O 'Romero Britto' do Paris 6: grand gâteau desperta reações de amor e ódio
Se o grand gâteau do restaurante Paris 6 fosse uma obra de arte, seria um Romero Britto: é tão cobiçado quanto polêmico. Criado pelo empresário Isaac Azar em 2008, desperta sensações diversas, de "credo" a "que delícia". O mais curioso é que as opiniões têm motivo parecido. É o exagero ou a fartura, depende da boca que come.
Reproduzido por todo o país e inclusive nos Estados Unidos e em Portugal, o doce lembra o petit gâteau pelo nome, mas na composição está mais para um suflê — a base é de ovos, chocolate e manteiga. Ele é assado por pouco tempo para manter o interior cremoso e servido com recheio, cobertura e pedaços de chocolate, castanha, bombom, biscoito ou frutas.
Na finalização, mergulha-se um picolé para fazer o efeito cenográfico de "vulcão", com creme que escorre pelas paredes externas do ramekin. Essa aparência "food porn", divulgada em banners, outdoors e aeroportos, fez da sobremesa um ícone da marca. Isaac diz:
É como se fosse o Paris 6 fosse o parque temático da Disney. E o grand gâteau, nosso Mickey Mouse".
Ao longo de 14 anos, o empresário usou da criatividade para preservar a repercussão do doce. Ele lança edições temporárias para datas especiais e atualiza o menu com frequência.
Das 26 versões presentes no cardápio, a mais pedida chama-se "Paloma Bernardi", com calda de Nutella, morangos, avelãs e leite condensado sobre o bolinho. No total, as 26 unidades da rede expedem 40 mil porções da sobremesa que é batizada com nomes de artistas que vão de cantores gospel a ex-BBB.
Como tem tamanho avantajado e chega a pesar 450 gramas, a sobremesa é dividida entre amigos e casais que frequentam a casa e topam pagar de R$ 52 a R$ 69 por cada unidade.
E não é pouca gente. Aos fins de semana, tem sempre fila nos três endereços de Isaac (todos na Rua Haddock Lobo, nos Jardins, em São Paulo).
Alcance digital
A sobremesa é um prato cheio para as redes sociais. Os 1.4 milhão de seguidores curtem as imagens da pedida junto dos famosos homenageados e fazem do aplicativo um cardápio. "Nosso menu é, sobretudo, o Instagram. Os clientes pedem pela foto".
Ligado no crescimento do TikTok, Isaac investiu na produção de vídeos rápidos para divulgar o seu trabalho. Desde agosto, ele prepara o bolinho no salão, junto dos fregueses, e garante o registro para os posts.
Fale mal ou fale bem, fale do grand gâteau
Se de um lado a guloseima provoca a comoção do público ávido por doces bem doces, por outro, é motivo de deboche entre alguns críticos gastronômicos e parte da alta gastronomia.
Pós-graduado em gastronomia, estudante da Le Cordon Bleu e figura por trás da página "O Crítico Antigourmet", Ian Oliver considera a sobremesa escalafobética. Segundo ele, trata-se de um prato com excesso de açúcar e de ingredientes ultraprocessados que não apresenta contrapontos como acidez. "Do ponto de vista gastronômico, não tem valor".
Falta elegância e complexidade. É difícil comer mais de uma colher".
Danilo Nakamura, formado na área pela Anhembi Morumbi e autor do blog de comida "Le Figado", concorda que o grand gâteau é espalhafatoso e pobre em sabor. "Parece mais uma instalação do que uma comida pensada para ser boa", acredita.
Ele entende, porém, que não é só a técnica que conta para o cliente e sugere uma comparação com música. "A expectativa de uma pessoa não é ver os acordes e as repetições mecânicas da canção. Ela quer ouvir algo divertido, pular e pegar alguém".
Sobre as críticas, Isaac diz que pratos chamativos são malvistos por alguns e que a fartura é intrínseca ao grand gâteau. "Enquanto o crítico vem buscando os detalhes técnicos da comida, o cliente vem buscando a experiência. Ninguém chuta cachorro morto".
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