormi no banheiro do escritório. Quando acordei, me olhei no espelho e fiquei me perguntando: 'o que estou fazendo aqui?'".
Este questionamento motivou Jamie a buscar novos caminhos: ele, então, largou seu emprego e resolveu viajar.
Eu já havia feito corridas de longa distância e tinha gostado muito da experiência. E, agora que estava livre, quis unir viagens com as corridas. Queria fazer coisas que, ao contrário da minha antiga profissão, me deixassem realizado"
O projeto bolado pelo britânico foi grandioso: ele voou para a cidade canadense de Vancouver e lá começou um trajeto de mais de 17 mil quilômetros que cruzaria 14 países das Américas, duraria mais de um ano e iria terminar em Buenos Aires, na Argentina. E Jamie fez quase toda esta rota correndo.
"Escolhi este percurso porque, com meu passaporte britânico, teria entrada fácil em todos os países que faziam parte do itinerário. E seriam apenas dois idiomas, inglês e espanhol, com os quais lidar na jornada. E, logicamente, eu sabia que iria encontrar lindas paisagens no caminho", conta a Nossa.
E ele não estava errado: sozinho e empurrando suas coisas pelas estradas em um carrinho, Jamie cruzou a fronteira do Canadá com os Estados Unidos, desceu correndo pela Costa Oeste do território americano, cruzou o México e, depois, passou (sempre correndo) por Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá.
Após sair da América Central, o viajante ingressou na América do Sul, atravessando a pé Colômbia, Equador, Peru, Chile e, finalmente, Argentina.
E, em todo este roteiro, realmente passou por lugares incríveis, como as praias da Baja California (no México), as florestas do Panamá, as paisagens andinas do Equador e o deserto de Atacama, no Chile.
Para a empreitada, ele criou um carrinho — parecido com um de bebê — e chegou a levar mais de 30 quilos na engenhoca. Estavam ali objetos importantes para a jornada, como equipamentos de camping (na hora de dormir, Jamie acampou em grande parte do percurso), itens para cozinhar ao ar livre (como fogareiro), comida, água e roupas para diferentes temperaturas.
Em média, eu corria cerca de 46 quilômetros por dia. Mas houve um dia em que fiz quase 80. Ao todo, a viagem consumiu 17 pares de calçados"
Desafio no deserto e na altitude
Jamie, logicamente, enfrentou momentos extremamente desafiadores na viagem. Ele, por exemplo, cruzou correndo o inóspito deserto de Sechura, no Peru.
"Antes de chegar lá, conheci ciclistas que haviam sido assaltados neste deserto. Eles me disseram que era um lugar muito perigoso. Mas não consegui fazer outra rota", diz.
Quando estava entrando em Sechura, algumas crianças na beira da estrada começaram a gritar para mim, dizendo eu ia morrer. Fiquei assustado, mas, no final, nada aconteceu"
Já ao cruzar as montanhas dos Andes, o britânico teve que sobreviver à altitude: ele chegou a correr a aproximadamente 4.800 metros sobre o nível do mar, em um dos trechos da viagem em que seus pulmões foram mais exigidos.
E, ao ir ao Atacama, precisou estar preparado para passar um longo tempo sem ter qualquer contato humano. "Corri 715 quilômetros entre as cidades chilenas de Arica e San Pedro de Atacama. No caminho, era só deserto. Foi difícil, mas, ao mesmo tempo, foi uma das coisas mais incríveis que já fiz. Eu queria ser capaz de vencer todos os desafios que aparecessem na minha frente. Este era um dos motivos pelos quais eu estava nesta viagem".
O trecho final da jornada, por sua vez, presenteou Jamie com uma partes mais fascinantes do trajeto: a região andina que separa o Chile da Argentina, cheia de montanhas lindíssimas.
Nesta área, pude ver paisagens repletas de vicunhas, admirar lagos coloridos embelezados por flamingos e correr em estradas cercadas por cenários que pareciam com Marte"
"Ao acampar nesta zona dos Andes, não havia ninguém por perto. Eu estava completamente sozinho, tomado por um sentimento libertador", relembra.
Depois disso, Jamie cruzou a Argentina e chegou a Buenos Aires. "Quando terminei a viagem, me vi dominado por uma mistura de sentimentos. Estava feliz por ter superado meus limites e chegado tão longe. E, ao mesmo tempo, percebi que sou mais feliz no trajeto do que no final das viagens. O fim de uma aventura assim é sempre triste".
Jamie, entretanto, não parou por aí. Ele já realizou outras jornadas extremamente desafiadoras pelo planeta (compartilhadas em seu site), como uma corrida de 430 quilômetros pela Escócia e a escalada do Aconcágua, a montanha com o pico mais alto das Américas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.