Chanel desfila rap com lantejoulas em novo prédio na periferia de Paris
A Chanel trouxe ousadia às passarelas com um mix inusitado de moda urbana, referências do rap e alta-costura de detalhes rebuscados em seu "desfile de ouro", o Métiers d'Art, que aconteceu nesta terça (7) em Paris.
Esta foi a estreia das apresentações da maison em seu novo espaço, o prédio le19M, uma espécie de "hub" criativo que reúne todos os ateliês da grife na periferia da capital francesa.
Enquanto bordados em formato de grafites dividiram espaço com os clássicos casaquetos em tweed, plumas e paetês nas criações, fashionistas como Vanessa Paradis, Sofia Coppola e empresários do luxo foram apresentados à região de Porte d'Aubervilliers — mais conhecida "por seus acampamentos de imigrantes ilegais e pelo tráfico de drogas do que pelo brilho e a riqueza da alta-costura", segundo a RFI.
Todos os convidados, aliás, tiveram de apresentar o resultado negativo de um teste PCR realizado no dia anterior para assistir ao desfile, além de apresentar seu passaporte sanitário e usar máscara mesmo no exterior do prédio, de acordo com a agência AFP.
As fachadas ousadas do arquiteto Rudy Ricciotti, que assina o prédio le19M, foram homenageadas com muitas lantejoulas prateadas nas peças do ateliê Montex, que ainda trouxe malhas, cardigãs, corpetes, calças culotte, jaquetas e casacos em tons de malva.
Outras diferenças mais contemporâneas também inspiraram as peças, como os textos dos rappers franceses MC Solaar e Abd al-Malik, presentes no convite, além de escritoras como Sarah Chiche e Anne Berest.
Os clássicos da maison, no entanto, não deixaram de se fazer presentes — como foi o caso das sapatilhas bicolores beges e pretas. Desta vez, elas voltaram acompanhadas de pérolas e combinadas com luvas longas de couro e uma mistura de joias.
"A coleção é muito urbana, mas continua sendo sofisticada, com blusões em tweed com mangas de suéter, bordados lembrando grafite, conjuntos de bermudas amplas de malha e casacos informais usados abertos", comentou Virginie Viard, diretora artística da Chanel, em nota à imprensa.
A importância do Métiers d'Art
Desde 2002, a grife organiza este evento — cujo nome significa "profissões" ou "trabalhos da arte" — e que celebra justamente as criações mais artesanais e luxuosas da moda atual.
O desfile coloca sob os holofotes diretos todos os ateliês que foram parceiros históricos e hoje pertencem à marca, como o famoso Lesage, especializado em bordados, Desrues, cuja especialidade são joias, e Massaro, dedicado a sapatos de alto padrão.
Foi em 1985 que a Chanel iniciou o processo de aquisição dos ateliês na França, Itália, Espanha e Escócia que passavam por problemas financeiros. Hoje, a casa possui 40, que empregam cerca de 6.600 pessoas envolvidas na realização de peças para outras grifes, para a própria Chanel e, mais especificamente, para o Métiers d'Art.
O simbolismo da escolha pelo le19M
Apesar de parecer uma decisão natural, nem sempre Paris acolhe este desfile. A última edição, por exemplo, ocorreu no Château de Chenonceau, no Vale do Loire, interior da França.
No entanto, o prédio le19M é justamente o local que reúne todos os ateliês Chanel desde sua inauguração no fim de 2020. Este desfile seria também seu primeiro grande evento, uma espécie de abertura tardia, após as pausas na construção devido à covid-19.
Com 25.500 metros quadrados, o edifício abriga atualmente cerca de 600 artesãos no 19º distrito parisiense, um dos motivos por trás, aliás, de seu nome.
O número 19 é particularmente significativo para a maison: Gabrielle "Coco" Chanel, sua fundadora, fazia aniversário em 19 de agosto. Uma homenagem anterior a ela justamente com este número, o perfume Chanel nº 19, se mantém firme no portfólio da grife há 40 anos.
Já o M, segundo explicou o presidente da grife Bruno Pavlovsky durante o anúncio das obras do novo prédio em 2019, significa "moda, mão, maison e manufatura", o que refletiria "uma ligação absoluta com estes artesãos".
O retorno do Métiers d'Art à Cidade-Luz e sua estreia na nova casa dessas criações são, como qualificou a revista Vogue Paris, um esforço para celebrar "a pedra fundamental da moda francesa", especialmente após os hiatos e perdas causadas pela pandemia.
*Com informações da AFP e da RFI
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