"Jaqueta jeans carrega história de aceitação do meu corpo e maturidade"
Desde criança, tinha muita dificuldade de aceitar meu próprio corpo. Sofria com efeito sanfona e, naquela época, a moda não me ajudava: tudo era pequeno, as calças coladas, com cintura baixa. Tinha preconceito comigo mesma e me maltratava muito por causa de roupas.
Até que, em uma tarde de compras despretensiosa com uma amiga, encontramos essa jaqueta. Ela é de um jeans bem lavado, quase branco, e tem uma modelagem oversized, o que me deixou muito insegura por me dar medo de me fazer parecer maior do que eu era. Mas minha amiga insistiu, e a jaqueta de fato é linda, então acabei levando.
Nunca consegui usar muito a peça, porque ficava noiada. Acabou ficando com minha mãe, que era maior que eu, e eu só usava às vezes. Os anos se passaram e a jaqueta quase não saía do armário. Mas eu não tinha coragem de desfazer, principalmente porque ela me lembrava daquela tarde com minha amiga — pouco depois daquele dia, ela se mudou do Brasil, e desde então raramente tivemos tempo para passar tanto tempo juntas.
Já bem mais adulta e casada, resolvi me mudar de Fortaleza para São Paulo, em busca de novas oportunidades. Foi um grande choque e passei por um perrengue na adaptação do guarda-roupa — eu quase não tinha roupas para frio! No processo, lembrei-me da jaqueta e recuperei-a do guarda-roupa da minha mãe.
A essa altura, ela ganhou outro significado. Eu não era mais a mesma Rafaella na faixa dos 20 anos, cheia de inseguranças. Passei a enxergar a jaqueta como expressão do meu estilo e me senti acolhida pela peça. Decidi que ela iria carregar ainda mais história: como já tinha uns penduricalhos, resolvi colocar nela toda minha coleção de broches e pins. São lembranças de viagens que fiz, heranças da minha mãe ou avó, e presentes.
Quando cheguei a São Paulo, a jaqueta foi um modo de eu me sentir menos sozinha. Não só por ter virado um pequeno relicário da minha vida, mas porque ela curiosamente atraía pessoas para conversarem comigo. Achava legal que pessoas aleatórias puxassem assunto sobre os broches, cheguei a conhecer uma moça por causa de um broche da jaqueta e até hoje trocamos mensagens nas redes sociais! Isso me fez amar a peça ainda mais. E passei a usá-la de todos os jeitos — com t-shirt, macacão, até roupa de festa. Meu único cuidado são as mais delicadas, porque os pins podem estragar o tecido.
Hoje, fiz as pazes com meu corpo e sei que a jaqueta representa essa maturidade. Ela me lembra que precisamos nos arriscar e nos permitir, seja a experimentar uma peça de roupa que nos dá medo ou se jogar em uma vida nova. Se puder ser os dois juntos, então, melhor ainda.
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