Grifes brasileiras ainda omitem dados sobre trabalho e impacto ambiental
A grande maioria das marcas de moda do país não oferece dados claros sobre o número de trabalhadores que tiveram contratos suspensos ou atrasos nos seus pagamentos devido à crise econômica provocada pela pandemia.
Esta é apenas uma das conclusões da edição de 2021 do Índice de Transparência da Moda no Brasil, levantamento anual realizado pela organização internacional Fashion Revolution que apontou na semana passada práticas e políticas duvidosas ou irregulares das principais grifes do mercado no país.
96% dos principais grupos fashion do Brasil não informa ainda o número de trabalhadores com pagamentos atrasados ou contratos suspensos por causa da covid-19.
Mas a falta de transparência não se restringe apenas ao aspecto econômico: 52% não divulgam se tomaram medidas de proteção aos funcionários contra o vírus no local de trabalho, um índice preocupante diante dos riscos de exposição diária durante a crise sanitária.
Apenas 20% também foram claros em relação às políticas de implementação de home office e 30% expuseram como utilizaram o auxílio emergencial fornecido pelo governo às empresas.
Condições de trabalho
Entre outras áreas problemáticas apontadas pelo estudo está o combate ao trabalho análogo a escravo e à desigualdade entre trabalhadores da indústria fashion.
Apenas 10% dos principais nomes no país fornecem informações claras sobre medidas efetivas que tomam para garantir um salário digno para seus funcionários.
Enquanto 16% divulgam programas de desenvolvimento de carreira para mulheres, 12% são transparentes em relação às diferenças salariais entre homens e mulheres dentro da empresa.
Quando o assunto é igualdade racial, as dificuldades são ainda maiores: apenas 6% divulgam orientações sobre programas de estímulo para profissionais negros e nenhuma marca informa as diferenças salariais entre negros e brancos, por exemplo.
No âmbito do combate ao trabalho escravo infantil, o cenário é um pouco melhor: 50% fornecem dados sobre sua política para fornecedores e 38% são transparentes sobre como estas medidas são colocadas em prática.
Meio ambiente
Apenas 32% das marcas que operam no país publicam a pegada de carbono de suas instalações, um valor que mede o impacto no meio ambiente causado pela produção.
Outros 78% não divulgam metas objetivas baseadas em evidências científicas sobre como reduzem a interferência no clima e na biosfera. Mais significativamente, nenhuma das grandes casas de moda do Brasil tem um compromisso público mensurável — ou seja, com dados concretos — em relação ao desmatamento zero.
Só 14% também informam as referências que usam para definir que sua matéria-prima seja sustentável e 18% oferecem novos modelos de negócios para dar longevidade às peças já produzidas e reduzir o consumo de roupas novas.
Performance das grifes
No saldo final de transparência, as empresas que melhor pontuaram foram: C&A (70%), Malwee (66%), Renner (57%), Youcom (57%) e Adidas (53%). Nenhuma, no entanto, se encaixou na faixa que sinaliza clareza sobre suas práticas com o consumidor e com o mercado, isto é, acima de 71%.
Já Besni, Brooksfield, Caedu, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Di Santini, Forum, Kyly, Leader, Lojas Avenida, Lojas Pompeia, Marisol, Moleca, Nike, Sawary e TNG não conquistaram nenhum ponto no quesito.
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