Casa de capa de revista? Que nada. A tendência agora é a 'antidecoração'
Você já ouviu falar no conceito "anti-decor" ou "decoração antimetas", do inglês "anti-goals decoration"? Se os termos ainda não soam familiares, pode ser que ao menos as suas filosofias já sejam velhas conhecidas.
Afinal, elas englobam a decoração que é feita aos poucos e que demarca exatamente o que não se quer ter em casa. Quer exemplos? Você pode até não saber exatamente que estilo de decoração deseja explorar, mas se sabe que não quer um ambiente escuro ou com cara de showroom, então o conceito "antimetas" também pode ser seu aliado para decorar. Basta fazer uma lista inicial com alguns tópicos e usá-la como ponto de partida para pensar os seus espaços.
Já o estilo que vem sendo chamado de anti-decor é justamente aquela decoração que, por esbanjar personalidade, não parece ter sido feita por um profissional da área, seja ele arquiteto ou designer de interiores.
Em resumo, é o ambiente decorado que não parece ter sido totalmente calculado e que foca na desconstrução da perfeição. Estes conceitos têm dado mais autonomia para quem quer assumir o protagonismo na hora de decorar o lar e também transformado a forma como profissionais assessoram os seus clientes.
Há quem necessite se adaptar para atender às novas demandas e aqueles que vivem o momento que sempre sonharam, como é o caso da arquiteta Raína de Alencar Menezes (@raina.cria).
Finalmente o mercado começou a exigir dos profissionais mais humanização. Sempre questionei essa visão industrializada da casa no design de interiores, cheia de móveis planejados que reproduzem um padrão muito impessoal"
Para a arquiteta, as redes sociais têm tido um papel importantíssimo para levar informações para os clientes e fazer com que a decoração afetiva, que sempre existiu, ganhe cada vez mais popularidade. "Perfis que dividem processos de decoração, inspirações e DIY colocaram os clientes ainda mais próximos dos projetos e isso é riquíssimo", frisa.
Um movimento em ascensão
Raína acredita que além da informação propagada pelas redes, outros fatores têm sido cruciais para espalhar os conceitos de personalização da decoração, como o contexto social e temporal em que estamos inseridos.
"Depois de décadas sendo bombardeados por publicidade, tendências, fast fashion, globalização e consumo desenfreado, o comportamento naturalmente tende a seguir o sentido oposto", diz.
Estamos começando a questionar nossa forma de consumir, trazendo referências mais simples para o estilo de vida e nos voltando ainda mais para a nossa casa"
O crescimento da "cultura maker" também é apontado pela arquiteta como crucial para alavancar o movimento anti-decor. Para ela, a ideia de que todos são capazes de construir, reparar, fabricar e modificar as coisas ao seu redor também tem influenciado a forma como as pessoas querem ver suas casas decoradas, cada vez com mais autonomia.
O cliente como protagonista
O ponto chave do anti-decor é colocar o próprio morador do espaço como protagonista da sua decoração. Pensando nisso, Raína criou o projeto "A casa é sua", onde as pessoas aprendem a observar o lugar onde vivem, explorar suas potencialidades, dar novos usos ao que estiver fora de contexto, imprimir personalidade e otimizar a qualidade do espaço.
Eu, sinceramente, acho que ninguém precisa de arquiteto para decorar a casa e meus colegas de profissão vão me matar por falar isso. Mas acredito que nossa casa precisa falar sobre a gente, trazer a nossa história"
"Por mais que você tenha contratado o melhor profissional do mundo, ele nunca vai te conhecer tão bem quanto você mesmo", completa.
Referências na decoração parisiense
É seguindo este mesmo raciocínio que a advogada e comunicadora Milena Neves, do perfil @lalarilar, também enxerga este movimento. "Antes de iniciar o processo de decoração de um ambiente, a personalidade, estilo próprio e gostos de quem ali habitará deve ser o gancho principal, e não os modismos", diz Milena.
Ela explica que é preciso que o morador faça uma autoanálise para entender o que ama e que detalhes quer ver ali para trazer paz e aconchego. Neste momento, é hora de pensar também no que não se quer ter em casa de jeito nenhum.
"Este movimento tem suas raízes na arquitetura francesa e parisiense, onde a elegância sempre esteve ligada à desconstrução da perfeição. Por lá acreditam que a maestria de um bom arquiteto é não deixar o ambiente com cara de esforço", diz.
Mostrar esforço (e a perfeição sempre aparenta esforço) é absolutamente cafona aos olhos deles"
O fim das casas de revista?
Apesar de tanto se falar em decoração afetiva, Milena não acredita em uma perda de interesse em projetos impessoais.
"A imensa maioria das pessoas ainda busca a sala com cara de capa de revista, o quarto com cara de loja de móveis e a varanda igual à de seus muitos vizinhos. A verdadeira arquitetura afetiva é uma brava tentativa dos melhores arquitetos e decoradores contra essa armadilha de modismos e 'casas vitrine1 onde o público caiu", declara Milena.
Dicas de Milena para adotar a filosofia anti-decor:
- Abraçar o imperfeito. "A beleza que não é óbvia nem facilmente construída, mas verdadeira e profunda".
- Desconfiar de tendências e modas. "Priorizar o que é atemporal. Entender seus verdadeiros gostos e treinar o olhar com exposições de arte, artesanato, museus, boas revistas de arte. Desenvolver um olhar crítico e perceber o que de estético toca a sua alma".
- Não se prender a um estilo. "Nada de engessar numa decoração minimalista, quando ninguém é de todo minimalista, ou prender-se a uma casa moderna, quando ninguém é de todo moderno. O contraste sempre será a chave da beleza e misturar estilos é um caminho ótimo para a decoração livre e cheia de personalidade".
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