Cannabis para pets: conheça os benefícios e cuidados com este tratamento
Polêmico e longe de ser unanimidade entre veterinários e tutores de pets, o uso medicinal da cannabis já é realidade para tratamentos de dores crônicas, câncer, doenças neurológicas, autoimunes, além de atuar na consolidação óssea em casos pós-cirúrgicos ortopédicos e utilizado também em animais com distúrbios de comportamento.
Quando se fala em cannabis medicinal, na verdade trata-se principalmente das substâncias THC (tetrahidrocanabinol), CBD (canabidiol) e mais de 150 canabinoides já conhecidos.
"Sabemos que todas essas substâncias juntas são muito mais potentes do que somente o canabidiol ou CBD. Então, procuramos sempre usar um óleo de cannabis completo, chamado full spectrum, que contém todos os compostos da planta", diz Fábio M. de San Juan, veterinário conhecido como Doutor Pet Cannabis, pós-graduado em Cannabis Medicinal e pioneiro na pesquisa do tema desde 2008.
O tratamento, que além de cães e gatos também apresenta resultados com animais silvestres como aves, répteis e demais mamíferos, atua no sistema endocanabinoide, existente em todas as espécies animais, inclusive nos humanos, e responsável pela manutenção do equilíbrio fisiológico geral.
Dessa forma, uma rede de substâncias químicas conecta o cérebro e o corpo, regulando funções essenciais como controle da dor, temperatura, estresse e até apetite.
Segundo Sandra Cássia dos Santos Braga, veterinária e mestre em ciências pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zoonoses da USP. todas as espécies respondem bem ao tratamento. O que vai variar é a dose e o intervalo de administração, que devem ser avaliados de forma individual.
Caso de sucesso
Hoje com 9 anos, o cãozinho Rafiki é um exemplo de tratamento bem-sucedido. Diagnosticado com uma neoplasia no fígado, estômago, mesentério e baço, fez uma cirurgia para retirar o baço em 2019, quando tutor e veterinário optaram pelo uso da cannabis.
"Ele retirou o baço e cogitamos a possibilidade de fazer quimioterapia. Mas achamos melhor buscar um tratamento de menor impacto, pensando na qualidade de vida dele", conta o agrônomo e produtor orgânico, Felipe Ferreira Staboli, 34 anos, tutor de Rafiki.
Desde o início do tratamento e também com uma mudança na alimentação do cãozinho, que passou a ingerir apenas comidas naturais, Staboli diz que as melhoras têm sido inúmeras.
Tendo em vista que a estimativa de vida nesses casos é bem pequena, o tratamento com cannabis é um sucesso."
Na opinião do tutor, alimentos industrializados e medicamentos que sugerem melhoras por um lado, acabam prejudicando em outros aspectos.
Cuidados necessários
Assim como qualquer outra terapia, também pode apresentar efeitos colaterais se utilizada em altas e errôneas doses. Entre eles, alterações do sistema nervoso, como problemas na coordenação.
Além disso, não é indicada para animais com alguns tipos de problemas cardíacos nem para os que são polifarmácia, ou seja, que tomam diversos tipos de medicamento.
É preciso que o profissional tenha conhecimento para ter sucesso. É uma terapia muito promissora, mas tem de ter consciência", afirma San Juan.
Sandra diz que a cannabis também é contraindicada para pacientes hipotensos e, por ser metabolizada no fígado, é recomendado que as enzimas hepáticas dos bichinhos sejam monitoradas periodicamente durante o tratamento.
Dependendo do problema, o animal pode manter o uso ao longo da vida. Animais epilépticos, por exemplo, vão tomar a vida inteira.
"O trabalho que fazemos é o de desmamar os alopáticos, já que as medicações podem trazer mais malefícios ao animal a longo prazo. Procuramos manter só o óleo de cannabis", diz a veterinária.
O que permite o tratamento
Apesar de ter a prescrição veterinária vetada por uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2019, uma espécie de brecha legal acaba regulando o trabalho dos profissionais com os animais.
Isso porque, quem regula a profissão é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e quem fiscaliza é o Conselho Federal de Medicina Veterinária. Já o estatuto dos médicos veterinários permite que eles adotem qualquer tratamento que julguem necessário. É aí que mora a tal brecha.
Mesmo ainda sem regulamentação para uso animal e com muito preconceito entre os próprios veterinários, a cannabis medicinal tem sido bastante utilizada há pelo menos três anos no Brasil com relatos de sucesso entre os animais, de acordo com San Juan.
"Já tenho quase 500 casos relatados, dou curso para veterinários aprenderem a usar cannabis em seus pacientes, a prescreverem e acompanharem o tratamento. Já tenho quase 1.200 veterinários certificados pelo curso, aptos a usar a terapia em seus pacientes", diz.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.