Filtro de barro: velho conhecido dos brasileiros agora é cultuado no décor
Os filtros de barro têm fama de serem a melhor alternativa para quem gosta de ter água filtrada, fresquinha e livre de impurezas em casa. Apesar de ser um antigo aliado da saúde e ser encontrados em muitas casas brasileiras, agora ele também ganha destaque na decoração de interiores, trazendo aquele ar de aconchego e de memória afetiva. Afinal, quem nunca teve um filtro de barro em casa quando criança?
A designer gráfico Kelly Rhein Gerevini ganhou o seu filtro de barro de amigos e é só elogios. "Antes usamos modelos de jarra com filtro ou até os filtros de parede, mas nenhum parecia que funcionava direito. Ou a água parecia com impurezas ou demorava tanto para sair que ficava pingando", diz.
Como mantém um perfil de decoração no Instagram, o @cenourasfrescas, o apelo estético do filtro também era importante para Kelly.
Ele se encaixou perfeitamente na decoração da casa. Na realidade parece que sempre esteve ali, na bancada da cozinha. Como tudo aqui em casa tem uma história afetiva, ele acabou sendo também, pois ganhamos de amigos que adoramos e temos saudades", completa.
Kelly conta que uma dúvida que sempre surge em seu perfil é com relação à limpeza do filtro e a dica é uma só: "toda semana limpo somente água. Depois seco com um pano novo e é isso. Também deixamos ele em um ponto estratégico, onde tem bastante ventilação, o que ajuda o filtro a não ter bolor", explica.
Referências brasileiras
Na casa da fotógrafa Beatriz Nunes, do perfil @valsadeapartamento, o filtro de barro era um item muito desejado. Não só pela qualidade da água, mas também pela sua brasilidade.
Sempre pensei que minha casa teria esse filtro, pois amo o frescor da água e sabia que iria combinar perfeitamente com a minha decoração afetiva e as referências brasileiras", conta.
"O filtro é lindo, brasileiríssimo e me lembra a infância, tanto na casa dos meus avós quanto na minha era esse que usávamos. Ele se mistura a outros objetos cheios de memória que tenho pela casa", completa.
Beatriz acredita que até o processo de ter que lavar e trocar a vela de tempos em tempos, processo que pode ser considerado trabalhoso por algumas pessoas, tem a sua beleza. "Vale super a pena. É um ritual bonito cuidar da água que se bebe".
Eficiência comprovada
Segundo o professor universitário Júlio Cesar Bellingieri, autor de artigos e livros sobre filtros de barro no Brasil, é comprovado que o filtro é o método mais eficiente que existe para purificar a água.
Eles possuem um sistema de filtragem através das velas com parede microporosa, que reduz impurezas presentes na água.
Dependendo do modelo, as velas também podem conter carvão ativado, que ajuda a reduzir odores, sabores e o teor de cloro. Além disso, elas podem ser revestidas internamente com nanopartículas de prata, que esterilizam e eliminam 99,9% das bactérias presentes na água", explica.
Bellingieri afirma que a temperatura da água oferecida pelos filtros pode ser de até 5°C abaixo da temperatura ambiente, o que garante que esteja sempre fresquinha.
Evitar pinturas
Conforme o especialista, quem quer usar o filtro também como componente da decoração deve usá-lo ao natural, sem pinturas ou desenhos, estética que tem sido popularizada pelas redes sociais.
Não é recomendada nenhuma alteração nos recipientes cerâmicos, pois são materiais delicados. Como a argila é porosa, pode acabar absorvendo as características da tinta ou do verniz, tornando a água inadequada ao consumo.
Se mesmo assim a pessoa desejar mudar a aparência do filtro, poderá utilizar tinta atóxica e a base d'água. Mas, nesse caso, a sugestão é que o filtro permaneça apenas como objeto decorativo", frisa.
Troca de velas e higienização
O professor explica que a vida útil da vela depende da quantidade e da qualidade da água que está sendo filtrada. "Quanto mais água for filtrada e quanto maior for a presença de impurezas/partículas sólidas na água, menor será sua vida útil. O ideal é a troca da vela a cada seis meses. Mas, isto pode variar", diz.
Já a higienização completa (filtro e acessórios), segundo o especialista, deve ser feita semanalmente com uma bucha macia e pano úmido limpo quando necessário.
É preciso limpar única e exclusivamente com água, sem a utilização de qualquer produto químico ou alimentício, pois estes danificam a argila e comprometem a qualidade da água, facilitando a presença de bactérias ou gosto. O filtro também deve ser mantido em lugar arejado e longe da luz solar.
Invenção nacional
Entre o final do século 19 e o início do 20, já havia um mercado de equipamentos domésticos de filtragem de água, feitos de metal ou até mesmo de pedra porosa. Mas, eram importados, caros e usados por uma parcela muito pequena da população.
Bellingieri conta que, a partir da década de 1910, algumas empresas cerâmicas de imigrantes portugueses e italianos, localizadas em algumas cidades do estado de São Paulo, começaram a fabricar velas filtrantes e acoplá-las às talhas de cerâmica que produziam.
Embora já houvesse a fabricação de velas filtrantes em outros países, somente no Brasil esses dois elementos (vela e talha) foram integrados, dando origem a um novo produto, genuinamente brasileiro.
Segundo ele, a necessidade da invenção se deu para tornar próprias para beber as poluídas águas brasileiras daquela época.
A partir da década de 1930, o uso do filtro de barro difundiu-se nas residências brasileiras, ganhando um lugar nobre nas cozinhas, e o produto tornou-se o principal equipamento de filtragem doméstica de água", completa.
Mudança no mercado
A partir da década de 1990 o filtro de barro viu o seu declínio nas residências, com o surgimento de produtos substitutos, como purificadores de água e, principalmente, da água mineral engarrafada (em galões).
"No entanto, a partir dos anos 2010, aconteceu nova mudança nesse mercado. A maior valorização de produtos ecologicamente corretos, a comprovação da qualidade da filtragem por velas e o melhor custo-benefício para a purificação da água, fizeram o filtro de barro voltar a ser procurado, e até mesmo cultuado, por diferentes classes sociais", finaliza.
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